Reflexão para domingo, 21 de abril de 2024

Referente ao Evangelho de João 15, 1-27

À medida que o sol se põe no horizonte, lançando tons dourados sobre a paisagem tranquila, uma videira solitária ergue-se no meio de um vasto pomar. Seus galhos, adornados com cachos de frutas, balançam suavemente com a brisa noturna. Cada cacho de uva, um testemunho das forças invisíveis que atuam dentro da árvore, traz a marca de sua fonte de vida. Na tranquilidade do pomar pode-se sentir mais do que apenas a beleza da natureza; há um sussurro de algo mais profundo, algo eterno. Assim como a videira produz frutos sem esforço, ela também oferece uma metáfora para a condição da alma humana. Pois o ser humano, tal como a videira, encontra o seu verdadeiro propósito e realização não no esforço e no trabalho com as suas próprias forças, mas na entrega ao poder interior de Jesus Cristo. Sem esta ligação divina, os seus esforços são tão fúteis como a madeira e o feno, destinados a serem consumidos pelo fogo. No entanto, no abraço gentil de Cristo, há uma transformação, um derramamento natural de vida que transcende o esforço humano. Assim como a uva não precisa lutar para amadurecer, a alma também encontra sua expressão mais verdadeira quando simplesmente permanece em Cristo. Na tapeçaria do crescimento espiritual, não há espaço para frutos forçados, nem lugar para o esforço artificial que tantas vezes caracteriza a atividade religiosa. Pelo contrário, há um chamado à entrega, à confiança na mão invisível que guia e dirige, à permanência naquele que é a fonte de toda a vida. Nesta união sagrada, a alma encontra a sua expressão mais verdadeira, produzindo frutos que não são produzidos por ela mesma, mas sim pela vida divina que flui através dela. E assim permanece o convite do Cristo: “Permaneça em mim, e eu em você. Assim como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também você, se não permanecer em mim”.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 10 de março

Marc Chagall – A Madona da aldeia (1938–1942)

Referente a perícope do Evangelho de João 8, 46-59

Segundo o prólogo de João, uma das mais elevadas faculdades humanas é ser testemunha da luz! A luz, essa qualidade contida na vida divina e na unidade primordial do logos, antes mesmo que o mundo existisse. Esse testemunho é o que capacita o ser humano a seguir os intuitos divinos para o bem! No entanto, com que sentido podemos vir a ser testemunha do divino? Não somos clarividentes… No passado pudemos contar com os grandes iniciados e os profetas, que puderam receber a revelação divina, ouvir a palavra divina e guiar os seus respectivos povos. Do passado nos alcança a glória de grandes iniciados como Zaratustra na época cultural persa, dos faraós egípcios como o famoso Aquináton, a glória de Abraão, Moisés e Elias no povo israelita. No entanto, a medida que a alma humana foi se individualizando e despertando os sentidos, sobretudo para a realidade física, a humanidade foi perdendo a possibilidade de pelos métodos de iniciação antigos ter experiências no mundo divino. As fontes de luz e vida das antigas iniciações foram se exaurindo. A pobreza espiritual da humanidade foi se alastrando e com isso as doenças e todos tipos de problemas.
A partir de então, não havia mais a autoridade espiritual para orientar os povos. O ser humano, afastado do mundo divino, fica encapsulado em si, fica sujeito ao egoísmo. As leis que regem os povos tentam preservar a sociedade dos abusos do egoísmo e da falta de orientação espiritual. Para tal se iniciam processos para julgar os indivíduos e nesses processos estão envolvidas as testemunhas. Ninguém podia então se apresentar em nenhuma situação como testemunha de si mesmo. Pelo menos duas testemunhas eram necessárias para assegurar a veracidade de um acontecimento ou a legitimação de uma autoridade.
Como representante de toda a humanidade, ninguém viveu tão profundamente a perda das fontes divinas para a renovação da vida como Jesus na sua juventude. Na suas andanças como carpinteiro pôde constatar como mesmo os lugares mais sagrados haviam sido entregues às forças demoníacas. Os povos se encontravam à mercê da atuação maligna dos seres adversos. De uma forma latente, Jesus aspirava intensamente uma reversão dessa calamidade!
Isto aconteceu por uma intervenção divina no batismo do Jordão! O espírito de Cristo desceu e se incarnou em Jesus. Esse é um novo modelo para uma nova iniciação válida para todo o futuro da humanidade! A alma humana se submete a iniciação pela incorporação do espírito de Cristo em si, o Eu Sou da humanidade. Agora o espírito de Cristo na alma vai ser testemunha da luz divina no mundo. Ele está habilitado a ser testemunha autêntica, legítima da atuação e metas divinas. O casamento da alma humana com o espírito de Cristo é o novo órgão do sentido para testemunhar a luz. O Eu Sou de Cristo realiza a vontade do Pai. O Eu Sou de Cristo é completamente isento de qualquer egoísmo e tudo que aspira é para o bem de todas as criaturas, mesmo para o bem de toda a Terra. Não há nenhum novo paradigma para solucionar os imensos problemas da atualidade senão aspirar esse casamento da alma humana com o espírito de Cristo. Esse casamento acontece dentro de si mesmo ou ele pode ser reconhecido em outros seres humanos. Esse casamento fundamenta a formação de comunidades espirituais, que se agregam a seres espirituais. Essa comunhão de almas humanas com seres divinos poderá continuar o processo de reversão da degeneração espiritual da Terra e da humanidade. É a reversão da degeneração para uma elevação, para uma ascensão e uma espiritualização!
Sejamos aqueles que se reúnem para festejar esse casamento, que já está acontecendo e evolvendo na alma humana. Esse festejar – que também celebramos nos sacramentos – vai restaurar as fontes de vida e luz perdidas para um futuro prometedor!

