Reflexão sobre o Evangelho de João, 6 de junho

“Muitos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele. Alguns, porém, foram contar aos fariseus o que Jesus tinha feito. Os sumos sacerdotes e os fariseus, então, reuniram o sinédrio e discutiam: ‘Que vamos fazer? Este homem faz muitos sinais. Se deixarmos que ele continue assim, todos vão acreditar nele; os romanos virão e destruirão o nosso Lugar Santo e a nossa nação.’ Um deles, chamado Caifás, sumo sacerdote naquele ano, disse: ‘Vós não entendeis nada! Não percebeis que é melhor um só morrer pelo povo do que perecer a nação inteira?’ Caifás não falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus morreria pela nação; e não só pela nação, mas também para reunir os filhos de Deus dispersos. A partir desse dia, decidiram matar Jesus. Por isso, Jesus não andava mais em público no meio dos judeus. Ele foi para uma região perto do deserto, para uma cidade chamada Efraim. Lá permaneceu com os seus discípulos.
A Páscoa dos judeus estava próxima. Muita gente da região tinha subido a Jerusalém para se purificar antes da Páscoa. Eles procuravam Jesus e, reunidos no templo, comentavam: ‘Que vos parece? Será que ele não vem para a festa?’ Entretanto, os sumos sacerdotes e os fariseus tinham dado a seguinte ordem: se alguém soubesse onde Jesus estava, devia comunicá-lo, para que o prendessem.”
João 11, 45-57
O ato da ressurreição de Lázaro, direcionou os responsáveis pelo povo, a matá-lo. Ele realizara, na esfera pública, o grande ato de iniciação até  então sempre mantido em segredo no interior mais profundo dos mistérios. Portanto ele merece a morte. Os representantes das antigas tradições não podiam decidir por outra coisa. Somente um deles, Nicodemos (Jo 3, 1-15), membro do sinédrio, pôde alcançar a consciência de que, o que acontecia ali, se tratava de uma transformação completa, de um completo novo nascimento. Foi ele quem fez a pergunta: “Como pode um ser humano nascer uma segunda vez?”
Os outros, porém, ao não perceberam a transformação e renovação de todos os princípios, só puderam pronunciar uma sentença, como se quisessem dizer: Ele revelou os mistérios, portanto deve morrer.¹

Cristo nos traz uma nova era. A era da religação com os planos espirituais. Ele auxilia cada alma humana a sair das sombras da morte e caminhar para a luz da vida. Agora não mais com uma consciência grupal, mas sim individual. Não mais com distinções e sim em igualdade. Ele abre as portas para a atuação de cada eu superior humano, nossa essência divina. Ela está livre para permear nosso eu cotidiano, nossa alma, nosso ser vital e físico. Podemos fortalecer essa atuação ao tornarmos consciente em nós o alimento recebido: “Eu sou o pão da vida”. Ao percebermos quem nos tira das sombras: “Eu sou a luz do mundo”. Ao nos acercarmos do portal vida e morte: “Eu sou a porta”. Ao recebermos em nós aquele que nos acolhe e abraça: “Eu sou o bom pastor”. Aquele que liberta nossa alma da morte: “Eu sou a ressurreição e a vida”. Ao nos esmerarmos em direção à evolução humana: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. E finalmente ao nos tornarmos ramos frutíferos da videira: “Eu sou a videira verdadeira”.
A transformação e renovação representa, para as forças adversas, um grande risco de perder sua atuação sobre a alma humana. Assim somos constantemente atacados em nossas bases. Elas querem nossa sentença de morte. Cabe a nós, sempre de novo perguntar: “Posso nascer uma segunda vez?”. Cabe a nós alcançarmos a consciência de que, o que acontece aqui, se trata de uma transformação completa, de um completo novo nascimento.

Viviane Trunkle

¹ Tradução livre de texto de Gérard Klockenbring em “O Evangelho de João”, página 320.