Reflexão sobre o Evangelho de João, 16 de julho

“Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: ‘A paz seja convosco.’ E, dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: ‘A paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.’ E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: ‘Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos.’
Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: ‘Vimos o Senhor.’ Mas ele disse-lhes: ‘Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei.’
E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: ‘Paz seja convosco.’ Depois disse a Tomé: ‘Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente.’ E Tomé respondeu, e disse-lhe: ‘Senhor meu, e Deus meu!’ Disse-lhe Jesus: ‘Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.’
Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.”

João 20, 19-31

Tomé quer saber. O que os outros dizem a ele não é suficiente. Ele não quer basear sua crença na ressurreição de Jesus no que os outros dizem. Ele tem uma mente crítica, a base de seu conhecimento é a dúvida. Ele quer provas, evidências, uma base sólida para o conhecimento. No entanto, após o encontro com Jesus, ele expressa sua fé de uma forma muito mais contundente do que seus pares: “Meu Senhor e meu Deus”. Aquele que duvidava e era o mais cético torna-se o mais profundo crente. Na verdade ele não necessitou colocar o dedo na ferida e tampouco tocar o lado de Jesus, bastou para ele o convite de Jesus para fazê-lo. Não é nem o toque nem a visão que ajuda na crença, mas o encontro.
Tomé, nesse sentido é um precursor do ser humano moderno. Nós também não queremos basear nossa crença em ouvir dizer, nos relatos dos outros, nas convicções dos outros, em dogmas ou determinações alheias. Nós queremos crer a partir de nossa própria vivência, em liberdade. E, como demonstra a passagem do Evangelho de João, Jesus não faz objeção a isso e até se coloca à disposição para isso. E, apesar de criticar essa atitude dizendo “bem aventurados os que não viram e creram”, ele se colocou e se coloca à disposição para os que querem experimentar para crer, porque afinal esses não querem apenas crer, mas querem saber. Esse saber não será resultado de evidências materiais como o tocar e o ver físico, mas uma vivência interior, mais profunda do que qualquer evidência material.

Carlos Maranhão