Helena Otterspeer

Reflexão para segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Frade Francke, 1425

Todo ano jorra na noite de Natal a plenitude de vida e luz, que tocou a Terra pela primeira vez na virada dos tempos! Nessa imagem acima do Natal

Primordial, a escuridão da noite, que não revela os seus mistérios aos sentidos humanos, transforma-se em decidida vontade do mundo divino de se revelar à humanidade na Terra. O azul escuro da noite se transforma no vermelho irradiante da manifestação da vontade divina. Em outras palavras, o Pai, através de Maria, envia seu Filho para o lugar de pobreza do espírito, a Terra. Maria, representando idealmente todas as almas humanas, portanto, em sua própria essência completamente devotada ao espírito, torna-se nesse momento um instrumento da vontade divina, irradia a luz divina do seu interior. Seu manto azul escuro cai como um véu, e sua roupa é luz, a luz divina.

A pura criança divina não encontra uma casa, uma morada apropriada para a sua natureza divina. Desde então, cada um de nós pode se esforçar em preparar essa morada no seu coração. Pela ressurreição essa fonte inesgotável do Natal primordial se ligou primeiramente à alma humana nos encontros de Jesus Cristo com os discípulos e mais tarde a todo o planeta Terra pela ascensão do ressuscitado aos céus. Os ciclos de vida da Terra se tornaram os ciclos de vida do Redentor. Sua respiração se tornou o respirar da atmosfera da Terra nas estações do ano. A humanidade vive e respira com e no seu Corpo-Espírito. O primeiro Natal do mundo ficou gravado na Terra e na sua atmosfera e todo ano volta a acontecer.

Outrora a natureza acolheu a vinda da palavra divina primordial no anseio por se liberar da prisão e do peso da matéria pela prometida redenção de toda criatura. Uma luz natalina se espalhou por toda a natureza e os pastores, que conviviam estreitamente com seus ritmos, receberam a mensagem do mundo divino, anunciada pelos anjos. Essa mensagem aqueceu seus corações e eles se puseram a caminho para encontrar a criança divina, a adorarem e oferecer suas dádivas a ela.

