Reflexão para o domingo, 15 de novembro

Época de Trindade

Referente ao perícope do Apocalipse de João 7

O fortalecimento da individualidade é uma característica de nossa época. Trata-se de algo que podemos ver como um processo evolutivo natural e necessário em nosso desenvolvimento como seres humanos.
Cada vez mais vemos a nossa volta as expressões destas “marcas” individuais seja nos círculos mais próximos, seja num contexto mais abarcante. Um risco latente deste princípio de individualização, entretanto, se manifesta quando algumas pessoas, por carisma ou oportunismo, imprimem fortemente suas ideias e terminam com isso arrebanhando outros de maneira unilateral. Disto podem nascer tendências radicais e até intransigentes frente a outras posturas que também podem e devem surgir a partir de manifestações individuais divergentes.
Na sociedade moderna (mundial) tal tendência à cisão vem se fazendo notar de modo cada vez mais crescente no incremento das tensões na sociedade civil e comunidade internacional.
O que urge muitas vezes é tornar-se consciente de que a cada momento somos confrontados com a necessidade de tomar decisões. O fenômeno da pandemia trouxe inúmeros exemplos disto:
Aceitamos ou não o uso das máscaras de proteção?
Mantemos ou não o isolamento social/domiciliar?
Queremos tomar esta, aquela ou nenhuma vacina?
Percebe-se que as medidas aconselhadoras ou restritivas dos órgãos de governo, em todos os seus níveis, cada vez menos conseguem exercer um efeito amplo e duradouro nas pessoas, pois justamente cada vez mais o ser humano se sente capaz e no direito de decidir o que é melhor para si.
Certa vez uma frase lida num livro deixou-me refletindo:

450 milhões de dólares disponíveis,
anualmente, para o homem chegar
a Marte.
450 milhões de crianças
com fome chegam
à Morte.*

Trata-se aqui também do mesmo princípio:
Qual é a minha escolha frente a essa situação? Qual das frentes me sensibiliza mais e, portanto, me mobiliza a fazer algo?
Se temos consciência dos desdobramentos das escolhas que fazemos em nossas vidas, perceberemos, em algum momento, que estaremos contribuindo numa ou noutra direção. Tanto nesta quanto nas inúmeras questões que a vida moderna nos traz.
Talvez não seja arriscado dizer que os tempos modernos nos colocam, de certo modo, diante de um importante divisor de águas na evolução do ser humano e da Terra, pois serão as escolhas conscientes que fizermos que possibilitarão delinear caminhos futuros (isto, se não quisermos abrir mão do direito de fazer escolhas em prol da escolha de outros que estão ávidos por decidir no lugar de cada um que se omita – o que em si não deixa de ser também uma escolha…).
Na linguagem imaginativa do Apocalipse, este princípio aparece na imagem do selo “impresso na fronte” dos filhos de Israel.
Aqui se deve entender que se tratam de todos aqueles (multidões de todas as tribos, nações e línguas) que, com consciência, decidem deixar-se impregnar nos pensamentos (na fronte) pelo impulso (selo) do Cordeiro (Cristo) para que tais impulsos iluminem o sentir (vestes brancas) e vivifiquem o querer (palmas nas mãos) humano individual.
Retornando à frase anterior:
Não sabemos se algum dia o ser humano chegará a Marte e que benefícios isto trará para a humanidade ou para alguns poucos. Entretanto sabemos bem que por algumas de nossas decisões cotidianas podemos contribuir para que seres humanos, em especial, os mais jovens, não tenham que ser abandonados à morte.

“…pois [por causa do Cordeiro] nunca mais terão fome, nem sede, nem calor algum lhes atormentará”

Renato Gomes

*Paco Cac [Paulo Cézar Alves Custódio], no livro “Pulso” Brasília: Edição do Autor 2004