Reflexão para domingo, 21 de abril de 2024

Referente ao Evangelho de João 15, 1-27

À medida que o sol se põe no horizonte, lançando tons dourados sobre a paisagem tranquila, uma videira solitária ergue-se no meio de um vasto pomar. Seus galhos, adornados com cachos de frutas, balançam suavemente com a brisa noturna. Cada cacho de uva, um testemunho das forças invisíveis que atuam dentro da árvore, traz a marca de sua fonte de vida. Na tranquilidade do pomar pode-se sentir mais do que apenas a beleza da natureza; há um sussurro de algo mais profundo, algo eterno. Assim como a videira produz frutos sem esforço, ela também oferece uma metáfora para a condição da alma humana. Pois o ser humano, tal como a videira, encontra o seu verdadeiro propósito e realização não no esforço e no trabalho com as suas próprias forças, mas na entrega ao poder interior de Jesus Cristo. Sem esta ligação divina, os seus esforços são tão fúteis como a madeira e o feno, destinados a serem consumidos pelo fogo. No entanto, no abraço gentil de Cristo, há uma transformação, um derramamento natural de vida que transcende o esforço humano. Assim como a uva não precisa lutar para amadurecer, a alma também encontra sua expressão mais verdadeira quando simplesmente permanece em Cristo. Na tapeçaria do crescimento espiritual, não há espaço para frutos forçados, nem lugar para o esforço artificial que tantas vezes caracteriza a atividade religiosa. Pelo contrário, há um chamado à entrega, à confiança na mão invisível que guia e dirige, à permanência naquele que é a fonte de toda a vida. Nesta união sagrada, a alma encontra a sua expressão mais verdadeira, produzindo frutos que não são produzidos por ela mesma, mas sim pela vida divina que flui através dela. E assim permanece o convite do Cristo: “Permaneça em mim, e eu em você. Assim como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também você, se não permanecer em mim”.

Carlos Maranhão

Reflexão para domingo, 14 de abril de 2024

O bom pastor – Mosaico de Mausoléu em Ravena – Itália

Nos ritmos de sono e vigília, de atividade e descanso, alternam-se as fases de vida contemplativa e ativa da alma humana. Esse ritmo está fundamentado na própria natureza corporal humana, mas pode ser influenciado de acordo com uma cultura específica, uma vida religiosa específica. Do equilíbrio sadio desse ritmo vai depender não só a saúde física e psíquica, mas também a saúde do organismo social, o equilíbrio ambiental.

Uma profunda sabedoria vive em muitas correntes espirituais que reconhecem: o estado interior da alma humana, sua harmonia, equilíbrio, luz e virtudes ou a ausência delas se refletem, se espelham no âmbito social externo, nas instituições jurídicas, na relação entre as nações e mesmo no equilíbrio climático da natureza. Eremitas se retiram na convicção de que se dedicando ao aperfeiçoamento interior podem contribuir significativamente para a promoção do bem na humanidade e na Terra. Efetivamente há exemplos disso.

Na verdade, existe uma porta que ao mesmo tempo regula esse relacionamento intrínseco entre esses dois âmbitos – o do íntimo da alma humana e o do mundo – e também permite que cada um deles seja preservado. Quem abre essa porta, em que momento e com qual motivação? Isso vai determinar se isso será feito para o bem ou para o mal.

O bom pastor recolhe no momento adequado suas ovelhas para o descanso num lugar protegido e as conduz para fora para as relvas verdes e as fontes puras. Ele conhece suas ovelhas e sabe do que necessitam em ambos âmbitos. Elas por sua vez reconhecem sua voz e o seguem para o mundo.

Quem conhece melhor o mundo do que o Verbo Criador? Quem conhece melhor a natureza humana do que a palavra divina que se encarnou em Jesus? Ele veio a se confrontar com os seres adversos que estão sempre aspirando a se servir do ser humano para seus fins, veio a conhecer todo tipo de doenças que assolam a humanidade, todo tipo de sentimentos e pensamentos da alma humana, enfim os extremos da decadência da civilização humana. Ele proferiu as palavras de cura, de paz, de perdão, de esperança! Ele conhece as puras fontes de vida espirituais que se abrem na relação da alma humana com o Cristo e com o Pai divino.

