Referente à perícope de João 14
A lagarta é apenas um estágio preliminar da borboleta. A lagarta rasteja sobre a terra, se alimenta das folhas verdes, mas o Pai celeste a escolheu para uma forma de vida mais elevada. Quando a borboleta sai do casulo, ela abre suas asas, voa à luz do sol e se alimenta do pólen dourado das flores, as fecundando e assim colaborando para manter os laços de vida entre todas as criaturas.
Assim se dá a transformação da lagarta na borboleta: em um determinado momento a lagarta começa a se enrolar num fio que ela mesma secretou até desaparecer completamente em seu casulo. A lagarta se “enterra” em seu casulo, morre para o mundo. Por dentro, no entanto, sua substância orgânica, a substância solar continua a viver. Depois de um tempo, algo se mexe dentro do casulo, até que ele se rompe e a borboleta vai se desdobrando, se liberando…
A forma como o ser humano hoje vive e se relaciona com o meio ambiente é apenas um estado preliminar de uma existência espiritual mais elevada reservada para si pelo Pai celeste. Essa existência superior deve ser elaborada ativamente pelo próprio ser humano no seu caminho de vida. A transformação necessária é muito mais radical, mais abrangente do que no caso da borboleta, pois ela reverte na transformação não apenas de toda a humanidade, mas da Terra e de todo o mundo.
Foi assim que o espírito do Sol, o próprio Cristo entrou em Jesus, justamente no momento histórico em que a consciência individual da humanidade se desligava da condução espiritual cósmica e o ser humano, de certa forma, se encapsulava em si mesmo. O Espírito Sol entra no envoltório mortal, no “túmulo espiritual” da existência terrena. Isso acontece no batismo no Jordão quando a voz do Pai se torna audível: “Eis o meu Filho amado, nele vou me revelar”.
O Filho de Deus vai morrendo na natureza mortal de Jesus desde o batismo até a morte na cruz e o sepultamento no túmulo, para que, enfim, a transubstanciação, a ressurreição aconteça.
Na manhã de Páscoa, um terremoto vindo do interior da Terra abre o túmulo. O corpo da ressurreição se eleva sobre a terra, brilha à luz do mundo e vive conosco para sempre… Nos três anos da trajetória terrena de Jesus Cristo, do batismo à morte da cruz, o Espírito de Cristo se revela aos discípulos de várias maneiras. Ele permeia os seus corpos, suas almas e seus espíritos. Quando os discípulos são enviados por Jesus, o próprio Cristo age através deles para a salvação de todo o mundo. Os discípulos são os primeiros em que a palavra Paulo se cumpre: “Eu em Cristo, Cristo em mim”. Pela sua presença, Cristo age continuamente no círculo dos discípulos e dele para as pessoas ao redor.
No entanto, Jesus Cristo morre e ressuscita. Os 12 discípulos unidos em espírito, em comunidade, convivem 40 dias intensamente com o Redentor. Durante esse período acontece a transformação de modo que, na festa de Pentecostes, tendo despertado interiormente na vivência da verdade, os discípulos se tornam portadores do Espírito de Cristo, da sua luz, do seu amor.
Na celebração do Ato de Consagração do Homem ao longo das festas cristãs, podemos conviver com o Cristo, sentir sua presença, ouvir suas palavras, vivenciar seus atos de amor. Assim, nós nos tornamos seus discípulos. Queremos testemunhar sua atuação nos seres humanos, na natureza, no mundo. Seu espírito eterno deve também despertar em nós para a paz, para a salvação e vida do mundo.
Helena Otterspeer