Reflexão sobre o Evangelho de João, 23 de junho

“Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.
Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi e vos designei, para dardes fruto e para que o vosso fruto permaneça. Assim, tudo o que pedirdes ao Pai, em meu nome, ele vos dará. O que eu vos mando é que vos ameis uns aos outros.”

João 15, 12-17

“Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei.”
Esta talvez seja a tarefa mais difícil da humanidade. Amar ao outro, que é tão diferente? Amar não somente as pessoas mais próximas, mas também as pessoas com as quais não temos uma relação pessoal? Amar ao outro sem condição e sem julgamento? Sim, amar ao outro porque ele é um outro ser humano que está no mesmo amor do Cristo.
Só pouco a pouco poderemos nós aproximar desta grande tarefa. A começar por não julgarmos o outro, mesmo não concordando com suas ações. A interessarmo-nos pelos destinos das pessoas distantes. Tentando sempre estar abertos para a revelação do Divino no outro. Apesar de todos os nossos erros e falhas, necessitamos também amar a nós mesmos para podermos amar ao outro.
Passo a passo trabalharemos assim na realização do grande mandamento do Cristo. “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei.”

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 22 de junho

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Todo o ramo em mim, que não dá fruto, o tira; e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, e eu em vós; como o ramo de si mesmo não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós os ramos; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como o ramo, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.
Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos. Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. Tenho vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.”

João 15,1-11

“Eu sou a videira, vós os ramos; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” A ideia não é produzir frutos, mas permanecer na videira. Quando estamos em Cristo, o fruto vem naturalmente. Se permanecermos em Cristo, daremos frutos. Se não, nos tornamos estéreis. A videira está incompleta sem os galhos. Ele deve ter seus ramos para produzir o fruto. Quando nós permanecemos, Ele produz seu fruto em nós. Não precisamos trabalhar nisso. Não precisamos nos angustiar com isso. Um bom fruto espiritual vem naturalmente da presença em Cristo. Quando permanecemos em Cristo, estamos no centro da vontade de Deus. É impossível permanecer em Cristo e estar fora da vontade de Deus. Podemos sonhar com muitas atividades, com muitas folhas e folhagens verdes, mas nenhum fruto do Espírito se não estivermos ligados à fonte de onde eles emanam. Será que algum dia aprenderemos essa verdade? Nós podemos fazer muitas coisas, podemos produzir muitos programas e atividades, mas tudo dependerá do quanto estamos ligados ao Cristo. É muito difícil, sobretudo em tempos de crise e incertezas, não ter algum grau de ansiedade sobre o futuro. Buscamos nos apegar às poucas coisas que possam nos garantir algum tipo de segurança. Nesses tempos é muito comum sentir medo, pois não sabemos até quando dura a incerteza. Mas se formos sinceros, podemos perceber que nunca houve realmente um tempo para tais certezas. A nossa segurança não está nas coisas do mundo, mas nas forças espirituais que emanam de Deus. Ligados a ele, não há tempestade que nos cause medo. Lembremos disso nesses tempos conturbados, aliás os tempos conturbados vieram justamente para nos lembrarmos disso.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 21 de junho

Época de Trindade
Referente ao perícope João 17

É alentador ouvir de Cristo em sua oração sumo sacerdotal que ele orou pela unidade de seus discípulos: “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” Vemos quão importante era a questão da unidade para ele, pois sabia muito bem que na humanidade de então e do futuro somente a união com ele poderia ajudá-la a superar o mundo de separação e de conflito.
Porque pelo fato de o Filho de Deus estar aqui no mundo e ter completado sua missão, algo fundamental mudou para nós. Não estamos mais separados de Deus, mas Cristo nos uniu a Deus. Quando ele veio ao mundo, somente ele era a ponte para o céu. Mas então ele começou a construir uma ponte permanente na terra, ensinando seus discípulos e compartilhando-os nas obras de Deus, em seus milagres e curas. Isso os fez parte da ponte. E essa ponte que ele edificou entre nós e o Deus Pai é o que nos permite estabelecer a conexão uns com os outros sobretudo em momentos de crise. Na crise atual há a recomendação de isolamento social, mas há também a realidade de estarmos unidos em uma pandemia que abarca todo o planeta. Nunca estivemos tão separados e ao mesmo tempo nunca estivemos tão unidos na mesma condição. Cristo ora para que tenhamos olhos para próximo, para que não temamos estabelecer contato, para que nos coloquemos no lugar do outro, para que perguntemos o que o outro necessita e trabalhemos para satisfazer sua necessidade, para que possamos dar conforto e esperança, seja qual for o meio de conexão que tenhamos disponível. Quando as pessoas estão conectadas, elas são receptivas ao segredo do amor divino. Cristo orou por nós e sabia das nossas necessidades. Apesar das diferenças tão gritantes em nossa época no que diz respeito a renda, oportunidades, convicções religiosas, políticas, filosóficas, o fato é que somos todos concidadãos desse planeta. A consciência em Cristo nos une em nossa condição fundamental, substancial de sermos todos filhos de Deus.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 20 de junho

