Reflexão para domingo, 25 de fevereiro de 2024

Transfiguração de Rafael Sanzio (1483–1520)

Quantas vezes, nas suas peregrinações, o jovem carpinteiro Jesus teve que vivenciar profunda impotência e sofrimento pelo fato de a humanidade, nem mesmo nos altares, conseguir se ligar aos seres divinos, à sua fonte de vida primordial. A humanidade havia sido abandonada às forças demoníacas. Em consequência, muitas doenças de corpo e alma se alastraram rapidamente. Isso também em muitos aspectos resultou no declínio da cultura e da civilização. Essa tendência ainda não foi revertida completamente.

Uma reviravolta, no entanto, aconteceu com o batismo no Jordão. O Espírito de Cristo desceu dos céus e penetrou na natureza terrena de Jesus, o conduziu primeiro ao deserto. Lá, Jesus Cristo vivenciou em si mesmo até que ponto os seres adversários tentavam com suas cadeias aprisionar a humanidade para seus fins. Mas, pela tentação, Cristo aprendeu a reconhecer e vencer o mal na natureza humana. Assim foi transformando e elevando a natureza terrena de Jesus para a salvação da humanidade. A partir deste centro forma-se o círculo de discípulos. O poder transformador e sanador de Cristo começa a se irradiar pela humanidade, pelo mundo.

Jesus Cristo subia frequentemente às montanhas para elevar cada vez mais a sua própria transitória natureza humana. Levava os discípulos como testemunhas dessa transformação. Assim, os seus discípulos se capacitavam a apoiar e cumprir a sua missão. Descendo da montanha, Jesus Cristo continuava sua obra de sacrifício e amor até a realização total de sua missão: a sua morte na cruz e a sua ressurreição.

O que em Jesus Cristo se torna um fato, uma vitória espiritual na Terra – como a transfiguração e mais tarde a ressurreição – vem também enriquecer a natureza espiritual humana com novas qualidades eternas, indispensáveis para o desenvolvimento futuro da humanidade. Do declínio e decadência espiritual abre-se uma nova perspectiva para a prometedora evolução humana. À alma humana é concedida para sempre a condição interior para servir o espírito em liberdade. Essa condição interior para realizar a obra de Deus em liberdade reside no EU SOU. O EU SOU é o Senhor da alma, une as forças da alma para um propósito elevado.

Hoje, as três forças da alma (pensar, sentir e querer) tornaram-se independentes umas das outras, desagregando-se de modo caótico. O que hoje uma pessoa pensa, raramente corresponde às suas ações; seus sentimentos se enrijeceram, tornaram-se indiferentes, sua vontade encontra-se paralisada e impotente. Essa é a causa de muitos males atuais. No entanto, podemos contar com o poder unificador e ordenador do Cristo. Sim, o profundo anseio das três testemunhas da transfiguração foi cumprido. A humanidade construiu três tendas no local onde se manifesta a revelação do Cristo.

Quando realizamos o Ato de Consagração do Homem, elevamos o olhar para o altar e vemos ao fundo a imagem da transfiguração brilhar. Transluzindo através do sacerdote e dos dois ministrantes, vemos o Redentor atuando junto com Moisés e Elias, seus precursores na formação de comunidades espirituais. Tomamos a poção de saúde que harmoniza as forças da nossa alma e lhes confere a paz. No final, quando o sacerdote desce os degraus da altura luminosa do altar, nós o seguimos. Fortalecidos e encorajados por Cristo, continuamos a sua obra redentora na vida quotidiana, no mundo.

Naquela época, Jesus Cristo conseguiu curar um epiléptico quando depois da transfiguração desceu de volta para o sopé da montanha. Até então, todos os intuitos dos discípulos de curar aquele jovem haviam fracassado. Também nós podemos crescer em força e confiança interior pela vivência cúltica do sacrifício de Cristo pela humanidade. Como seus seguidores poderemos de forma cada vez mais eficaz reverter o declínio e decadência da humanidade para a sua ascensão ao espírito. Fortalecidos pelo Cristo podemos encarar o processo da Paixão na humanidade e no destino individual com coragem e confiança.

Helena Otterspeer

Reflexão para domingo, 12 de fevereiro de 2024

Vivem hoje mais de 8 bilhões de pessoas em nosso mundo. A Terra tem recursos suficientes para alimentar todas essas pessoas?

Em primeiro lugar, poderia parecer que se trata aqui de uma questão de vida econômica. Lá se deveria pensar em como resolver o problema. Mas na verdade é também uma questão religiosa.

