Reflexão sobre o Evangelho de João, 16 de junho

“Depois de dizer isso, Jesus ficou interiormente perturbado e testemunhou: ‘Em verdade, em verdade, vos digo: um de vós me entregará’. Desconcertados, os discípulos olhavam uns para os outros, pois não sabiam de quem estava falando. Bem ao lado de Jesus, estava reclinado um dos seus discípulos, aquele que Jesus mais amava. Simão Pedro acenou para que perguntasse de quem ele estava falando. O discípulo, então, recostando-se sobre o peito de Jesus, perguntou: ‘Senhor, quem é?’ Jesus respondeu: ‘É aquele a quem eu der um bocado passado no molho’. Então, Jesus molhou um bocado e deu a Judas, filho de Simão Iscariotes. Depois do bocado, Satanás entrou em Judas. Jesus, então, lhe disse: ‘O que tens a fazer, faze logo’. Mas nenhum dos presentes entendeu por que ele falou isso. Como Judas guardava a bolsa, alguns pensavam que Jesus estava dizendo: ‘Compra o que precisamos para a festa’, ou que desse alguma coisa para os pobres. Então, depois de receber o bocado, Judas saiu imediatamente. Era noite.”

João 13, 21-30

“Era noite”
“E a luz brilha na escuridão, e a escuridão não dominou a luz” (Jo 1, 5)
Os seres da escuridão que nos primórdios da evolução cósmica, tentaram dominar a luz, atuam aqui através de um ser humano. Um discípulo. Judas.
Em seu coração, já a algum tempo, atuava o ímpeto da separação e do confronto. O ser que a tudo desmembra e desune. Agora passa a atuar o ser que o impulsiona a sonhos ilusórios. Cristo dirige-se diretamente a Satanás ao dizer: “O que tens a fazer, faze logo.” Seria a escuridão finalmente a dominar a luz?
Cristo recebeu do Pai, o poder sobre todas as criaturas, assim também sobre os demônios. Ao longo de toda sua atuação ele os dominou e expulsou. Porque então, permitiu que atuassem através de Judas?
Voltemos à cena do “Lava Pés”. Em humildade e agradecimento Cristo se inclina perante os discípulos e lava-lhes os pés. Também a Judas. Poderíamos dizer que neste momento, ele agradece também ao diabo que ali habita.
Quão fácil é para nós, olharmos e julgarmos Judas. Mas, e se voltássemos o olhar para nós mesmos? Traímos a luz sempre quando nos direcionamos para confrontos, para tudo que separa, tudo que é bélico. A traímos quando não temos tempo para o espírito. Sempre ocupados com o que consideramos tão importante: nossas posses (em todos os âmbitos). Ou quando nos entregamos a sonhos e pensamentos ilusórios de uma realidade que jamais será…
Nestes momentos, as sombras em nós tentam dominar a luz.
Será que, ao entrarmos nesta quarentena, tivemos a oportunidade de olharmos para o essencial em nossas vidas? Para a realidade de nosso país e do mundo? Para nossa atuação no social?
Todas as forças têm seu sentido de atuação quando equilibradas e permeadas pela Luz. O tempo urge. A luz necessita seres humanos livres, unidos e despertos.

Viviane Trunkle

“Porque eu só preciso de pés livres, de mãos dadas, e de olhos bem abertos.”
João Guimarães Rosa