“‘Se me amais, observareis os meus mandamentos. E eu pedirei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, que ficará para sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê, nem o conhece. Vós o conheceis, porque ele permanece junto de vós e está em vós. Não vos deixarei órfãos: eu voltarei a vós. Ainda um pouco de tempo e o mundo não mais me verá; mas vós me vereis, porque eu vivo, e vós vivereis. Naquele dia sabereis que eu estou no meu Pai, e vós em mim, e eu em vós. Quem acolhe e observa os meus mandamentos, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele’. Judas (não o Iscariotes) perguntou-lhe: ‘Senhor, como se explica que tu te manifestarás a nós e não ao mundo?’ Jesus respondeu- lhe: ‘Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras. E a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que me enviou. Eu vos tenho dito estas coisas enquanto estou convosco. Mas o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito. Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou. Não se perturbe, nem se atemorize o vosso coração. Ouvistes o que eu vos disse: ‘Eu vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. Disse – vos isso agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais. Já não falarei mais convosco, pois vem o chefe deste mundo. Ele não pode nada contra mim. Mas é preciso que o mundo saiba que eu amo o Pai e faço como o Pai mandou. Levantai-vos! Vamos nos daqui!’”

João 14, 15-31

Neste trecho “ouvimos” palavras que ao longo de nossa história, são foco da teologia e filosofia: Amor, Verdade e Paz.
Cristo nos entrega a oportunidade de nos aproximarmos da essência destas três realidades espirituais ao observarmos suas palavras. Fazermo-nos permeáveis à Palavra, é tarefa árdua e de algumas vidas. Acostumamos com o imediatismo de nossas ações e muitas vezes desesperamos ao não atingirmos o que nos propomos no caminho para o espírito. Des esperançados, somos presas fáceis para o “príncipe do mundo”. Aquele que deseja desviar e aniquilar a humanidade.
Cada pequeno passo em direção ao nosso desenvolvimento interior nos torna maleáveis à Palavra. Sempre exigirá esforço a vivência do Filho, a consciência do Pai e a percepção do Espírito Santo, mas, nem por isso devemos desistir dos pequenos passos humildes que possamos dar. Vivemos uma era onde a humanidade é constantemente atacada por seus opositores. Nossos corações são acometidos de medo e terror pela visão de um futuro sombrio. O exercício diário de pressentirmos a Palavra em tudo o que nos rodeia, gera a resiliência que nos permitirá enfim alcançarmos o Amor, a Verdade e a Paz…

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 19 de junho

“‘Não se perturbe o vosso coração! Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fosse assim, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós. E depois que eu tiver ido e preparado um lugar para vós, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também. E para onde eu vou, conheceis o caminho’.
Tomé disse: ‘Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?’ Jesus respondeu: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se me conhecestes, conhecereis também o meu Pai. Desde já o conheceis e o tendes visto’.
Filipe disse: ‘Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta’.
Jesus respondeu: ‘Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me conheces? Quem me viu, tem visto o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. Crede me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Crede, ao menos, por causa destas obras.
Em verdade, em verdade, vos digo: quem crê em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai. E o que pedirdes em meu nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes algo em meu nome, eu o farei.’”

João 14, 1-14

O que precisamos para realizar uma obra?
Necessitamos confiar em nossas habilidades e na viabilidade de realização. Nossa força será tanto maior quanto mais tivermos a certeza de que nossa obra faz sentido para o mundo e para nós.
No momento em que começamos uma atuação com essas percepções, nossas forças crescem e talvez superem o que acreditamos ser possível. Podemos sentir uma ajuda para a realização e podemos perceber nela a atuação do mundo espiritual. Essa ajuda pode se manifestar através de outras pessoas ou através do aumento das nossas forças.
Observamos esse fenômeno nas pequenas e grandes obras. Pouco a pouco pode crescer a confiança de que sempre teremos ajuda. Todas as hierarquias estão dispostas a nos ajudar. Mas, hoje em dia, o mundo espiritual respeita totalmente a nossa liberdade. Cabe a nós dar o primeiro passo.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 18 de junho

“Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: ‘Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar. Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco. Vós me buscareis, mas, como tenho dito aos judeus: Para onde eu vou não podeis vós ir; eu vo-lo digo também agora.
Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.’
Disse-lhe Simão Pedro: ‘Senhor, para onde vais?’ Jesus lhe respondeu: ‘Para onde eu vou não podes agora seguir-me, mas depois me seguirás.’
Disse-lhe Pedro: ‘Por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a minha vida.’
Respondeu-lhe Jesus: ‘Tu darás a tua vida por mim? Na verdade, na verdade te digo que não cantará o galo enquanto não me tiveres negado três vezes.’”