Hoje vivemos uma época em que o despertar e o desenvolvimento do Eu na alma humana traz grandes desafios. Sem uma condução espiritual, o Eu se transformará no Ego, no egoísmo desenfreado que minará consecutivamente a alma, então a humanidade e enfim toda a vida na Terra. No entanto, o sol do Cristo brilha no horizonte. À luz desse sol podem se encontrar e conviver todos os Eus individuais, que então se reúnem em comunidades espirituais para atuar no mundo. O Eu do Cristo, o Espírito do Cristo é grande, abarca em si todos os Eus individuais. Seguir o Cristo e servir à obra do Pai nos conduz às fontes puras da água da vida. Ele é o bom pastor. Nos cabe ouvir suas palavras, conhecer cada vez melhor a sua voz e passar pela porta, quando Ele a abriu! Na oração se pode fazer ecoar a sua voz dentro da alma! Na procura do conhecimento superior pode-se vislumbrar os seus caminhos. Então o próprio Eu viverá no Eu do Cristo. Então haverá paz e vida eterna!

O mundo todo estará reunido numa comunidade de vida!

Helena Otterspeer

Reflexão para o Domingo, 7 de abril de 2024

Referente à perícope do Evangelho de João 20, 19-29

Tomé é aquele que quer ver, quer tocar, somente assim ele consegue ter a certeza de que o Ressuscitado é “real” e não o fruto de uma ilusão subjetiva de seus amigos…

Tomé não é muito diferente do ser humano moderno, pois como ele queremos apoiar nossas experiências e vivências naquilo que nos dão os órgãos sensoriais: naquilo que vemos, que ouvimos, que tocamos, que sentimos o perfume ou o gosto…

Segundo o relato do Evangelho de João, Cristo exorta Tomé a se aproximar para tocá-lo. “Meu Senhor e meu Deus!” – exclama Tomé. Com certeza, uma experiência profunda e incomum, pois como seria tocar o
“divino”?

Há algum tempo foram se introduzindo em nosso cotidiano os modernos aparelhos de comunicação e através de uma tecnologia espetacular, com simples toques de dedo, conseguimos abrir imagens, escrever mensagens, tirar fotos e muito mais. Algo impensável há algumas gerações, tais aparelhos não
são, há muito, exclusividade dos adultos, tornaram-se ferramenta e brinquedo de jovens e crianças, estão em todos os lugares…

O que tocamos aqui? O que colocamos em evidência? O que vemos?

De um modo geral, podemos chamar tudo isto de mundo virtual. Em contraposição ao que é real, o que se descortina através destas tecnologias pertence ao âmbito artificial, pois as formas e cores não são de fato uma janela para algo existente em si, apenas uma imagem cujo objeto real encontra-se em outro lugar (embora tenhamos também que levar em conta que cada vez mais nesse mundo virtual temos que nos perguntar se o que se apresenta ao toque de dedo, de fato, é imagem de algo existente ou uma pura invenção tecnológica, sem nenhuma relação com a realidade, muitas vezes sem conexão com a veracidade dos fatos).

Hoje vivenciamos algo que de certo modo se contrapõe à experiência de Tomé: tocamos algo real – a tela, a superfície do aparelho – e percebemos depois algo virtual, muitas vezes ilusório. Contudo, a questão do discípulo permanece: como é possível “tocar” algo sutil, imaterial e então ter a experiência de perceber que a essência do que “tocamos” é real? Damo-nos por satisfeitos com a realidade virtual que cada vez mais cresce à nossa volta? Se respondemos que sim, então não precisamos nos ocupar da questão de Tomé.

Ou nos perguntamos, quais outros sentidos, quais outras habilidades temos que desenvolver para, como Tomé, poder tocar e reconhecer a manifestação do Espírito, mas não como algo ilusório ou puramente subjetivo.

Viver com esta questão, é um desafio para todos nós. E tudo que pudermos aprender e experimentar nessa direção, nos ajudará a perceber o que subjaz na força real do Cristo Ressuscitado que emana para a vida do mundo.

Renato Gomes

Reflexão para o Domingo de Páscoa, 31 de março de 2024

Referente à perícope do Evangelho de Marcos 16, 1-18

O sol de um novo mundo começou a brilhar na manhã da primeira Páscoa. No começo, as mulheres e os discípulos tinham dificuldades de reconhecer esse brilho. Eles estavam presos à tristeza e às preocupações da vida. Aos poucos eles abriram os olhos para a nova realidade.