Os povos antigos viviam com a ideia e o sentimento de que o mundo (ou a natureza ou a mãe Terra ou qualquer outro termo que tenham usado no passado), o mundo ou ambiente em que viviam era capaz de dar às pessoas o que elas precisavam para viver. Os povos antigos entendiam que o alimento que dispunham era uma dádiva dos deuses ou um presente de Deus. O mundo, entendido como reflexo do mundo divino, dava ao ser humano o que ele necessitava para se alimentar.

Era certo também que o ser humano tinha que fazer algo para tanto: sair para caçar ou cultivar sua terra, por exemplo. Mas subsistia a convicção básica de que o que precisávamos provinha da mão de Deus.

Hoje a atitude é em geral a oposta: Os recursos do nosso mundo são limitados e estão se tornando cada vez mais escassos. Como serão distribuídos no futuro? Quem receberá algo e quem não?

Aqui já se manifestam também as questões de poder (sobre os recursos) e as posturas egoístas (sobre a maneira de reparti-los). Tais pensamentos, por si só, começam a gerar incertezas, preocupações e medos.

Como vimos na narrativa do Evangelho de Mateus, esta é a primeira pergunta feita  pelo adversário ao Filho de Deus no deserto. Ele se deixou levar pelo medo? Ele se curvou ao príncipe deste mundo, que queria lhe oferecer o poder para resolver os problemas por métodos e meios que levam em conta em primeira instância as circunstâncias terrestres?

A questão que foi proposta no deserto continua a ser atual. Ela nos é colocada cada vez de novo. Viemos a este mundo para ficarmos presos no medo e na insegurança sobre como ganhar a vida? Ou existe a possibilidade de redescobrirmos a confiança básica nas forças divino-espirituais, para que possamos dizer: O homem não vive apenas do pão do medo ou do pão do egoísmo, mas da confiança de que viemos a este mundo para buscar e reconhecer no mundo estas forças divinas.

Renato Gomes

Pastor da Comunidade de Cristãos em Havelhöhe, Berlim (Alemanha)

Reflexão para domingo, 11 de fevereiro de 2024

Referente à perícope do Evangelho de Lucas 18:18-34

Kierkegaard dizia que a pureza do coração pode ser alcançada quando a pessoa passa a querer uma única coisa: a união com o Pai eterno. A síntese de todos os propósitos numa única direção, num único anelo, elimina a distração, a confusão e o desnorteamento, permitindo ao indivíduo clareza e força em seu caminho de retorno à sua fonte primordial. Ora, esse é exatamente o conselho que Jesus dá ao jovem rico. Este seguia os mandamentos, mas é interessante que os mandamentos citados não mencionam o mais essencial: amar a Deus acima de todas as coisas. 

Jesus percebeu que o que lhe faltava era abandonar seu ídolo maior: o dinheiro, a riqueza, a fama. Essa admoestação não se aplica somente aos ricos de dinheiro. De alguma forma, todos nós somos ricos conforme os ídolos que escolhemos. E nossos tempos nos dão uma profusão de ídolos, a avalanche de informação, de distração. Os meios sofisticados de comunicação, hoje acessível a praticamente todos, ao mesmo tempo em que nos permitem acesso ao que supostamente seria de nosso interesse, cria interesses, desejos e até necessidades, adições. Não se trata de tomar literalmente o conselho: “Vende tudo o que tem”. 

Na verdade, o conselho poderia ser simplificado num chamado a nos darmos conta do que de fato necessitamos e buscarmos no íntimo da alma nosso bem mais precioso: a essência de nós mesmos. Vamos perceber que nossa individualidade sagrada não necessita de todas essas coisas que abundantemente nos cerca, mas necessita, na verdade, que lapidemos nossa vontade para aprender a ver e querer o essencial, sem o qual toda a riqueza do mundo não vale absolutamente nada. 

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 4 de fevereiro de 2024

Referente ao perícope do Evangelho de Mateus 20, 1-16

Todos nós somos chamados para trabalhar no mundo, na vinha do Senhor. Recebemos a chamada em momentos diferentes e o trabalho de cada um tem sua própria duração. Por isso, não nos ajuda nos comparamos com as outras pessoas que trabalham conosco.