Desde então, o coração humano foi se endurecendo cada vez mais com o passar dos séculos e com a ascensão do materialismo. Mas também a mensagem de luz e vida do Evangelho foi tocando vários corações humanos. São esses que permitem que a cada ano novamente aconteça o Natal com a sua promessa da vinda do reino dos céus. O reino dos céus não  se estabelece fora, mas em nós. O despertar da criança espírito na alma humana é o Natal de hoje. O Filho, o Cristo nasce na alma humana e traz sua mensagem de paz para a Terra. O barulho das armas, das catástrofes da natureza, dos prantos dos famintos e infelizes querem abafar essa mensagem. Cada um de nós pode ser um portador da luz e da mensagem de paz do Natal. Ela é o verdadeiro consolo e cura de toda a calamidade atual. Sejamos inabaláveis como o autor e filósofo russo Wladimir Solowiof, que disse:

É verdade que inúmeros pecados e crimes terríveis

Ainda ocorreram desde a virada dos tempos.

Mesmo que a consciência, desde então, teve de nos julgar culpados,

O seu fogo sagrado não pode e não irá mais desaparecer.

Pois não foi em vão que a luminosa noite apareceu,

Em que a criança, a quem os anjos servem,

Nesse mundo nasceu

Do Pai, acima do céu estrelado, seu Filho.

Ainda hoje, o mundo, nas suas profundezas sabe,

Que a fonte da verdade e da vida jorrou completamente;

E também soam em luto, em um campo de escombros

Suas palavras – como sinos – soam alto e claro.

O mundo rejeitou a luz que nele nasceu,

Mas ela brilha na consciência como uma tocha na noite.

O regente deste mundo perdeu a sua vitória,

Derrubado pela força do espírito e não pelo poder externo.

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 5 de novembro

Referente ao Apocalipse 3, 1-6

Na mensagem de hoje do livro do Apocalipse, somos apresentados a uma frase marcante: “Eu conheço suas obras: seu nome é que você está vivo e está morto”. Esta frase tem uma mensagem profunda para nós, uma mensagem sobre nosso modo de vida, de como nos afastamos do mundo espiritual. Ficamos tão focados em nossas vidas ocupadas que esquecemos de refletir sobre nossas ações e seu impacto. A mensagem de Sárdis nos lembra de dar um passo atrás e reavaliar nossas prioridades. Perseguimos coisas superficiais e ficamos presos na agitação da vida. É como viver em um estado de semiconsciência. Mas a mensagem de Sárdis é um chamado para despertar, para se libertar do ciclo de superficialidade e encontrar o verdadeiro significado e propósito.
A mensagem é sobre ir além da mentalidade “olho por olho, dente por dente” e abraçar a paz e a compreensão. Isso se aplica não apenas às nossas vidas pessoais, mas também a questões globais, como as guerras e disputas políticas.
Agora, quem é o anjo a quem esta carta é endereçada? O anjo é o destinatário da mensagem do Cristo. Não necessitamos pensar muito para chegar à conclusão que se trata do “Espírito da Época” em que vivemos: Micael, que nos indica o caminho e nos exorta para que nos preparemos, de modo que no futuro possamos estar entre aqueles que se apresentam ao Cristo de roupas brancas, ou seja, de almas lavadas, unificadas pela dor e pelo despertar da consciência. Mas a ideia mais importante aqui é que o anjo da comunidade nos convide, de braços abertos, a vir a Cristo em Sárdis. O convite é simples: deixe para trás o que dificulta a vida e leva ao desespero e à falta de sentido. Esteja atento, olhe para sua alma e veja o que necessita ser transformado, desperte e olhe para as necessidades dos outros, do mundo. Olhe para o seu tempo, olhe para a sua fonte espiritual, para Deus.
Compartilhe esta mensagem com aqueles que buscam vida, alegria e significado. Deixe-os saber que seus nomes podem ser escritos no livro da vida e falados por Cristo diante de Deus e dos anjos, mas que isso depende de seu autoconhecimento, de sua capacidade de compaixão e de sua livre vontade como força de decisão.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 27. agosto

