Reflexão para domingo, 11 de fevereiro de 2024

Referente à perícope do Evangelho de Lucas 18:18-34

Kierkegaard dizia que a pureza do coração pode ser alcançada quando a pessoa passa a querer uma única coisa: a união com o Pai eterno. A síntese de todos os propósitos numa única direção, num único anelo, elimina a distração, a confusão e o desnorteamento, permitindo ao indivíduo clareza e força em seu caminho de retorno à sua fonte primordial. Ora, esse é exatamente o conselho que Jesus dá ao jovem rico. Este seguia os mandamentos, mas é interessante que os mandamentos citados não mencionam o mais essencial: amar a Deus acima de todas as coisas. 

Jesus percebeu que o que lhe faltava era abandonar seu ídolo maior: o dinheiro, a riqueza, a fama. Essa admoestação não se aplica somente aos ricos de dinheiro. De alguma forma, todos nós somos ricos conforme os ídolos que escolhemos. E nossos tempos nos dão uma profusão de ídolos, a avalanche de informação, de distração. Os meios sofisticados de comunicação, hoje acessível a praticamente todos, ao mesmo tempo em que nos permitem acesso ao que supostamente seria de nosso interesse, cria interesses, desejos e até necessidades, adições. Não se trata de tomar literalmente o conselho: “Vende tudo o que tem”. 

Na verdade, o conselho poderia ser simplificado num chamado a nos darmos conta do que de fato necessitamos e buscarmos no íntimo da alma nosso bem mais precioso: a essência de nós mesmos. Vamos perceber que nossa individualidade sagrada não necessita de todas essas coisas que abundantemente nos cerca, mas necessita, na verdade, que lapidemos nossa vontade para aprender a ver e querer o essencial, sem o qual toda a riqueza do mundo não vale absolutamente nada. 

Carlos Maranhão