Temos ainda as mesmas dificuldades. É difícil reconhecer o sol do novo mundo. Muitas vezes estamos presos à tristeza e às preocupações da vida. Não conseguimos abrir os olhos espirituais.

Na Páscoa somos chamados para abrir os olhos para essa nova realidade. Cristo verdadeiramente ressuscitou! Ele ressuscitou para ajudar cada um de nós. Ele abriu para a humanidade um novo caminho pela morte. A cada Páscoa, Cristo deixa brilhar um pouco mais o sol do novo mundo.

Julian Rögge

Reflexão para domingo, 24 de março de 2024

Uma profecia é uma mensagem do mundo espiritual sobre acontecimentos significativos no futuro. Hoje os verdadeiros profetas são raros. Nas culturas antigas, as profecias eram dirigidas a um povo ou a uma comunidade religiosa. Em festas religiosas cultivava-se tanto a memória de grandes acontecimentos do passado como também a expectativa pelos acontecimentos futuros, para os quais se deveria estar preparado.

Já havia quase mil anos que o povo israelita festejava no templo em Jerusalém a festa da Páscoa, em memória ao êxodo, à libertação da escravidão no Egito e com grande esperança pela chegada futura do Messias. Com o Messias chegaria também o reino do céus à terra e na concepção do povo israelita a tão aspirada liberação do domínio romano, de qualquer domínio estrangeiro.

A hora havia chegado para o cumprimento da antiga profecia. No ano 33 da nossa era, no primeiro dia da semana na cidade santa havia um pressentimento no ar. Era como se o sol tivesse sido ofuscado por um outro que ainda invisível se anunciava nos reinos da natureza. Os peregrinos e os habitantes de Jerusalém se surpreenderam quando Jesus pela manhã, montado no burrinho, passou por uma das portas da cidade. Essa semana também viria a ser uma espécie de portal para uma nova era da humanidade. Um júbilo se ergueu de entre os reinos da natureza das pedras, das plantas, dos animais e também da humanidade. Um brilho tênue se espalhou pela cidade, vindo do manso Jesus, do seu interior, de sua determinada intenção pelo mais elevado ato de amor. Era um rei que havia chegado? O reino divino do Eu Sou em Cristo queria se estabelecer na Terra, na alma humana, no coração humano.

No entanto, o drama dessa semana foi que quase ninguém conseguia imaginar o que era necessário para que isso acontecesse. O antigo sol iria escurecer, a terra tremer, o Filho do Homem iria ser traído, condenado à morte na cruz, seu coração iria ser perfurado e o seu sangue ia correr. Quem poderia aguentar ser testemunha desse acontecimento da morte do Filho de Deus na cruz? João, o evangelista, o Lázaro-João, o iniciado pelo Cristo, Maria, Maria Madalena e as outras mulheres e mais tarde Nicodemos e José de Arimateia, que iriam cumprir dignamente o ritual do sepultamento de Jesus. Mas, enfim, no último dia dessa semana, no Sábado de Aleluia, Jesus Cristo, em posse total da sua consciência, vai conseguir descer aos infernos, às camadas mais profundas da Terra para romper as cadeias que prendem a alma humana aos seres adversos, ao seres do mal. Desde então, o Sol de Cristo brilha no interior da Terra, a transformando. Desde então, o Sol de Cristo brilha nos corações daqueles que o seguem para a espiritualização da natureza humana mortal e transitória.

Todo ano, na Semana Santa, seja qual for a crise pessoal ou mundial, podemos ficar consolados porque o Pai enviou seu Filho para nos salvar. Por outro lado, NÓS podemos ativamente vivenciar a dimensão do seu sacrifício em nós mesmos, nos tornarmos verdadeiras testemunhas e, então, seus seguidores, para um dia sermos capazes de realizar o ato de amor, o sacrifício necessário para colaborar com a obra do Pai.

