Reflexão para o domingo, 16 de fevereiro

Referente à perícope do Evangelho de Lucas 18, 18-34

“Ninguém é bom senão Deus”

Cristo rejeita ser chamado “bom Mestre”. Ele não se considera bom. Só Deus é totalmente bom.

Faz parte da vida humana na Terra estar entre as forças do bem e do mal. Precisamos nos equilibrar entre as potências do mal para podermos fazer o bem. Essas forças são necessárias para o nosso desenvolvimento. Elas servem também para o desenvolvimento do mundo.

Cristo caminha à nossa frente nesse estreito caminho entre as forças adversas. Ele nos guia e nos acompanha a cada passo dado nesse caminho. Ao final dessa trilha, encontraremos a vida eterna.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 9 de fevereiro

Referente à perícope do Evangelho de Mateus 20, 1-16 

 No desenvolvimento embrionário humano, o coração é praticamente o primeiro órgão que começa a funcionar, logo que se forma. As células do músculo cardíaco (o chamado miocárdio), já no 21º dia após a fecundação, começam a se contrair ininterruptamente – na conhecida alternância entre sístole e diástole – e prosseguem, sem pausa, até o último dia de nossas vidas!
Nosso sistema nervoso se forma também relativamente cedo. Contudo suas funções vão amadurecendo bem gradativamente, mesmo após o nascimento, necessitando tempo para chegar ao total desenvolvimento. Sabemos que a capacidade cognitiva mais elevada só se alcança no final da infância e início da vida adulta.
Sabemos também que com o passar dos anos, o sistema nervoso envelhece gradativamente e, em muitos casos, aparecem nítidos sinais de declínio intelectual, esquecimentos e redução da capacidades para aprender coisas novas.
Algo similar ocorre também com o sistema reprodutor. