Reflexão para segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Frade Francke, 1425

Todo ano jorra na noite de Natal a plenitude de vida e luz, que tocou a Terra pela primeira vez na virada dos tempos! Nessa imagem acima do Natal

Primordial, a escuridão da noite, que não revela os seus mistérios aos sentidos humanos, transforma-se em decidida vontade do mundo divino de se revelar à humanidade na Terra. O azul escuro da noite se transforma no vermelho irradiante da manifestação da vontade divina. Em outras palavras, o Pai, através de Maria, envia seu Filho para o lugar de pobreza do espírito, a Terra. Maria, representando idealmente todas as almas humanas, portanto, em sua própria essência completamente devotada ao espírito, torna-se nesse momento um instrumento da vontade divina, irradia a luz divina do seu interior. Seu manto azul escuro cai como um véu, e sua roupa é luz, a luz divina.

A pura criança divina não encontra uma casa, uma morada apropriada para a sua natureza divina. Desde então, cada um de nós pode se esforçar em preparar essa morada no seu coração. Pela ressurreição essa fonte inesgotável do Natal primordial se ligou primeiramente à alma humana nos encontros de Jesus Cristo com os discípulos e mais tarde a todo o planeta Terra pela ascensão do ressuscitado aos céus. Os ciclos de vida da Terra se tornaram os ciclos de vida do Redentor. Sua respiração se tornou o respirar da atmosfera da Terra nas estações do ano. A humanidade vive e respira com e no seu Corpo-Espírito. O primeiro Natal do mundo ficou gravado na Terra e na sua atmosfera e todo ano volta a acontecer.

Outrora a natureza acolheu a vinda da palavra divina primordial no anseio por se liberar da prisão e do peso da matéria pela prometida redenção de toda criatura. Uma luz natalina se espalhou por toda a natureza e os pastores, que conviviam estreitamente com seus ritmos, receberam a mensagem do mundo divino, anunciada pelos anjos. Essa mensagem aqueceu seus corações e eles se puseram a caminho para encontrar a criança divina, a adorarem e oferecer suas dádivas a ela.

Desde então, o coração humano foi se endurecendo cada vez mais com o passar dos séculos e com a ascensão do materialismo. Mas também a mensagem de luz e vida do Evangelho foi tocando vários corações humanos. São esses que permitem que a cada ano novamente aconteça o Natal com a sua promessa da vinda do reino dos céus. O reino dos céus não  se estabelece fora, mas em nós. O despertar da criança espírito na alma humana é o Natal de hoje. O Filho, o Cristo nasce na alma humana e traz sua mensagem de paz para a Terra. O barulho das armas, das catástrofes da natureza, dos prantos dos famintos e infelizes querem abafar essa mensagem. Cada um de nós pode ser um portador da luz e da mensagem de paz do Natal. Ela é o verdadeiro consolo e cura de toda a calamidade atual. Sejamos inabaláveis como o autor e filósofo russo Wladimir Solowiof, que disse:

É verdade que inúmeros pecados e crimes terríveis

Ainda ocorreram desde a virada dos tempos.

Mesmo que a consciência, desde então, teve de nos julgar culpados,

O seu fogo sagrado não pode e não irá mais desaparecer.

Pois não foi em vão que a luminosa noite apareceu,

Em que a criança, a quem os anjos servem,

Nesse mundo nasceu

Do Pai, acima do céu estrelado, seu Filho.

Ainda hoje, o mundo, nas suas profundezas sabe,

Que a fonte da verdade e da vida jorrou completamente;

E também soam em luto, em um campo de escombros

Suas palavras – como sinos – soam alto e claro.

O mundo rejeitou a luz que nele nasceu,

Mas ela brilha na consciência como uma tocha na noite.

O regente deste mundo perdeu a sua vitória,

Derrubado pela força do espírito e não pelo poder externo.

Helena Otterspeer