No final do dia, no final da vida, cada um recebe o que tinha combinado com o Senhor da vinha antes de ir para o trabalho. Todos receberão o mesmo? Provavelmente não. Ainda menos se olhamos para as realidades do mundo. Cada um recebe o que necessita para continuar o seu caminho. Essas necessidades são diferentes entre as pessoas. Podemos ter a certeza de que recebemos o que precisamos para o nosso caminho de desenvolvimento e para poder continuar a trabalhar na vinha do Senhor.

Julian Rögge

Reflexão para domingo, 7 de janeiro de 2024

Como nos céus acima, assim na Terra! É assim que rezamos o Pai Nosso, tanto sozinhos como juntos em comunidade em cada sacramento! Os sacramentos também se realizam neste sentido: tal como nos céus, assim também na Terra! Para a paz, para a salvação da humanidade e da Terra! Para que o bem se realize se deve achar na Terra o lugar e a hora certa.
Os sábios reis-sacerdotes do Oriente conheciam a escrita das estrelas, podiam deduzir pelos ritmos das estrelas o que iria acontecer em breve na Terra. Eles estavam comprometidos com esta sabedoria das estrelas, que é também a sabedoria da Terra e da humanidade! Eles se puseram a caminho, porque sabiam que os seres humanos foram criados para atuar tanto na Terra como nos céus. Sentiam-se como representantes de toda a humanidade e também do mundo divino, como mediadores destes dois reinos, eram sacerdotes e reis ao mesmo tempo. Eles seriam capazes de reconhecer a criança anunciada, de honrá-la com dignidade. Eles seriam dignos para, em nome de toda a humanidade, acolher a graça da criança divina e, ao mesmo tempo, oferecer o que tinham de melhor e mais sagrado.
Mas o caminho para o lugar anunciado era desafiador. Obstáculos tiveram que ser superados, sombras espessas obscureceram o céu estrelado, e algumas poderosas e impuras almas humanas, mesmo más, não eram dignas desse evento, eram uma grande ameaça para a sagrada criança.
Os reis tiveram que tomar consciência de que a ordem da Terra já não correspondia à ordem cósmico-divina. O rei Herodes, em Jerusalém, não era mais, espiritualmente, um rei legítimo. Ele até queria impedir que a vontade divina fosse realizada na Terra. O que o movia era o medo e o poder que usurpara ilegalmente.
Os três reis-sacerdotes conseguiram novamente encontrar a estrela e entrar na casa onde morava a criança. Imensa alegria se apoderou deles! Ao entrarem na casa, a criança também entrou em seus corações, suas almas vivenciaram e reconheceram a sua própria predestinação, a de dar à luz a criança- espírito. A visão de Maria com o menino correspondia à experiência da própria alma com o nascimento do Cristo em si. Isso preencheu a alma de alegria. O Espírito de Cristo e não mais as estrelas lhes mostraram o caminho certo. Por si mesmo, ainda não totalmente conscientes, eles sonharam que não deveriam retornar para Jerusalém.
A humanidade perdeu a sabedoria cósmica dos antigos reis-sacerdotes, mas agora a alma é o lugar onde a estrela do Cristo deve brilhar. A humanidade como um todo entrou na casa da alma, onde a criança espiritual deve se encontrar. As pessoas tornaram-se personalidades individuais, que cada vez mais foram perdendo seu espírito na materialidade externa.
Densas sombras, guerras, ameaças de líderes humanos ilegítimos obscurecem a Estrela do Cristo. O reino dos céus deveria primeiro se manifestar no interior da alma humana, que dá à luz o Cristo em si. A partir daí, através de pensamentos, palavras e ações humanas superando o mal e transformando o mundo. Desde a ressurreição nascemos na Terra para conseguir encontrar o Cristo. Se o encontrarmos, Ele também encontrará em nós uma morada. É assim que nos tornaremos sacerdotes e reis de uma nova Terra. A nova Terra descerá do céu e brilhará como o Sol e as estrelas. A oração do Pai Nosso se tornará realidade!

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 31 de dezembro de 2023

Referente ao Evangelho de João, 21:15-25

Querida Comunidade de Cristãos,

Olhando ao longe, em direção a um pequeno monte, vemos um agricultor arando o seu campo, como antigamente, com um arado na mão, preso pelas rédeas a um boi. Poderíamos dizer: quem segue quem? A resposta óbvia pode ser que o agricultor vai atrás e segue o boi, mas pensando bem, teríamos que admitir que o boi segue as instruções do agricultor. As interpretações do que vemos, embora diferentes e contrárias, são ambas corretas. Ambos seguem, ambos guiam.

