Reflexão sobre o Evangelho de João, 30 de junho

“Assim Jesus falou, e elevando os olhos ao céu, disse: ‘Pai, chegou a hora. Glorifica teu filho, para que teu filho te glorifique, assim como deste a ele poder sobre todos, a fim de que dê vida eterna a todos os que lhe deste. Esta é a vida eterna: que conheçam a ti, o Deus único e verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que enviaste. Eu te glorifiquei na terra, realizando a obra que me deste para fazer. E agora Pai, glorifica-me junto de ti mesmo, com a glória que eu tinha, junto de ti, antes que o mundo existisse. Manifestei o teu nome aos homens que, do mundo, me deste. Eles eram teus e tu os deste a mim; e eles guardaram a tua palavra. Agora, eles sabem que tudo quanto me deste vem de ti, porque eu lhes dei as palavras que tu me deste, e eles as acolheram; e reconheceram verdadeiramente que eu saí de junto de ti e creram que tu me enviaste.
Eu rogo por eles. Não te rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu. E eu sou glorificado neles. Eu já não estou no mundo; mas eles estão no mundo, enquanto eu vou para junto de ti. Pai Santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste, para que eles sejam um, como nós somos um.
Quando estava com eles, eu os guardava em teu nome, o nome que me deste. Eu os guardei, e nenhum deles se perdeu, a não ser o filho da perdição, para se cumprir a Escritura. Agora, porém, eu vou para junto de ti, e digo estas coisas estando ainda no mundo, para que tenham em si a minha alegria em plenitude. Eu lhes dei a tua palavra, mas o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como eu não sou do mundo. Eu não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno. Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo.
Consagra-os pela verdade: a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo. Eu me consagro por eles, a fim de que também eles sejam consagrados na verdade.’”

João 17, 1-19

O capítulo 17 do Evangelho de João é chamado Oração Sumo Sacerdotal. Esta oração tem um significado muito grande em todo o cristianismo, pois é um dos textos mais profundos que temos. Ela tem também, na vida sacramental na Comunidade de Cristãos, um lugar especial: oramos a Oração Sumo Sacerdotal na confirmação, perante o limiar entre infância e juventude e, na extrema unção, perante o limiar da morte.
Todos nós oramos, em diferentes situações e por diversos motivos. Muitas vezes o que nos leva a orar é o fato de que estamos precisando de ajuda, ou queremos satisfazer um desejo, que pode ser muito pessoal, ou até mesmo egoísta. Valeria a pena, antes de orar, se perguntar: porque queremos orar? Qual é a intenção que nos leva a orar?
Assim, também poderíamos perguntar: porque o Jesus Cristo orou? Quando falamos de Jesus, neste momento da Oração Sumo Sacerdotal, na Quinta Feira Santa, pouco antes de Ele seguir o caminho para o Gólgota, para a morte, estamos falando do Jesus Cristo, do Cristo encarnado no corpo de Jesus. É o ser Divino, que se tornou homem. Assim podemos perguntar: porque o Cristo ora, porque um ser divino ora?
Orar faz parte da atividade que permeia o mundo espiritual: os anjos oram, todas as hierarquias oram. Mas o motivo que leva os seres espirituais a orarem não é, com certeza, o desejo de pedir ajuda para satisfazer algo pessoal e, de modo algum, algo egoísta. A atividade de todos os seres espirituais está permeada da vontade de Deus. Querer estar permeado por esses impulsos divinos que fluem da Trindade para atuar no mundo, podemos também chamar de „orar“. É o que expressamos quando oramos as palavras do Pai Nosso: Seja feita a Tua vontade. A vontade de Deus permeia o mundo, mas ela só atuará entre nós, se permear a nossa vontade. Expressar o pedido de querer ajuda de Deus para satisfazer desejos pessoais, não deveria ser chamado de oração. Realmente orar é o oposto de querer satisfazer uma vontade pessoal. Orar é querer, em liberdade, estar permeado da vontade de Deus.
A Oração Sumo Sacerdotal nos mostra como o Jesus Cristo, neste momento durante a Santa Ceia, mergulha na corrente divina do Pai, para que a Sexta Feira Santa se torne a fonte da qual possa ser renovada a corrente da vontade de Deus entre nós.
No nosso dia a dia não é tão fácil saber qual é a vontade de Deus. É mais fácil saber quais são os nossos desejos pessoais. Mas seria um equívoco pensar que a vontade de Deus seja que nós não tenhamos desejos pessoais, percamos assim a nossa individualidade. A questão não é termos desejos pessoais. A questão é quais são os motivos que nos levam a termos tais desejos. A grande tarefa, como seres humanos, é termos uma vontade própria, para podermos ser livres, mas, ao mesmo tempo, almejar que essa nossa vontade própria seja permeada da vontade de Deus. Isso é o que podemos aprender, procurando aprender a realmente orar.

João F. Torunsky