Reflexão para o Domingo de Páscoa, 31 de março de 2024

Referente à perícope do Evangelho de Marcos 16, 1-18

O sol de um novo mundo começou a brilhar na manhã da primeira Páscoa. No começo, as mulheres e os discípulos tinham dificuldades de reconhecer esse brilho. Eles estavam presos à tristeza e às preocupações da vida. Aos poucos eles abriram os olhos para a nova realidade.

Temos ainda as mesmas dificuldades. É difícil reconhecer o sol do novo mundo. Muitas vezes estamos presos à tristeza e às preocupações da vida. Não conseguimos abrir os olhos espirituais.

Na Páscoa somos chamados para abrir os olhos para essa nova realidade. Cristo verdadeiramente ressuscitou! Ele ressuscitou para ajudar cada um de nós. Ele abriu para a humanidade um novo caminho pela morte. A cada Páscoa, Cristo deixa brilhar um pouco mais o sol do novo mundo.

Julian Rögge

Reflexão para domingo, 24 de março de 2024

Uma profecia é uma mensagem do mundo espiritual sobre acontecimentos significativos no futuro. Hoje os verdadeiros profetas são raros. Nas culturas antigas, as profecias eram dirigidas a um povo ou a uma comunidade religiosa. Em festas religiosas cultivava-se tanto a memória de grandes acontecimentos do passado como também a expectativa pelos acontecimentos futuros, para os quais se deveria estar preparado.

Já havia quase mil anos que o povo israelita festejava no templo em Jerusalém a festa da Páscoa, em memória ao êxodo, à libertação da escravidão no Egito e com grande esperança pela chegada futura do Messias. Com o Messias chegaria também o reino do céus à terra e na concepção do povo israelita a tão aspirada liberação do domínio romano, de qualquer domínio estrangeiro.

A hora havia chegado para o cumprimento da antiga profecia. No ano 33 da nossa era, no primeiro dia da semana na cidade santa havia um pressentimento no ar. Era como se o sol tivesse sido ofuscado por um outro que ainda invisível se anunciava nos reinos da natureza. Os peregrinos e os habitantes de Jerusalém se surpreenderam quando Jesus pela manhã, montado no burrinho, passou por uma das portas da cidade. Essa semana também viria a ser uma espécie de portal para uma nova era da humanidade. Um júbilo se ergueu de entre os reinos da natureza das pedras, das plantas, dos animais e também da humanidade. Um brilho tênue se espalhou pela cidade, vindo do manso Jesus, do seu interior, de sua determinada intenção pelo mais elevado ato de amor. Era um rei que havia chegado? O reino divino do Eu Sou em Cristo queria se estabelecer na Terra, na alma humana, no coração humano.

No entanto, o drama dessa semana foi que quase ninguém conseguia imaginar o que era necessário para que isso acontecesse. O antigo sol iria escurecer, a terra tremer, o Filho do Homem iria ser traído, condenado à morte na cruz, seu coração iria ser perfurado e o seu sangue ia correr. Quem poderia aguentar ser testemunha desse acontecimento da morte do Filho de Deus na cruz? João, o evangelista, o Lázaro-João, o iniciado pelo Cristo, Maria, Maria Madalena e as outras mulheres e mais tarde Nicodemos e José de Arimateia, que iriam cumprir dignamente o ritual do sepultamento de Jesus. Mas, enfim, no último dia dessa semana, no Sábado de Aleluia, Jesus Cristo, em posse total da sua consciência, vai conseguir descer aos infernos, às camadas mais profundas da Terra para romper as cadeias que prendem a alma humana aos seres adversos, ao seres do mal. Desde então, o Sol de Cristo brilha no interior da Terra, a transformando. Desde então, o Sol de Cristo brilha nos corações daqueles que o seguem para a espiritualização da natureza humana mortal e transitória.

Todo ano, na Semana Santa, seja qual for a crise pessoal ou mundial, podemos ficar consolados porque o Pai enviou seu Filho para nos salvar. Por outro lado, NÓS podemos ativamente vivenciar a dimensão do seu sacrifício em nós mesmos, nos tornarmos verdadeiras testemunhas e, então, seus seguidores, para um dia sermos capazes de realizar o ato de amor, o sacrifício necessário para colaborar com a obra do Pai.

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 17 de março de 2024

Referente ao Evangelho de João 8:1-12 

Ao contemplarmos a imagem vibrante de um prado ensolarado, onde os raios quentes do sol caem em cascata sobre a terra, acendendo um caleidoscópio de cores e dando vida a cada folha de grama e pétala de flor, percebemos como o efeito da luz no florescimento da vida na Terra é palpável e profundo. Do delicado bater das asas das borboletas ao melodioso chilrear dos pássaros, cada criatura desempenha um papel vital na grande tapeçaria da existência, todas conectadas pelo poder vivificante da luz solar. Esse poder criador da luz é o mesmo que no prólogo de João aparece como o verbo divino a partir do qual tudo que existe foi feito. Na alma humana a luz se manifesta de outra forma: o correspondente à luz que nos permite ver as coisas do mundo físico, a luz na alma é o que nos permite conhecer, entender, tornar consciente. Esta luz radiante encontra sua corporificação nos ensinamentos de Jesus, que declara repetidamente: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue nunca andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. Nestas palavras profundas, Jesus convida a humanidade a deleitar-se no brilho da verdade divina e a encontrar consolo na iluminação dos seus ensinamentos. Além disso, no Sermão da Montanha, Jesus estende esta imagem luminosa aos seus discípulos, proclamando: “Vós sois a luz do mundo”. Aqui, Jesus capacita seus seguidores a se tornarem portadores da luz divina, brilhando com compaixão, justiça e amor em um mundo envolto em trevas. O Cristo nos convida a abraçar o esplendor da verdade, a incorporar sua luz e a caminhar como faróis de esperança e iluminação num mundo que anseia pela verdade. Como dizia Thomas Merton en suas “Sementes de contemplação”: “ Cada momento e cada evento da vida de cada homem na terra planta algo em sua alma. Pois assim como o vento carrega milhares de coisas invisíveis e sementes aladas visíveis, assim o fluxo do tempo traz com ele germes de vitalidade espiritual que repousam imperceptivelmente nas mentes e vontades dos homens. A maior parte dessas inúmeras sementes perecem e se perdem, porque os homens não estão preparados para recebê-las: pois sementes como estas não podem surgir em nenhum lugar, exceto no bom solo de liberdade e desejo”. Essas sementes nesse solo da alma só poderão frutificar, se forem iluminadas pela luz divina, gerando sabedoria, discernimento, consciência e consequente ação transformadora no mundo. 

 Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 10 de março

Marc Chagall – A Madona da aldeia (1938–1942)