João 13,31-38

A vida de Jesus foi um único ato de amor. Esse amor que Jesus viveu também deve viver seus discípulos. Mas ninguém é capaz de imitar esse amor completamente, mesmo Pedro que lhe prometeu fidelidade o negou três vezes. Parece que sempre ficamos aquém daquilo que Jesus nos demanda. Se é assim, por que nos colocou esse mandamento fundamental? Porque ele acredita em nós humanos. Porque ele coloca sua esperança em nós. Ele conhece nossa impotência em nos mantermos fiéis ao seu mandamento, mas mesmo assim o reafirma. Pedro se dará conta de sua traição e Jesus Cristo, após a ressurreição, reafirmará sua confiança nele dizendo “tome conta de minhas ovelhas!” (João 21,15-16).
Somos céticos e não acreditamos nesse poder do amor, do contrário não trairíamos esse amor tantas vezes. Transmitimos palavras de amor para depois rejeitá-lo. Há uma fraqueza inerente à condição humana. Paulo deu testemunho disso ao dizer que tinha um espinho na carne e glorificou sua fraqueza dizendo: “quando sou fraco, aí é que sou forte” (2 Coríntios 12,10). Rudolf Steiner reenfatizou esse aspecto ao dizer que é na nossa impotência que encontramos o Cristo (O anjo em nosso corpo astral / Como eu encontro o Cristo? – R. Steiner, Editora Antroposófica). Seguir o amor de Jesus significa seguir a Jesus em nossa fraqueza, até o último lugar onde não há mais poder e violência, mas apenas amor.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 16 de junho

“Depois de dizer isso, Jesus ficou interiormente perturbado e testemunhou: ‘Em verdade, em verdade, vos digo: um de vós me entregará’. Desconcertados, os discípulos olhavam uns para os outros, pois não sabiam de quem estava falando. Bem ao lado de Jesus, estava reclinado um dos seus discípulos, aquele que Jesus mais amava. Simão Pedro acenou para que perguntasse de quem ele estava falando. O discípulo, então, recostando-se sobre o peito de Jesus, perguntou: ‘Senhor, quem é?’ Jesus respondeu: ‘É aquele a quem eu der um bocado passado no molho’. Então, Jesus molhou um bocado e deu a Judas, filho de Simão Iscariotes. Depois do bocado, Satanás entrou em Judas. Jesus, então, lhe disse: ‘O que tens a fazer, faze logo’. Mas nenhum dos presentes entendeu por que ele falou isso. Como Judas guardava a bolsa, alguns pensavam que Jesus estava dizendo: ‘Compra o que precisamos para a festa’, ou que desse alguma coisa para os pobres. Então, depois de receber o bocado, Judas saiu imediatamente. Era noite.”

João 13, 21-30

“Era noite”
“E a luz brilha na escuridão, e a escuridão não dominou a luz” (Jo 1, 5)
Os seres da escuridão que nos primórdios da evolução cósmica, tentaram dominar a luz, atuam aqui através de um ser humano. Um discípulo. Judas.
Em seu coração, já a algum tempo, atuava o ímpeto da separação e do confronto. O ser que a tudo desmembra e desune. Agora passa a atuar o ser que o impulsiona a sonhos ilusórios. Cristo dirige-se diretamente a Satanás ao dizer: “O que tens a fazer, faze logo.” Seria a escuridão finalmente a dominar a luz?
Cristo recebeu do Pai, o poder sobre todas as criaturas, assim também sobre os demônios. Ao longo de toda sua atuação ele os dominou e expulsou. Porque então, permitiu que atuassem através de Judas?
Voltemos à cena do “Lava Pés”. Em humildade e agradecimento Cristo se inclina perante os discípulos e lava-lhes os pés. Também a Judas. Poderíamos dizer que neste momento, ele agradece também ao diabo que ali habita.
Quão fácil é para nós, olharmos e julgarmos Judas. Mas, e se voltássemos o olhar para nós mesmos? Traímos a luz sempre quando nos direcionamos para confrontos, para tudo que separa, tudo que é bélico. A traímos quando não temos tempo para o espírito. Sempre ocupados com o que consideramos tão importante: nossas posses (em todos os âmbitos). Ou quando nos entregamos a sonhos e pensamentos ilusórios de uma realidade que jamais será…
Nestes momentos, as sombras em nós tentam dominar a luz.
Será que, ao entrarmos nesta quarentena, tivemos a oportunidade de olharmos para o essencial em nossas vidas? Para a realidade de nosso país e do mundo? Para nossa atuação no social?
Todas as forças têm seu sentido de atuação quando equilibradas e permeadas pela Luz. O tempo urge. A luz necessita seres humanos livres, unidos e despertos.