Na cultura de hoje, há uma nuance nesta percepção que devemos levar em conta. Hoje em dia, quase ninguém gosta de ser seguidor. Todo mundo quer se considerar um agente livre que não acompanha ninguém. No entanto, muitas das opiniões que temos sobre quase tudo foram criadas ou grandemente influenciadas pelo que a mídia nos transmite. Isto é verdade independentemente do lado da questão em que nos encontremos. Um sinal inequívoco de que nos tornamos seguidores semelhantes a ovelhas é quando estamos tão convencidos de que a nossa ideia é a única verdade que existe, e que qualquer pessoa que não partilhe a nossa ideia ou convicção é demasiado estúpida para compreendê-la ou foi enganada e transportada pelo nariz. A nossa cultura despreza os seguidores, mas ao mesmo tempo não poderia existir sem seguidores nas esferas política e econômica, para não falar da importância dada ao número de “seguidores” que se tem no Twitter ou no Facebook.

Na leitura do Evangelho de hoje, parece que Pedro tem dificuldade em ser seguidor. Cristo tem que insistir que assim seja. João, por outro lado, já está seguindo a Cristo. No amor verdadeiro, o seguinte se torna uma revelação desse amor. No amor verdadeiro, como na imagem do boi e do camponês, ninguém é o líder, ninguém é o seguidor. O verdadeiro amor é sempre um reflexo do amor de Cristo, no qual duas pessoas se seguem e se guiam. Eles se acompanham como companheiros de caminho através de seu próprio ato individual de sacrifício. Foi isso que Cristo fez pela humanidade e é isso que devemos fazer por Ele: Cristo seguindo-nos; nós O seguimos.

Sim, assim seja. 

Pablo Corman

Reflexão para domingo, 17 de dezembro de 2023

Referente à perícope do Evangelho de Lucas 1, 26-38

No momento, as cidades estão cheias de luzes decorativas de Natal. Nós as encontramos nas árvores de Natal, nas janelas e varandas das casas. Também acendemos luzes nas coroas do Advento.

Essa busca por luzes nos mostra um desejo interno. Queremos que a luz venha para o mundo e ilumine os nossos dias. Esperamos que a luz divina entre na escuridão terrena.

Na época do Advento, nós nos preparamos para receber essa luz. Ouvimos a anunciação do nascimento do menino Jesus. Escutamos como Maria abriu seu coração para ele.

Podemos nos perguntar: Ouvi a anunciação? Estou aberto para receber a luz divina no meu coração?

Podemos buscar momentos de silêncio nos quais vivemos com essas perguntas. Nelas preparamos nosso coração para receber a luz divina do menino Jesus.

Julian Rögge

Reflexão para domingo, 10 de dezembro de 2023

À esquerda: Fra Angélico, século XIV. À direita: Ícone russo do século XVIII.

O Evangelho de Lucas, nos seus dois primeiros capítulos, abre-se com as anunciações do nascimento de duas crianças, João Batista e Jesus. A primeira anunciação é feita a Zacarias, ancião sacerdote no templo em Jerusalém, casado com Elisabeth. A segunda, seis meses mais tarde, a Maria, jovem ainda solteira, prometida a José. As duas anunciações são reveladas por um anjo a descendentes sacerdotais de Aarão, mas o restante dos respectivos contextos são bem diversos. A primeira é dirigida ao pai de João Batista, Zacarias, de idade avançada, respeitado sacerdote casado com Elisabeth, também idosa e estéril. A segunda, dirigida a Maria, singela mãe de Jesus, ainda bem jovem e não casada.

O filho de Zacarias, João Batista, “carrega em torno de seu corpo o espírito do Pai” (epístola do Ato de Consagração do Homem na época de João), carrega nobremente o espírito primordial da criação do ser humano à imagem e semelhança de Deus. Ele prepara a vinda do Cristo, nele está representada toda a corrente espiritual do passado convergindo para esse acontecimento principal e único da história da humanidade: a encarnação do Filho de Deus num ser humano, em Jesus, a revelação do espírito no mundo físico-sensorial.

O filho de Maria, Jesus, oferecerá seu envoltório corpóreo ao Cristo, que como Filho do Homem, pela ressurreição, será o primogênito dos que nascerão do reino dos mortos, o primogênito de uma segunda criação, denominado por Paulo como o segundo Adão. Nele reside o germe do futuro.

Passado e futuro se encontram no que dá o profundo sentido à obra do Cristo, a ser revelada pelas palavras do Evangelho.