Referente a perícope do Evangelho de João 8, 46-59

Segundo o prólogo de João, uma das mais elevadas faculdades humanas é ser testemunha da luz! A luz, essa qualidade contida na vida divina e na unidade primordial do logos, antes mesmo que o mundo existisse. Esse testemunho é o que capacita o ser humano a seguir os intuitos divinos para o bem! No entanto, com que sentido podemos vir a ser testemunha do divino? Não somos clarividentes… No passado pudemos contar com os grandes iniciados e os profetas, que puderam receber a revelação divina, ouvir a palavra divina e guiar os seus respectivos povos. Do passado nos alcança a glória de grandes iniciados como Zaratustra na época cultural persa, dos faraós egípcios como o famoso Aquináton, a glória de Abraão, Moisés e Elias no povo israelita. No entanto, a medida que a alma humana foi se individualizando e despertando os sentidos, sobretudo para a realidade física, a humanidade foi perdendo a possibilidade de pelos métodos de iniciação antigos ter experiências no mundo divino. As fontes de luz e vida das antigas iniciações foram se exaurindo. A pobreza espiritual da humanidade foi se alastrando e com isso as doenças e todos tipos de problemas.
A partir de então, não havia mais a autoridade espiritual para orientar os povos. O ser humano, afastado do mundo divino, fica encapsulado em si, fica sujeito ao egoísmo. As leis que regem os povos tentam preservar a sociedade dos abusos do egoísmo e da falta de orientação espiritual. Para tal se iniciam processos para julgar os indivíduos e nesses processos estão envolvidas as testemunhas. Ninguém podia então se apresentar em nenhuma situação como testemunha de si mesmo. Pelo menos duas testemunhas eram necessárias para assegurar a veracidade de um acontecimento ou a legitimação de uma autoridade.
Como representante de toda a humanidade, ninguém viveu tão profundamente a perda das fontes divinas para a renovação da vida como Jesus na sua juventude. Na suas andanças como carpinteiro pôde constatar como mesmo os lugares mais sagrados haviam sido entregues às forças demoníacas. Os povos se encontravam à mercê da atuação maligna dos seres adversos. De uma forma latente, Jesus aspirava intensamente uma reversão dessa calamidade!
Isto aconteceu por uma intervenção divina no batismo do Jordão! O espírito de Cristo desceu e se incarnou em Jesus. Esse é um novo modelo para uma nova iniciação válida para todo o futuro da humanidade! A alma humana se submete a iniciação pela incorporação do espírito de Cristo em si, o Eu Sou da humanidade. Agora o espírito de Cristo na alma vai ser testemunha da luz divina no mundo. Ele está habilitado a ser testemunha autêntica, legítima da atuação e metas divinas. O casamento da alma humana com o espírito de Cristo é o novo órgão do sentido para testemunhar a luz. O Eu Sou de Cristo realiza a vontade do Pai. O Eu Sou de Cristo é completamente isento de qualquer egoísmo e tudo que aspira é para o bem de todas as criaturas, mesmo para o bem de toda a Terra. Não há nenhum novo paradigma para solucionar os imensos problemas da atualidade senão aspirar esse casamento da alma humana com o espírito de Cristo. Esse casamento acontece dentro de si mesmo ou ele pode ser reconhecido em outros seres humanos. Esse casamento fundamenta a formação de comunidades espirituais, que se agregam a seres espirituais. Essa comunhão de almas humanas com seres divinos poderá continuar o processo de reversão da degeneração espiritual da Terra e da humanidade. É a reversão da degeneração para uma elevação, para uma ascensão e uma espiritualização!
Sejamos aqueles que se reúnem para festejar esse casamento, que já está acontecendo e evolvendo na alma humana. Esse festejar – que também celebramos nos sacramentos – vai restaurar as fontes de vida e luz perdidas para um futuro prometedor!

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 3 de março de 2024


Referente à perícope do Evangelho de João 6, 1-15

No dia a dia vivenciamos como o pão nos alimenta. Quando comemos em boa companhia, junto aos nossos entes queridos ou amigos, ficamos ainda mais saciados. Sentimos como o alimento é transformado e enriquecido pela vivência anímica.
Na alimentação das cinco mil pessoas, Cristo uniu suas forças aos alimentos que estavam disponíveis. As pessoas se sentiam plenamente saciadas e ainda sobrou alimento.
No Ato de Consagração do Homem observamos um processo parecido. As substâncias são transformadas durante a celebração pelas forças do Cristo. A atuação humana, orando e sacrificando, une-se a esse processo. Assim, pão e vinho se tornam o alimento sanador para o mundo.

Julian Rögge

Reflexão para domingo, 25 de fevereiro de 2024

Transfiguração de Rafael Sanzio (1483–1520)

Quantas vezes, nas suas peregrinações, o jovem carpinteiro Jesus teve que vivenciar profunda impotência e sofrimento pelo fato de a humanidade, nem mesmo nos altares, conseguir se ligar aos seres divinos, à sua fonte de vida primordial. A humanidade havia sido abandonada às forças demoníacas. Em consequência, muitas doenças de corpo e alma se alastraram rapidamente. Isso também em muitos aspectos resultou no declínio da cultura e da civilização. Essa tendência ainda não foi revertida completamente.