Viviane Trunkle

“Porque eu só preciso de pés livres, de mãos dadas, e de olhos bem abertos.”
João Guimarães Rosa

Reflexão sobre o Evangelho de João, 15 de junho

“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Foi durante a ceia. O diabo já tinha seduzido Judas Iscariotes para entregar Jesus. Sabendo que o Pai tinha posto tudo em suas mãos e que de junto de Deus saíra e para Deus voltava, Jesus levantou-se da ceia, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a à cintura. Derramou água numa bacia, pôs-se a lavar os pés dos discípulos e enxugava-os com a toalha que trazia à cintura.
Chegou assim a Simão Pedro. Este disse: ‘Senhor, tu vais lavar-me os pés?’ Jesus respondeu: ‘Agora não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás’. Pedro disse: ‘Tu não me lavarás os pés nunca!’ Mas Jesus respondeu: ‘Se eu não te lavar, não terás parte comigo’. Simão Pedro disse: ‘Senhor, então lava-me não só os pés, mas também as mãos e a cabeça’. Jesus respondeu: ‘Quem tomou banho não precisa lavar senão os pés, pois está inteiramente limpo. Vós também estais limpos, mas não todos’. Ele já sabia quem o iria entregar. Por isso disse: ‘Não estais todos limpos’. Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e voltou ao seu lugar. Disse aos discípulos: ‘Entendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque sou. Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós. Em verdade, em verdade, vos digo: o servo não é maior do que seu senhor, e o enviado não é maior do que aquele que o enviou. Já que sabeis disso, sereis felizes se o puserdes em prática. Eu não falo de todos vós. Eu conheço aqueles que escolhi. Mas é preciso que se cumpra o que está na Escritura: ‘Aquele que come do meu pão levantou contra mim o calcanhar’. Desde já, antes que aconteça, eu vo-lo digo, para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou. Em verdade, em verdade, vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou’.”
João 13, 1-20
Cristo, o Filho Divino, ajoelha-se perante os discípulos e lava-lhes os pés. Ele realiza o ato normalmente feito por servos naquela época. O mais alto do céu se inclina para os seres humanos em um ato cheio de humildade. Ele lava-lhes os pés que caminham pela terra e assim prepara os discípulos para o céu.
Cristo indica aqui uma lei espiritual. Ao fazermos passos no desenvolvimento espiritual, devemos sempre nos lembrar dos que os possibilitaram. Caso contrário, corremos o risco de cairmos no egoismo e na soberba. Podemos nos lembrar das pedras, plantas e animais ao nosso redor. Eles fizeram um sacrifício para que nosso desenvolvimento aqui na Terra fosse possível. Podemos nos recordar também, dos seres humanos que nos ajudaram e talvez sacrificaram algo. Nossos pais, companheiros, amigas e amigos…
Em gratidão e amor podemos nos inclinar a eles e oferecer ajuda para seus caminhos. Juntos conseguiremos desenvolver a Terra e a humanidade.
Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 14 de junho