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 17 de março de 2024

Referente ao Evangelho de João 8:1-12 

Ao contemplarmos a imagem vibrante de um prado ensolarado, onde os raios quentes do sol caem em cascata sobre a terra, acendendo um caleidoscópio de cores e dando vida a cada folha de grama e pétala de flor, percebemos como o efeito da luz no florescimento da vida na Terra é palpável e profundo. Do delicado bater das asas das borboletas ao melodioso chilrear dos pássaros, cada criatura desempenha um papel vital na grande tapeçaria da existência, todas conectadas pelo poder vivificante da luz solar. Esse poder criador da luz é o mesmo que no prólogo de João aparece como o verbo divino a partir do qual tudo que existe foi feito. Na alma humana a luz se manifesta de outra forma: o correspondente à luz que nos permite ver as coisas do mundo físico, a luz na alma é o que nos permite conhecer, entender, tornar consciente. Esta luz radiante encontra sua corporificação nos ensinamentos de Jesus, que declara repetidamente: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue nunca andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. Nestas palavras profundas, Jesus convida a humanidade a deleitar-se no brilho da verdade divina e a encontrar consolo na iluminação dos seus ensinamentos. Além disso, no Sermão da Montanha, Jesus estende esta imagem luminosa aos seus discípulos, proclamando: “Vós sois a luz do mundo”. Aqui, Jesus capacita seus seguidores a se tornarem portadores da luz divina, brilhando com compaixão, justiça e amor em um mundo envolto em trevas. O Cristo nos convida a abraçar o esplendor da verdade, a incorporar sua luz e a caminhar como faróis de esperança e iluminação num mundo que anseia pela verdade. Como dizia Thomas Merton en suas “Sementes de contemplação”: “ Cada momento e cada evento da vida de cada homem na terra planta algo em sua alma. Pois assim como o vento carrega milhares de coisas invisíveis e sementes aladas visíveis, assim o fluxo do tempo traz com ele germes de vitalidade espiritual que repousam imperceptivelmente nas mentes e vontades dos homens. A maior parte dessas inúmeras sementes perecem e se perdem, porque os homens não estão preparados para recebê-las: pois sementes como estas não podem surgir em nenhum lugar, exceto no bom solo de liberdade e desejo”. Essas sementes nesse solo da alma só poderão frutificar, se forem iluminadas pela luz divina, gerando sabedoria, discernimento, consciência e consequente ação transformadora no mundo. 

 Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 10 de março

Marc Chagall – A Madona da aldeia (1938–1942)

Referente a perícope do Evangelho de João 8, 46-59

Segundo o prólogo de João, uma das mais elevadas faculdades humanas é ser testemunha da luz! A luz, essa qualidade contida na vida divina e na unidade primordial do logos, antes mesmo que o mundo existisse. Esse testemunho é o que capacita o ser humano a seguir os intuitos divinos para o bem! No entanto, com que sentido podemos vir a ser testemunha do divino? Não somos clarividentes… No passado pudemos contar com os grandes iniciados e os profetas, que puderam receber a revelação divina, ouvir a palavra divina e guiar os seus respectivos povos. Do passado nos alcança a glória de grandes iniciados como Zaratustra na época cultural persa, dos faraós egípcios como o famoso Aquináton, a glória de Abraão, Moisés e Elias no povo israelita. No entanto, a medida que a alma humana foi se individualizando e despertando os sentidos, sobretudo para a realidade física, a humanidade foi perdendo a possibilidade de pelos métodos de iniciação antigos ter experiências no mundo divino. As fontes de luz e vida das antigas iniciações foram se exaurindo. A pobreza espiritual da humanidade foi se alastrando e com isso as doenças e todos tipos de problemas.
A partir de então, não havia mais a autoridade espiritual para orientar os povos. O ser humano, afastado do mundo divino, fica encapsulado em si, fica sujeito ao egoísmo. As leis que regem os povos tentam preservar a sociedade dos abusos do egoísmo e da falta de orientação espiritual. Para tal se iniciam processos para julgar os indivíduos e nesses processos estão envolvidas as testemunhas. Ninguém podia então se apresentar em nenhuma situação como testemunha de si mesmo. Pelo menos duas testemunhas eram necessárias para assegurar a veracidade de um acontecimento ou a legitimação de uma autoridade.
Como representante de toda a humanidade, ninguém viveu tão profundamente a perda das fontes divinas para a renovação da vida como Jesus na sua juventude. Na suas andanças como carpinteiro pôde constatar como mesmo os lugares mais sagrados haviam sido entregues às forças demoníacas. Os povos se encontravam à mercê da atuação maligna dos seres adversos. De uma forma latente, Jesus aspirava intensamente uma reversão dessa calamidade!
Isto aconteceu por uma intervenção divina no batismo do Jordão! O espírito de Cristo desceu e se incarnou em Jesus. Esse é um novo modelo para uma nova iniciação válida para todo o futuro da humanidade! A alma humana se submete a iniciação pela incorporação do espírito de Cristo em si, o Eu Sou da humanidade. Agora o espírito de Cristo na alma vai ser testemunha da luz divina no mundo. Ele está habilitado a ser testemunha autêntica, legítima da atuação e metas divinas. O casamento da alma humana com o espírito de Cristo é o novo órgão do sentido para testemunhar a luz. O Eu Sou de Cristo realiza a vontade do Pai. O Eu Sou de Cristo é completamente isento de qualquer egoísmo e tudo que aspira é para o bem de todas as criaturas, mesmo para o bem de toda a Terra. Não há nenhum novo paradigma para solucionar os imensos problemas da atualidade senão aspirar esse casamento da alma humana com o espírito de Cristo. Esse casamento acontece dentro de si mesmo ou ele pode ser reconhecido em outros seres humanos. Esse casamento fundamenta a formação de comunidades espirituais, que se agregam a seres espirituais. Essa comunhão de almas humanas com seres divinos poderá continuar o processo de reversão da degeneração espiritual da Terra e da humanidade. É a reversão da degeneração para uma elevação, para uma ascensão e uma espiritualização!
Sejamos aqueles que se reúnem para festejar esse casamento, que já está acontecendo e evolvendo na alma humana. Esse festejar – que também celebramos nos sacramentos – vai restaurar as fontes de vida e luz perdidas para um futuro prometedor!