Uma reviravolta, no entanto, aconteceu com o batismo no Jordão. O Espírito de Cristo desceu dos céus e penetrou na natureza terrena de Jesus, o conduziu primeiro ao deserto. Lá, Jesus Cristo vivenciou em si mesmo até que ponto os seres adversários tentavam com suas cadeias aprisionar a humanidade para seus fins. Mas, pela tentação, Cristo aprendeu a reconhecer e vencer o mal na natureza humana. Assim foi transformando e elevando a natureza terrena de Jesus para a salvação da humanidade. A partir deste centro forma-se o círculo de discípulos. O poder transformador e sanador de Cristo começa a se irradiar pela humanidade, pelo mundo.

Jesus Cristo subia frequentemente às montanhas para elevar cada vez mais a sua própria transitória natureza humana. Levava os discípulos como testemunhas dessa transformação. Assim, os seus discípulos se capacitavam a apoiar e cumprir a sua missão. Descendo da montanha, Jesus Cristo continuava sua obra de sacrifício e amor até a realização total de sua missão: a sua morte na cruz e a sua ressurreição.

O que em Jesus Cristo se torna um fato, uma vitória espiritual na Terra – como a transfiguração e mais tarde a ressurreição – vem também enriquecer a natureza espiritual humana com novas qualidades eternas, indispensáveis para o desenvolvimento futuro da humanidade. Do declínio e decadência espiritual abre-se uma nova perspectiva para a prometedora evolução humana. À alma humana é concedida para sempre a condição interior para servir o espírito em liberdade. Essa condição interior para realizar a obra de Deus em liberdade reside no EU SOU. O EU SOU é o Senhor da alma, une as forças da alma para um propósito elevado.

Hoje, as três forças da alma (pensar, sentir e querer) tornaram-se independentes umas das outras, desagregando-se de modo caótico. O que hoje uma pessoa pensa, raramente corresponde às suas ações; seus sentimentos se enrijeceram, tornaram-se indiferentes, sua vontade encontra-se paralisada e impotente. Essa é a causa de muitos males atuais. No entanto, podemos contar com o poder unificador e ordenador do Cristo. Sim, o profundo anseio das três testemunhas da transfiguração foi cumprido. A humanidade construiu três tendas no local onde se manifesta a revelação do Cristo.

Quando realizamos o Ato de Consagração do Homem, elevamos o olhar para o altar e vemos ao fundo a imagem da transfiguração brilhar. Transluzindo através do sacerdote e dos dois ministrantes, vemos o Redentor atuando junto com Moisés e Elias, seus precursores na formação de comunidades espirituais. Tomamos a poção de saúde que harmoniza as forças da nossa alma e lhes confere a paz. No final, quando o sacerdote desce os degraus da altura luminosa do altar, nós o seguimos. Fortalecidos e encorajados por Cristo, continuamos a sua obra redentora na vida quotidiana, no mundo.

Naquela época, Jesus Cristo conseguiu curar um epiléptico quando depois da transfiguração desceu de volta para o sopé da montanha. Até então, todos os intuitos dos discípulos de curar aquele jovem haviam fracassado. Também nós podemos crescer em força e confiança interior pela vivência cúltica do sacrifício de Cristo pela humanidade. Como seus seguidores poderemos de forma cada vez mais eficaz reverter o declínio e decadência da humanidade para a sua ascensão ao espírito. Fortalecidos pelo Cristo podemos encarar o processo da Paixão na humanidade e no destino individual com coragem e confiança.

Helena Otterspeer

Reflexão para domingo, 12 de fevereiro de 2024

Vivem hoje mais de 8 bilhões de pessoas em nosso mundo. A Terra tem recursos suficientes para alimentar todas essas pessoas?

Em primeiro lugar, poderia parecer que se trata aqui de uma questão de vida econômica. Lá se deveria pensar em como resolver o problema. Mas na verdade é também uma questão religiosa.

