Reflexão para o Domingo, 7 de abril de 2024

Referente à perícope do Evangelho de João 20, 19-29

Tomé é aquele que quer ver, quer tocar, somente assim ele consegue ter a certeza de que o Ressuscitado é “real” e não o fruto de uma ilusão subjetiva de seus amigos…

Tomé não é muito diferente do ser humano moderno, pois como ele queremos apoiar nossas experiências e vivências naquilo que nos dão os órgãos sensoriais: naquilo que vemos, que ouvimos, que tocamos, que sentimos o perfume ou o gosto…

Segundo o relato do Evangelho de João, Cristo exorta Tomé a se aproximar para tocá-lo. “Meu Senhor e meu Deus!” – exclama Tomé. Com certeza, uma experiência profunda e incomum, pois como seria tocar o
“divino”?

Há algum tempo foram se introduzindo em nosso cotidiano os modernos aparelhos de comunicação e através de uma tecnologia espetacular, com simples toques de dedo, conseguimos abrir imagens, escrever mensagens, tirar fotos e muito mais. Algo impensável há algumas gerações, tais aparelhos não
são, há muito, exclusividade dos adultos, tornaram-se ferramenta e brinquedo de jovens e crianças, estão em todos os lugares…

O que tocamos aqui? O que colocamos em evidência? O que vemos?

De um modo geral, podemos chamar tudo isto de mundo virtual. Em contraposição ao que é real, o que se descortina através destas tecnologias pertence ao âmbito artificial, pois as formas e cores não são de fato uma janela para algo existente em si, apenas uma imagem cujo objeto real encontra-se em outro lugar (embora tenhamos também que levar em conta que cada vez mais nesse mundo virtual temos que nos perguntar se o que se apresenta ao toque de dedo, de fato, é imagem de algo existente ou uma pura invenção tecnológica, sem nenhuma relação com a realidade, muitas vezes sem conexão com a veracidade dos fatos).

Hoje vivenciamos algo que de certo modo se contrapõe à experiência de Tomé: tocamos algo real – a tela, a superfície do aparelho – e percebemos depois algo virtual, muitas vezes ilusório. Contudo, a questão do discípulo permanece: como é possível “tocar” algo sutil, imaterial e então ter a experiência de perceber que a essência do que “tocamos” é real? Damo-nos por satisfeitos com a realidade virtual que cada vez mais cresce à nossa volta? Se respondemos que sim, então não precisamos nos ocupar da questão de Tomé.

Ou nos perguntamos, quais outros sentidos, quais outras habilidades temos que desenvolver para, como Tomé, poder tocar e reconhecer a manifestação do Espírito, mas não como algo ilusório ou puramente subjetivo.

Viver com esta questão, é um desafio para todos nós. E tudo que pudermos aprender e experimentar nessa direção, nos ajudará a perceber o que subjaz na força real do Cristo Ressuscitado que emana para a vida do mundo.

Renato Gomes