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 3 de março de 2024


Referente à perícope do Evangelho de João 6, 1-15

No dia a dia vivenciamos como o pão nos alimenta. Quando comemos em boa companhia, junto aos nossos entes queridos ou amigos, ficamos ainda mais saciados. Sentimos como o alimento é transformado e enriquecido pela vivência anímica.
Na alimentação das cinco mil pessoas, Cristo uniu suas forças aos alimentos que estavam disponíveis. As pessoas se sentiam plenamente saciadas e ainda sobrou alimento.
No Ato de Consagração do Homem observamos um processo parecido. As substâncias são transformadas durante a celebração pelas forças do Cristo. A atuação humana, orando e sacrificando, une-se a esse processo. Assim, pão e vinho se tornam o alimento sanador para o mundo.

Julian Rögge

Reflexão para domingo, 25 de fevereiro de 2024

Transfiguração de Rafael Sanzio (1483–1520)

Quantas vezes, nas suas peregrinações, o jovem carpinteiro Jesus teve que vivenciar profunda impotência e sofrimento pelo fato de a humanidade, nem mesmo nos altares, conseguir se ligar aos seres divinos, à sua fonte de vida primordial. A humanidade havia sido abandonada às forças demoníacas. Em consequência, muitas doenças de corpo e alma se alastraram rapidamente. Isso também em muitos aspectos resultou no declínio da cultura e da civilização. Essa tendência ainda não foi revertida completamente.

Uma reviravolta, no entanto, aconteceu com o batismo no Jordão. O Espírito de Cristo desceu dos céus e penetrou na natureza terrena de Jesus, o conduziu primeiro ao deserto. Lá, Jesus Cristo vivenciou em si mesmo até que ponto os seres adversários tentavam com suas cadeias aprisionar a humanidade para seus fins. Mas, pela tentação, Cristo aprendeu a reconhecer e vencer o mal na natureza humana. Assim foi transformando e elevando a natureza terrena de Jesus para a salvação da humanidade. A partir deste centro forma-se o círculo de discípulos. O poder transformador e sanador de Cristo começa a se irradiar pela humanidade, pelo mundo.

Jesus Cristo subia frequentemente às montanhas para elevar cada vez mais a sua própria transitória natureza humana. Levava os discípulos como testemunhas dessa transformação. Assim, os seus discípulos se capacitavam a apoiar e cumprir a sua missão. Descendo da montanha, Jesus Cristo continuava sua obra de sacrifício e amor até a realização total de sua missão: a sua morte na cruz e a sua ressurreição.

O que em Jesus Cristo se torna um fato, uma vitória espiritual na Terra – como a transfiguração e mais tarde a ressurreição – vem também enriquecer a natureza espiritual humana com novas qualidades eternas, indispensáveis para o desenvolvimento futuro da humanidade. Do declínio e decadência espiritual abre-se uma nova perspectiva para a prometedora evolução humana. À alma humana é concedida para sempre a condição interior para servir o espírito em liberdade. Essa condição interior para realizar a obra de Deus em liberdade reside no EU SOU. O EU SOU é o Senhor da alma, une as forças da alma para um propósito elevado.