Referente à perícope do Evangelho de Marcos 7, 31-37

Marcos nos conta, no Evangelho de hoje, de uma pessoa que não ouve nem fala. Suas possibilidades de se ligar com o mundo são reduzidas. Cristo conduz a pessoa para longe da multidão, para curá-la. Ele a leva até si mesma. Nessa solidão, ela tem um encontro íntimo com o Cristo. A pessoa sai desse encontro com as forças renovadas. Ela pode ouvir e falar e, assim, se comunicar.
Para nos ligarmos de uma forma saudável com as outras pessoas, de tempos em tempos precisamos nos voltar para nós mesmos. Precisamos fortalecer o nosso centro. Nesses momentos de solidão, no íntimo do nosso ser, podemos encontrar o Cristo. Isso acontece na essência do nosso eu. Nesse encontro, todo o nosso ser é fortalecido.
Com as forças da nossa individualidade assim renovadas podemos nos abrir novamente para o mundo. Ouvindo e falando renovamos os nossos laços com ele, e encontramos melhor o nosso lugar de atuação.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 4 de junho de 2023

Referente à perícope do Evangelho de João 3, 1-17

Pelo processo natural não podemos nascer de novo durante uma vida terrena. Nascemos, crescemos e faleceremos. Isso é o curso natural da vida.

Podemos nascer de novo? Podemos nascer do alto? Nessas duas formas a fala de Cristo para Nicodemos poderia ser traduzida.

Para essa questão precisamos olhar para os processos da nossa alma e da nossa individualidade. Na nossa vida encontramos momentos de grandes crises, onde não sabemos mais como continuar e ir em frente, onde aparentemente não há um caminho para o futuro. Neles, nós nos sentimos impotentes e sem força para ir em frente. Chegamos a uma vivência de morte.

Ao chegar nesse fundo do poço, uma ajuda inesperada nos surpreenderá. Ela pode vir de outra pessoa ou do mundo ao nosso redor. De repente, a situação que aparentemente não tinha saída, começa a mudar. Começamos a enxergar um novo caminho. Assim nós nos sentimos renascidos. Podemos descobrir atrás dessa ajuda o atuar do mundo espiritual. Pouco a pouco ganharemos confiança no seu atuar em toda nossa vida. Reconheceremos cada vez mais o atuar dos céus na terra e assim nascemos de novo, do alto, pelo Espírito.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 14 de maio de 2023

Reflexão para o domingo, 14 de maio de 2023

Referente à perícope do Evangelho de João 14, 1-16

Quando, na cruz, Jesus Cristo deu seu último suspiro, Deus morreu, a terra estremeceu, o sol escureceu. Deveriam a humanidade e a Terra necessariamente agora perecer? Com certeza não, os sinais deste momento significativo na evolução foram sinais de um nascimento! Algo completamente inédito e novo nasceu na Terra!

No domingo de Páscoa, por Jesus Cristo, por si mesmo, o Eu da humanidade se ergueu do túmulo. O Espírito de Cristo nasceu na Terra. Ele é um novo princípio da vida e da luz na Terra. Ele atua no interior – na alma e no centro da Terra, e no exterior – na cultura e na atmosfera terrestre, em ritmo alternado. Ele vai e seu espírito vem, também alternadamente. Mas este pulsar vivo que envolve o ser humano, depende de cada um. Cristo deve penetrar cada vez mais na alma humana. A alma humana deve, em liberdade, procurar o Cristo.

A alma deve se preparar para o casamento místico, enfeitar-se com os frutos de um conhecimento superior espiritual. Ela deve vestir a veste nupcial branca. Assim ela prepara um espaço onde o Filho pode vir a morar. Deste lugar, do íntimo da alma virá a salvação, a cura, a espiritualização de tudo que é transitório – pela atividade do Eu, que se torna um servidor, um seguidor de Cristo!

A alma vai se transformando, se espiritualizando.

O mundo vai se transformando, se espiritualizando.

Nas palavras de Cristo: “Eu e o Pai somos um!”

Desde a morte de Jesus Cristo na cruz, as trevas continuaram a se espalhar em vários âmbitos da civilização e da alma humana. Ambas estão hoje ameaçadas pelas trevas e forças da morte, pelo materialismo. No entanto, também muita transformação se deu, sem a qual não poderíamos ter recebido a dádiva espiritual dos sacramentos renovados.