Nas imagens acima, as asas dos respectivos anjos apontam para um âmbito maior do que o espaço específico do acontecimento histórico: para a porta aberta no templo e para o jardim da morada de Maria, respectivamente. Sobretudo na obra de Fra Angélico, as asas do anjo Gabriel se estendem para o jardim fora da casa, onde no fundo está representado o Querubim expulsando Adão e Eva do paraíso. No processo de concepção de um ser humano somos levados a um âmbito bem além do espaço e do tempo, aos mais remotos primórdios da humanidade, quando pelo Logos, pela palavra divina o ser humano foi criado. Momentos especiais, arquetípicos na evolução da humanidade nos revelam essa verdade: NASCEMOS DE DEUS, do espírito. Assim também foi anunciado o nascimento de Abraão e de seu filho Isaac, quando seus pais já estavam bem idosos. Podemos mesmo contemplar tempos remotos, em que o ser humano ainda não havia se encarnado num corpo próprio, ainda sendo gerado pelos espíritos da Terra (Elohim), vivendo ainda no colo da nossa mãe Terra.

No entanto, as palavras dos anjos na anunciação apontam sobretudo para o futuro.

João Batista vai se colocar completamente a serviço da vinda do Senhor, vai preparar o seu caminho, vai formar o círculo dos discípulos, em cujo meio atuará o Cristo, enfim, vai batizar Jesus.

Jesus vai colocar a sua morada terrena completamente à disposição do espírito do Cristo. O mistério do Gólgota vai poder acontecer na Terra sobretudo graças a esses dois seres, que se sacrificaram por toda a humanidade. MORREMOS EM CRISTO.

Com a ressurreição e a vitória do Eu Sou do Cristo sobre as forças da morte, o ameaçado futuro da humanidade e da Terra se revela como uma estrela guia. Torna-se possível para todo ser humano alcançar novamente sua consciência espiritual perdida, agora numa nova clarividência sem a perda da sua autoconsciência. O acesso à comunidade dos seres divinos faz do ser humano um colaborador na obra divina para sempre.

Depois de uma longa época descendente, em que a consciência espiritual foi se turvando até o mais radical materialismo, o Eu individual agora está desperto. Agora cabe a esse Eu individual, com a força de Cristo, acompanhar no futuro, conscientemente, com as forças do coração a ascendente revelação divina que se abre novamente aos sentidos humanos. Desde a ressurreição, o Cristo vem se manifestando na Terra e agora pode ser acolhido pela alma humana no processo de reintegração na sua pátria espiritual. O futuro imediato do ser humano é o acender dos seus sentidos espirituais numa ligação existencial com o Cristo. Esta é a a esperada vinda do Cristo, ou seja, a sua aparição no mundo etérico. Isso é o que vislumbramos no começo do ano cristão, na época do Avento. Não podemos nos fechar a esse acontecimento, a ponte para a meta futura da humanidade. PELO ESPÍRITO SANTO REVIVEMOS!

Ao nosso redor todas as conturbações nos céus, na natureza, no íntimo da alma, no âmbito social, são os sinais que anunciam o grande acontecimento da nossa época. Se estamos abatidos, sem esperança, nos ergamos com as asas que podem crescer na nossa alma pelo encontro com o Cristo, pelo despertar de uma nova consciência! Isso é o que podemos alcançar juntos em comunidade, na vivência dos sacramentos no novo ano cristão!

Helena Otterspeer

Reflexão para domingo, 26 de novembro de 2023

Referente à Apocalipse de João 22, 12-26

Neste trecho final do Apocalipse, encontramos de forma condensada as últimas palavras de Cristo, ao seu discípulo João, que encerram este livro.
Ele usa três expressões para caracterizar a si mesmo:
Eu sou o Alfa e Ômega, o primeiro e o último, o início e a finalização
Eu sou a raiz e o rebento
Eu sou a brilhante estrela da manhã

A primeira destas expressões encontramos já no primeiro capítulo do Apocalipse. Lá acrescenta-se ainda dimensão temporal:
O que era, o que é, o que vem
Podemos encontrar a força criadora do Cristo – o Logos, o Verbo Divino – no transcurso da evolução: “por meio dele tudo foi feito e sem ele, nada do que foi feito, foi feito” (Evangelho de João, 1,3). Ele, o Logos, acompanha a evolução humana inspirando-a através de todo o transcurso dos tempos. Também naquilo que provém do futuro, que ainda não chegou, mas que a partir das intenções e metas futuras da evolução, emana sua força inspiradora ao momento presente.