Para domingo, 14 de junho de 2020

Época de Trindade
Referente ao perícope João 4, 1-42

No encontro da mulher samaritana com Jesus, após o diálogo entre eles, um detalhe passa despercebido: “A mulher deixou o seu cântaro e foi à cidade(…)”.
Na imagem acima, vemos a samaritana chegando ao encontro, no poço de Jacó, com seu cântaro na cabeça.
O que é um cântaro? O cântaro (bilha, ânfora) é um artefato usado desde a antiguidade como urna decorativa ou mesmo um receptáculo. Por ter a forma sempre com uma abertura em cima traduz também uma noção de receptividade das coisas celestes. Em diversas culturas seu simbolismo está vinculado ao sentido de que guarda os tesouros. Traduz para muitos também o simbolismo de reservatório de vida, onde sob diversas formas guardaria: o tesouro da vida espiritual, o elixir da vida, o segredo das metamorfoses, etc.
O cântaro é símbolo de espaço receptivo, seu formato, muitas vezes se assemelha a um útero. O receptáculo a ser preenchido com a nova vida. Nossos corpos físico e vital são cântaros que recebem a alma e o espírito. Por sua vez, a esfera do pensar, cujo órgão é a cabeça, representa o cântaro para a receptividade da ideia pura, a que é emanada do Logos. A esfera do sentir, no coração e pulmão recebe o amor divino. E a esfera do querer traduz em atuação no mundo, ideia pura e amor divino. Uma imagem complementar ao pensar, sentir e querer é a que encontramos nos céus, na imagem da constelação de Aquário. Antigas culturas, tinham ainda a percepção dos seres que permeavam as constelações. O ser da esfera de Aquário era o que vertia de seu cântaro a fluidez para curar o que estava enrijecido, seco e estanque. Talvez não tenhamos mais a consciência desperta para os seres das constelações, mas nem por isso eles deixaram de atuar… Aquário em nós, representa o auxílio para equilibrarmos as forças do pensar, sentir e querer. Para que o pensar não seja enrijecido, o sentir não seja seco e o querer, nosso atuar no mundo, não se estanque.


Voltemos à samaritana. Ela traz para o encontro seu cântaro preenchido das forças espirituais que atuavam até então na humanidade. Tudo o que já tendia para o enrijecimento. Em seu encontro com Jesus, ela se permite perceber a fluidez da água viva. A samaritana está em equilíbrio com suas forças do pensar, sentir e querer. Ela realiza com Jesus a chegada da transição dos tempos. Tudo o que pertencia ao passado, pode dar lugar ao novo. Ao Logos encarnado que está diante dela: “Eu Sou, quem fala contigo.” Ela está preparada para deixar o seu cântaro (imagem acima) até então receptor das antigas correntes e tornar-se ela mesma cântaro preenchido pela água viva, pelo Logos, pelo Verbo. Sua ação no mundo? Anunciar.
“Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?”
E: “Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus por causa da palavra da mulher que testemunhava”
Que a maravilhosa mulher samaritana nos inspire a deixarmos nossos cântaros onde se acumulam antigas estruturas enrijecidas, secas e estanques a impedir nossa evolução. Que nos inspire a nos tornarmos cântaros receptivos da Água Viva, do Eu Sou e termos forças para anunciar e testemunhar!

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 13 de junho

“Respondeu-lhe a multidão: ‘Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu que convém que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem?’
Disse-lhes, pois, Jesus: ‘A luz ainda está convosco por um pouco de tempo. Andai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz.’
Estas coisas disse Jesus e, retirando-se, escondeu-se deles. E, ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele;
Para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, que diz: ‘Senhor, quem creu na nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?’
Por isso não podiam crer, então Isaías disse outra vez:
‘Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure.’
Isaías disse isto quando viu a sua glória e falou dele.
Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele; mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga.
Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus.
E Jesus clamou, e disse: ‘Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou. E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou.
Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.
E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.
Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia.
Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito.’”

João 12, 34-50

Andar com Jesus é libertar-se das sombras. Entre as coisas sombrias, talvez, a mais comum é o medo, sobretudo em épocas de crise. Pois crises são pontos de inflexão na vida que apontam para mudanças necessárias e temos medo de mudanças. Acostumados com os padrões velhos, mesmo que não confortáveis, tateamos na escuridão sem nada firme a que se agarrar. É justamente nesses momentos de crise que despertamos para a necessidade de andar com Jesus, pois ele nos liberta do medo e nos clareia a mente para o que de novo podemos construir no futuro. Esses momentos são determinantes para a decisão de mudanças, pois as evidências surgem justamente quando, na escuridão, uma luz brilha sobre o que há de mais urgente para ser transformado. O tempo para a mudança amadureceu a tal ponto que não há mais o que esperar. Essa é a urgência do momento atual. Em certo sentido, nunca é tarde para compreender, mas, no entanto, há um tempo em que a luz da compreensão chega na urgência das almas assustadas com a ampliação das sombras. “Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”, diz Jesus. A crise, é portanto, oportunidade para fortalecer a crença, a fé. A luz, porém, é o que nos permite ver, compreender, ter certeza e convicção, logo, a fé vem junto com o entendimento, não deixa sombra de dúvidas, clareia nossa mente e nos põe em prontidão para a ação, de transformação da situação que exacerbou contradições, que provocaram a escuridão. A certeza alumia nossas mentes e corações e determina nossa prontidão para a ação no mundo. Com a luz de Cristo, essa ação é certeira pois está imbuída de amor, de compreensão daquilo que, sem o Cristo, não podíamos ver.

Carlos Maranhão