Precisamos de muita coragem! De toda a parte da criação ergue-se o apelo:

“Abra a tua alma para o Espírito de Cristo!”

Só assim da queda, da morte e das trevas se erguerão vida e luz!

Isto é hoje o essencial, o imprescindível para a humanidade, para a Terra e todo mundo!

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 2 de abril

Referente ao Evangelho de Mateus 21

A entrada de Jesus em Jerusalém

O acesso à árvore da vida havia sido vedado à humanidade no momento em que Adão e Eva foram expulsos do Paraíso para começar num corpo terreno o seu desenvolvimento com seres espirituais. A Árvore da vida permaneceu sobre a proteção do espírito solar. Por isso o ser humano passou a viver uma parte da sua trajetória na Terra e depois da morte uma parte da sua trajetória nos céus, onde ia de encontro ao espírito solar. Também na Terra o ser humano vive uma parte do dia em vigília e outra parte da noite no sono de volta ao mundo divino. Assim o espírito solar em comunhão com os seres divinos ainda deixavam fluir a vida para o desenvolvimento da humanidade. A árvore da vida foi passo a passo pelo mérito de iniciados se entrelaçando com a árvore do conhecimento do bem e do mal. Suas sementes foram sendo semeadas na humanidade.
Agora chegara a hora em que a árvore da vida não deveria mais ficar protegida por Deus, mas o ser humano mesmo deveria conscientemente ter acesso a essa árvore e poder gozar da vida eterna. A vida eterna compartilhada na comunidade com todos os seres divinos desde os anjos até os querubins e serafins. Estes no entanto tinham se afastado para que nesse momento único da humanidade no coração do homem pudesse ser preparada uma nova morada para a vida, para esses seres. Também na vida pós morte o ser humano não encontrava mais a assistência divina para continuar o seu caminho na Terra.
Um grande desafio chegou para o homem na hora em que estava mais fraco e sem o amparo divino. Foi nesse momento em que Cristo, o Filho de Deus, o Logos se despojou da sua natureza divina para se tornar homem e passar conscientemente pela morte. Deixou descer o seu espírito como uma semente na Terra, para morrer e frutificar.
Jesus Cristo foi crucificado. A cruz em que foi cravado foi, segundo a lenda, feita com a madeira madeira tirada da árvore da vida entrelaçada com a árvore do conhecimento. Assim Ele pôde resgatar a morte como a chance de transformação, de superação para o desenvolvimento do ser humano e ele inicia uma nova e esperançosa jornada para a humanidade, que o pode seguir.
Seu sangue fluiu para dentro da Terra. Agora o espírito do sol vive na Terra com os homens. Os homens que vão se ligando ao Cristo seja na contemplação interior, seja nas celebrações das festas cristãs vão transformando a sua natureza mortal, o seu corpo físico para que um dia sejam espíritos entre outros espíritos, eternamente.

Helena Otterspeer

Reflexão para domingo, 19 de fevereiro de 2023

Referente ao perícope do Evangelho de Mateus 4, 1-11

No Antigo Testamento fala-se pela primeira vez na tentação quando a serpente (Lúcifer) insiste para que Eva coma do fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal.

Eva viu que o fruto era atrativo aos sentidos e o saboreou, entregou-o também a Adão, para que o comesse.

A tentação no Paraíso começa com a atração do ser humano por certo alimento. Um alimento que lhe apetece.

Ao comê-lo seus olhos se abrem, ou seja, os sentidos humanos se direcionam com maior intensidade para a realidade sensorial do mundo.

Se antes Adão e Eva viam diretamente a Deus, depois de haver comido do fruto da árvore do conhecimento, perdem este contato imediato com Ele e precisam deixar o Paraíso.

O fruto da árvore do conhecimento possibilita ao ser humano mergulhar com maior profundidade no seu organismo físico e por conseguinte seus sentidos para o mundo exterior se abrem, ao mesmo tempo que os sentidos para o mundo divino (Paraíso) começam a se fechar.

O impulso para provar da árvore do conhecimento, porém, provém do âmbito inconsciente do sistema digestivo (“o fruto apetitoso, bom para comer”).

