Reflexão sobre o Evangelho de João, 5 de junho

“De novo, Jesus ficou interiormente comovido. Chegou ao túmulo. Era uma gruta fechada com uma pedra. Jesus disse: ‘Tirai a pedra!’ Marta, a irmã do morto, disse-lhe: ‘Senhor, já cheira mal, é o quarto dia’. Jesus respondeu: ‘Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?’
Tiraram então a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o alto, disse: ‘Pai, eu te dou graças porque me ouviste! Eu sei que sempre me ouves, mas digo isto por causa da multidão em torno de mim, para que creia que tu me enviaste’.
Dito isso, exclamou com voz forte: ‘Lázaro, vem para fora!’ O que estivera morto saiu, com as mãos e os pés amarrados com faixas e um pano em volta do rosto. Jesus, então, disse-lhes: ‘Desamarrai-o e deixai-o ir!’”

João 11, 38-44

No começo deste, trecho Jesus sente uma grande movimentação interna e vai para o lugar aonde colocaram Lázaro. Era uma gruta fechada com uma grande pedra. O que vemos em seguida é uma iniciação no limiar entre os antigos e os novos mistérios. Lázaro foi conduzido até a morte e ficou três dias na escuridão do túmulo. Em relatos de outras iniciações também encontramos esse período de três dias nas sombras. Nelas uma pessoa que conduzia a iniciação e no final do processo, chamava o iniciado de volta à vida. Essa tarefa assume o Cristo quando chama Lázaro. O novo da iniciação de Lázaro é que ela acontece abertamente em frente a multidão. Revelar os segredos da iniciação era punido, na antiguidade, com a morte. Logo em seguida Cristo começa seu caminho pela paixão, morte e ressurreição, na qual ele vai transformar a iniciação ainda mais. Desde então, o caminho para a iniciação está aberto para todos os seres humanos através do próprio eu.
O que nos movimenta internamente de tal forma que requer transformação? Quais vivências precisam passar pela morte para se metamorfosearem? Cada um de nós encontrará em sua biografia momentos que não foram bem resolvidos. Situações onde erramos, ou não fizemos o que era necessário. Onde nossa alma foi ferida, ou ferimos outra pessoa. Esses momentos podem impedir e frear nosso desenvolvimento. Mas também podem nos dar a força da transformação. Eles podem passar por um processo de morte e ressurreição.
Cada ser humano tem uma instância em si, capaz de acompanhar essa metamorfose. Podemos chamá-la de eu superior. Ele está ligado com nosso ser eterno e não é idêntico ao eu cotidiano. O eu superior pode dirigir e acompanhar nosso caminho de transformação em nossa biografia. Nele está presente a força do Cristo que acompanhou Lázaro em seu caminho. O que em nós passa pela morte é chamado para a ressurreição por nosso eu superior: “Vem para fora!”. Assim, toda transformação pode se tornar frutífera para o mundo.

Julian Rögge