Os povos antigos viviam com a ideia e o sentimento de que o mundo (ou a natureza ou a mãe Terra ou qualquer outro termo que tenham usado no passado), o mundo ou ambiente em que viviam era capaz de dar às pessoas o que elas precisavam para viver. Os povos antigos entendiam que o alimento que dispunham era uma dádiva dos deuses ou um presente de Deus. O mundo, entendido como reflexo do mundo divino, dava ao ser humano o que ele necessitava para se alimentar.

Era certo também que o ser humano tinha que fazer algo para tanto: sair para caçar ou cultivar sua terra, por exemplo. Mas subsistia a convicção básica de que o que precisávamos provinha da mão de Deus.

Hoje a atitude é em geral a oposta: Os recursos do nosso mundo são limitados e estão se tornando cada vez mais escassos. Como serão distribuídos no futuro? Quem receberá algo e quem não?

Aqui já se manifestam também as questões de poder (sobre os recursos) e as posturas egoístas (sobre a maneira de reparti-los). Tais pensamentos, por si só, começam a gerar incertezas, preocupações e medos.

Como vimos na narrativa do Evangelho de Mateus, esta é a primeira pergunta feita  pelo adversário ao Filho de Deus no deserto. Ele se deixou levar pelo medo? Ele se curvou ao príncipe deste mundo, que queria lhe oferecer o poder para resolver os problemas por métodos e meios que levam em conta em primeira instância as circunstâncias terrestres?

A questão que foi proposta no deserto continua a ser atual. Ela nos é colocada cada vez de novo. Viemos a este mundo para ficarmos presos no medo e na insegurança sobre como ganhar a vida? Ou existe a possibilidade de redescobrirmos a confiança básica nas forças divino-espirituais, para que possamos dizer: O homem não vive apenas do pão do medo ou do pão do egoísmo, mas da confiança de que viemos a este mundo para buscar e reconhecer no mundo estas forças divinas.

Renato Gomes

Pastor da Comunidade de Cristãos em Havelhöhe, Berlim (Alemanha)

Reflexão para domingo, 11 de fevereiro de 2024

Referente à perícope do Evangelho de Lucas 18:18-34

Kierkegaard dizia que a pureza do coração pode ser alcançada quando a pessoa passa a querer uma única coisa: a união com o Pai eterno. A síntese de todos os propósitos numa única direção, num único anelo, elimina a distração, a confusão e o desnorteamento, permitindo ao indivíduo clareza e força em seu caminho de retorno à sua fonte primordial. Ora, esse é exatamente o conselho que Jesus dá ao jovem rico. Este seguia os mandamentos, mas é interessante que os mandamentos citados não mencionam o mais essencial: amar a Deus acima de todas as coisas. 

Jesus percebeu que o que lhe faltava era abandonar seu ídolo maior: o dinheiro, a riqueza, a fama. Essa admoestação não se aplica somente aos ricos de dinheiro. De alguma forma, todos nós somos ricos conforme os ídolos que escolhemos. E nossos tempos nos dão uma profusão de ídolos, a avalanche de informação, de distração. Os meios sofisticados de comunicação, hoje acessível a praticamente todos, ao mesmo tempo em que nos permitem acesso ao que supostamente seria de nosso interesse, cria interesses, desejos e até necessidades, adições. Não se trata de tomar literalmente o conselho: “Vende tudo o que tem”. 

Na verdade, o conselho poderia ser simplificado num chamado a nos darmos conta do que de fato necessitamos e buscarmos no íntimo da alma nosso bem mais precioso: a essência de nós mesmos. Vamos perceber que nossa individualidade sagrada não necessita de todas essas coisas que abundantemente nos cerca, mas necessita, na verdade, que lapidemos nossa vontade para aprender a ver e querer o essencial, sem o qual toda a riqueza do mundo não vale absolutamente nada. 

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 4 de fevereiro de 2024

Referente ao perícope do Evangelho de Mateus 20, 1-16

Todos nós somos chamados para trabalhar no mundo, na vinha do Senhor. Recebemos a chamada em momentos diferentes e o trabalho de cada um tem sua própria duração. Por isso, não nos ajuda nos comparamos com as outras pessoas que trabalham conosco.