Na segunda expressão, Eu sou a raiz e o rebento, encontramos a indicação que nos aponta às forças que criam o mundo vegetal, às forças de vida ou etéricas, que, das raízes até os brotos e rebentos mais tenros nas extremidades dos ramos, vão fazendo surgir a árvore inteira. Cristo vive, nestas forças criadoras. Ele vive em tudo que cria nova vida. O texto menciona a raiz e o rebento de Davi. Indica-se, pois, a corrente hereditária por meio da qual Cristo entrou na vida do mundo, mas ao mesmo tempo o olhar se amplia para a toda as correntes hereditárias humanas. A vida sempre se conecta com outras vidas; como as árvores numa floreta: cada uma está em íntima conexão com todas as outras.

A terceira expressão nos fala da estrela da manhã. É uma antiga referência ao planeta Vênus, que em determinados momentos de sua órbita aparece brilhante no horizonte pouco antes da aurora, anunciando o nascer do sol de um novo dia. A estrela da manhã é, portanto, um arauto luminoso, que anuncia a luz maior que está por nascer. Quem, no espírito, busca pela luz, mesmo antes de vislumbrar a verdadeira fonte da luz maior, pode em alguns momentos reconhecer este arauto luminoso, numa ideia, num pensamento, numa intuição que traz luz ao nosso espírito. Também aqui Cristo nos indica uma maneira de reconhecê-lo, nestes momentos luminosos, que podem ser como a aurora interior, que prepara a alma para o Sol espiritual de Cristo.

Três dimensões para nos aproximarmos daquele que se expressa pela qualidade do “Eu Sou”:
– no fluxo da história e dos tempos
– no entretecer e criar das forças da vida
– no resplandecer da luz interior que vislumbramos

Também poderíamos dizer:
– nas forças divinas que tecem o destino humano na Terra
– nas forças que nos unem a todos os seres humanos e a todos os demais seres viventes do planeta
– nas forças que nos ajudam a dirigir o olhar interior para a luz que brilha em nosso espírito.

Eu, Jesus Cristo, envio meu mensageiro (meu anjo) às comunidades
para dar testemunho destas coisas
As Comunidades, cujos membros sentem em si a Cristo, estão chamadas a ouvir esta mensagem, que Ele nos envia, a fim de que reconheçamos Seu ser, Sua força de vida e Sua Luz.

Renato Gomes

Reflexão para domingo, 12 de novembro de 2023

Referente João 7,9-17

João, que recebeu a revelação de Jesus Cristo, encontra-se, certamente, vestido de branco em torno do Cordeiro, pronto para cantar um cântico novo, para que no futuro uma nova Terra e uma nova humanidade desça dos céus.

Ele ainda como Lázaro serviu a Jesus Cristo e a seus discípulos junto com suas irmãs Maria Madalena e Marta. Seguindo fielmente Jesus, aspirou a um caminho espiritual. Foi ressuscitado por Jesus Cristo e se tornou seu discípulo amado Lázaro-João.

Estava como testemunha ao pé da cruz e acolheu, segundo o pedido de Jesus, sua mãe como se fosse o próprio filho.

Com os outros discípulos conviveu com o ressuscitado durante os 40 dias de Páscoa.

Em Pentecostes recebeu em comunidade com os apóstolos o Espírito Santo e pôde entender o significado do feito do Cristo para toda a humanidade. Como descrito no capítulo 5 do Apocalipse, o livro com os sete selos foi aberto pelo Cordeiro, que se sacrificou pela evolução da Terra e da humanidade.

Esse livro também se abriu para João, em seu destino individual. Ele se torna um seguidor de Cristo, sua consciência espiritual vai crescendo, ele atua com presbítero na comunidade de Éfeso. Acolher a verdade em Cristo é um fortalecimento interior, é um impulso vigoroso para servi-lo. Mas mesmo, ainda resta sempre um grande desafio, uma grande prova do destino a ser superada. João é condenado à morte por não querer adorar os deuses romanos. Ele sobrevive à pena de morte e é exilado com 99 anos para a ilha de Patmos.

Nessa prova, nesse caminho de transformação interior, ou seja, nessa iniciação ele vivência como a sua própria natureza interior é Espírito, Espírito que supera as provas. A revelação se abre ao seu olhar espiritual. Sua alma se veste com a veste branca do espírito luz. Outras almas se juntam a ele para uma nova criação.

Onde eu mesmo me encontro?

Helena Otterspeer