Os alimentos que comemos ajudam a unir nosso organismo corpóreo com a própria Terra, nos dão força e disposição. Ao mesmo tempo nos ajudam a estar vigilantes na consciência e ser capazes de usar nossos sentidos para investigar e compreender o mundo que nos rodeia.

Este é o caminho da encarnação do ser humano na Terra. Neste caminho fomos nos afastando cada vez mais dos céus.

Nos afastamos tanto que hoje, na maioria das vezes, não temos dúvidas que somos cidadãos da Terra, mas vivem em nós muitas questões quanto à nossa origem celeste e se um dia retornaremos à pátria divina ou se sucumbiremos, seguindo o mesmo destino da matéria do mundo, que compõe nosso corpo físico.

Para trazer à humanidade uma nova possibilidade de retornar ao mundo celeste, ou à Casa do Pai, como é chamada nos Evangelhos, Cristo veio ao mundo.

Logo após o Batismo no Rio Jordão, Cristo vai ao deserto. Ali ele é tentado.

Nesta cena do Evangelho de Mateus temos uma descrição imaginativa do processo que se repete desde a cena descrita no início do Antigo Testamento.

Cada espírito humano que se encarna, entra numa relação mais profunda com seu organismo corpóreo. Seus sentidos se abrem cada vez mais intensamente para perceber o mundo físico, mas ao mesmo tempo percebe que o seu próprio corpo também reclama por algo que somente se supre por meio do alimento.

A vida no espírito não necessita do alimento terreno. O corpo, porém, precisa dele.

O tentador apelou principalmente ao lado instintivo que o alimento provoca. No princípio, identificado como serpente no Paraíso, ele confundiu Eva e lhe disse que se comesse não sofreria as consequências da encarnação no organismo corpóreo.

Na descrição de Mateus o tentador almeja mais uma vez confundir os âmbitos, pois a partir do instinto da fome, que surge do organismo corpóreo, ele quer direcionar a essência divina de Cristo (“Tu, que és o Filho de Deus”) a identificar-se com a essência terrena (“Transforma estas pedras em pão”).

Cristo tem plena consciência do que está passando e coloca as coisas no seu devido lugar:

“Não só de pão vive o homem” (apenas seu organismo corpóreo),

“mas de toda palavra que provém da boca de Deus” (pois este é o alimento do Espírito).

No Antigo Testamento foi descrito o caminho dos Céus a Terra.

A partir da tentação no deserto, Cristo nos mostra o caminho para reencontrar o acesso ao mundo divino: não permitir que nossa essência divina se confunda com a terrena. Dar ao Espírito o alimento que lhe é necessário.

Então será possível que os seres humanos, pouco a pouco, recomecem a abrir os olhos da alma para enxergar de novo o Paraíso que abandonou há tanto tempo.

Renato Gomes

Reflexão para domingo, 12 de fevereiro de 2023

Referente ao perícope do Evangelho de Lucas 8, 1-16

Um lavrador prepara primeiro a terra. Depois ele tomará todo cuidado para que as valiosas sementes caiam só na terra boa. Ele nunca iria desperdiçá-las na terra não preparada.

O semeador da parábola atua de maneira diferente. Ele deixa cair as sementes em todas as qualidades de terra. Diferente do lavrador, ele aparentemente não se preocupa com o desperdício das sementes. Isso nos mostra uma grade diferencia entre os dois semeadores.

Deus está contando com o fato de que toda a terra pode se transformar. Que a terra ruim, a terra não preparada, pode se converter em terra boa. Ele está prevendo a possibilidade de que nós mesmos preparemos a terra da nossa alma. Temos sempre de novo essa possibilidade. Nunca será tarde demais para essa transformação.

Nossa tarefa é começar a trabalhar e a lavrar nossa alma. Transformar os espinhos das preocupações excessivas e prazeres exagerados. Tirar as pedras do medo e da desconfiança. Através do trabalho de transformar e preparar a nossa alma receberemos cada vez melhor as sementes, a palavra de Deus.

Julian Rögge