No final do dia, no final da vida, cada um recebe o que tinha combinado com o Senhor da vinha antes de ir para o trabalho. Todos receberão o mesmo? Provavelmente não. Ainda menos se olhamos para as realidades do mundo. Cada um recebe o que necessita para continuar o seu caminho. Essas necessidades são diferentes entre as pessoas. Podemos ter a certeza de que recebemos o que precisamos para o nosso caminho de desenvolvimento e para poder continuar a trabalhar na vinha do Senhor.

Julian Rögge

Reflexão para domingo, 7 de janeiro de 2024

Como nos céus acima, assim na Terra! É assim que rezamos o Pai Nosso, tanto sozinhos como juntos em comunidade em cada sacramento! Os sacramentos também se realizam neste sentido: tal como nos céus, assim também na Terra! Para a paz, para a salvação da humanidade e da Terra! Para que o bem se realize se deve achar na Terra o lugar e a hora certa.
Os sábios reis-sacerdotes do Oriente conheciam a escrita das estrelas, podiam deduzir pelos ritmos das estrelas o que iria acontecer em breve na Terra. Eles estavam comprometidos com esta sabedoria das estrelas, que é também a sabedoria da Terra e da humanidade! Eles se puseram a caminho, porque sabiam que os seres humanos foram criados para atuar tanto na Terra como nos céus. Sentiam-se como representantes de toda a humanidade e também do mundo divino, como mediadores destes dois reinos, eram sacerdotes e reis ao mesmo tempo. Eles seriam capazes de reconhecer a criança anunciada, de honrá-la com dignidade. Eles seriam dignos para, em nome de toda a humanidade, acolher a graça da criança divina e, ao mesmo tempo, oferecer o que tinham de melhor e mais sagrado.
Mas o caminho para o lugar anunciado era desafiador. Obstáculos tiveram que ser superados, sombras espessas obscureceram o céu estrelado, e algumas poderosas e impuras almas humanas, mesmo más, não eram dignas desse evento, eram uma grande ameaça para a sagrada criança.
Os reis tiveram que tomar consciência de que a ordem da Terra já não correspondia à ordem cósmico-divina. O rei Herodes, em Jerusalém, não era mais, espiritualmente, um rei legítimo. Ele até queria impedir que a vontade divina fosse realizada na Terra. O que o movia era o medo e o poder que usurpara ilegalmente.
Os três reis-sacerdotes conseguiram novamente encontrar a estrela e entrar na casa onde morava a criança. Imensa alegria se apoderou deles! Ao entrarem na casa, a criança também entrou em seus corações, suas almas vivenciaram e reconheceram a sua própria predestinação, a de dar à luz a criança- espírito. A visão de Maria com o menino correspondia à experiência da própria alma com o nascimento do Cristo em si. Isso preencheu a alma de alegria. O Espírito de Cristo e não mais as estrelas lhes mostraram o caminho certo. Por si mesmo, ainda não totalmente conscientes, eles sonharam que não deveriam retornar para Jerusalém.
A humanidade perdeu a sabedoria cósmica dos antigos reis-sacerdotes, mas agora a alma é o lugar onde a estrela do Cristo deve brilhar. A humanidade como um todo entrou na casa da alma, onde a criança espiritual deve se encontrar. As pessoas tornaram-se personalidades individuais, que cada vez mais foram perdendo seu espírito na materialidade externa.
Densas sombras, guerras, ameaças de líderes humanos ilegítimos obscurecem a Estrela do Cristo. O reino dos céus deveria primeiro se manifestar no interior da alma humana, que dá à luz o Cristo em si. A partir daí, através de pensamentos, palavras e ações humanas superando o mal e transformando o mundo. Desde a ressurreição nascemos na Terra para conseguir encontrar o Cristo. Se o encontrarmos, Ele também encontrará em nós uma morada. É assim que nos tornaremos sacerdotes e reis de uma nova Terra. A nova Terra descerá do céu e brilhará como o Sol e as estrelas. A oração do Pai Nosso se tornará realidade!

Helena Otterspeer