Hoje, as três forças da alma (pensar, sentir e querer) tornaram-se independentes umas das outras, desagregando-se de modo caótico. O que hoje uma pessoa pensa, raramente corresponde às suas ações; seus sentimentos se enrijeceram, tornaram-se indiferentes, sua vontade encontra-se paralisada e impotente. Essa é a causa de muitos males atuais. No entanto, podemos contar com o poder unificador e ordenador do Cristo. Sim, o profundo anseio das três testemunhas da transfiguração foi cumprido. A humanidade construiu três tendas no local onde se manifesta a revelação do Cristo.

Quando realizamos o Ato de Consagração do Homem, elevamos o olhar para o altar e vemos ao fundo a imagem da transfiguração brilhar. Transluzindo através do sacerdote e dos dois ministrantes, vemos o Redentor atuando junto com Moisés e Elias, seus precursores na formação de comunidades espirituais. Tomamos a poção de saúde que harmoniza as forças da nossa alma e lhes confere a paz. No final, quando o sacerdote desce os degraus da altura luminosa do altar, nós o seguimos. Fortalecidos e encorajados por Cristo, continuamos a sua obra redentora na vida quotidiana, no mundo.

Naquela época, Jesus Cristo conseguiu curar um epiléptico quando depois da transfiguração desceu de volta para o sopé da montanha. Até então, todos os intuitos dos discípulos de curar aquele jovem haviam fracassado. Também nós podemos crescer em força e confiança interior pela vivência cúltica do sacrifício de Cristo pela humanidade. Como seus seguidores poderemos de forma cada vez mais eficaz reverter o declínio e decadência da humanidade para a sua ascensão ao espírito. Fortalecidos pelo Cristo podemos encarar o processo da Paixão na humanidade e no destino individual com coragem e confiança.

Helena Otterspeer

Reflexão para domingo, 12 de fevereiro de 2024

Vivem hoje mais de 8 bilhões de pessoas em nosso mundo. A Terra tem recursos suficientes para alimentar todas essas pessoas?

Em primeiro lugar, poderia parecer que se trata aqui de uma questão de vida econômica. Lá se deveria pensar em como resolver o problema. Mas na verdade é também uma questão religiosa.

Os povos antigos viviam com a ideia e o sentimento de que o mundo (ou a natureza ou a mãe Terra ou qualquer outro termo que tenham usado no passado), o mundo ou ambiente em que viviam era capaz de dar às pessoas o que elas precisavam para viver. Os povos antigos entendiam que o alimento que dispunham era uma dádiva dos deuses ou um presente de Deus. O mundo, entendido como reflexo do mundo divino, dava ao ser humano o que ele necessitava para se alimentar.

Era certo também que o ser humano tinha que fazer algo para tanto: sair para caçar ou cultivar sua terra, por exemplo. Mas subsistia a convicção básica de que o que precisávamos provinha da mão de Deus.

Hoje a atitude é em geral a oposta: Os recursos do nosso mundo são limitados e estão se tornando cada vez mais escassos. Como serão distribuídos no futuro? Quem receberá algo e quem não?

Aqui já se manifestam também as questões de poder (sobre os recursos) e as posturas egoístas (sobre a maneira de reparti-los). Tais pensamentos, por si só, começam a gerar incertezas, preocupações e medos.

Como vimos na narrativa do Evangelho de Mateus, esta é a primeira pergunta feita  pelo adversário ao Filho de Deus no deserto. Ele se deixou levar pelo medo? Ele se curvou ao príncipe deste mundo, que queria lhe oferecer o poder para resolver os problemas por métodos e meios que levam em conta em primeira instância as circunstâncias terrestres?

A questão que foi proposta no deserto continua a ser atual. Ela nos é colocada cada vez de novo. Viemos a este mundo para ficarmos presos no medo e na insegurança sobre como ganhar a vida? Ou existe a possibilidade de redescobrirmos a confiança básica nas forças divino-espirituais, para que possamos dizer: O homem não vive apenas do pão do medo ou do pão do egoísmo, mas da confiança de que viemos a este mundo para buscar e reconhecer no mundo estas forças divinas.

Renato Gomes

Pastor da Comunidade de Cristãos em Havelhöhe, Berlim (Alemanha)