Reflexão sobre o Evangelho de João, 29 de junho

“Um pouco de tempo, e não mais me vereis; e mais um pouco, e me vereis de novo”. Alguns dos seus discípulos comentavam: “Que significa isto que ele está dizendo: ‘Um pouco de tempo e não mais me vereis, e mais um pouco, e me vereis de novo’ e ‘Eu vou para junto do Pai’? Diziam ainda: “O que é esse ‘pouco’? Não entendemos o que ele quer dizer”. Jesus entendeu que eles queriam fazer perguntas; então falou: “Estais discutindo porque eu disse: ‘Um pouco de tempo, e não me vereis, e mais um pouco, e me vereis de novo’? Em verdade, em verdade, vos digo: chorareis e lamentareis, mas o mundo se alegrará. Ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria. A mulher, quando vai dar à luz, fica angustiada, porque chegou a sua hora. Mas depois que a criança nasceu, já não se lembra mais das dores, na alegria de um ser humano ter vindo ao mundo. Também vós agora sentis tristeza. Mas eu vos verei novamente, e o vosso coração se alegrará, e ninguém poderá tirar a vossa alegria. Naquele dia, não me perguntareis mais nada. Em verdade, em verdade, vos digo: se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vos dará. Até agora, não pedistes nada em meu nome. Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa. Eu vos falei estas coisas por meio de figuras. Vem a hora em que não mais vos falarei em figuras, mas vos falarei claramente do Pai. Naquele dia pedireis em meu nome. E não digo que eu rogarei ao Pai por vós. Pois o próprio Pai vos ama, porque vós me amastes e acreditastes que saí de junto de Deus. Eu saí do Pai e vim ao mundo. De novo, deixo o mundo e vou para o Pai”. Os seus discípulos disseram: “Agora, sim, falas abertamente, e não em figuras. Agora vemos que conheces tudo e não precisas que ninguém te faça perguntas. Por isso acreditamos que saíste de junto de Deus!” Jesus respondeu: “Credes agora? Eis que vem a hora, e já chegou, em que vos dispersareis, cada um para seu lado, e me deixareis sozinho. Mas eu não estou só. O Pai está sempre comigo. Eu vos disse estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo”.

João 16, 16-33

A dor e a tristeza formam o húmus onde pode germinar a verdadeira alegria. E, a verdadeira alegria será sermos vistos e reconhecidos por Cristo. Ali cessarão as dúvidas. Pois seremos (Eu sou), assim como Ele é (Eu sou). Esta transformação se dá através da força do coração. Ao desenvolvermos essa força, no coração residirá a alegria. Nenhum oponente poderá tirá-la de nós. Como caminhar nessa direção? Permitindo que a dor e a tristeza realmente formem o húmus para a alegria. Nos tempos atuais, o mundo nos condiciona a não querermos sentir dor. Há medicamento para quase todas as dores físicas e anímicas. Queremos afastar, “por para fora”, tudo oque nos traz dor e tristeza. Queremos viver em alegria e felicidade. E o pior, muitas vezes confundimos alegria e felicidade com a posse de bens materiais e/ou com o status sócio intelectual. Assim nos afastamos cada vez mais de nossa missão: Aceitar a dor e a tristeza como o caminho para a verdadeira alegria.
Cristo fala aos discípulos sobre um dos maiores tabus e medos da atualidade: A dor e a tristeza da morte.
Quão maravilhosa a imagem trazida por ele: A mulher que em dores abre o portal para o ser espiritual que se encarna na Terra. Este feito transforma dor em alegria!¹

Novalis diz:

“Não poderia ter também acolá uma morte,
cujo resultado seria o nascimento terreno?
Quando morre um espírito, ele se torna ser humano.
Quando morre um ser humano, ele se torna espírito.”

Este é o mistério carregado pela mulher que dá a luz…
Urge lidarmos como o tabu da morte. Forças adversas têm grande interesse em nosso medo e dor da morte. Querem nos prender nesse estado. Cabe a nós, elevarmos esse tema à luz da consciência. Cabe a nós darmos a luz à verdadeira alegria no coração. Aquela que ninguém poderá nos tirar. Pois seremos nele, como Ele é em nós.

Viviane Trunkle

¹Fica a pergunta: Quem está guiando as mãos que causam violência obstétrica? Abuso que gera trauma turvando a alegria…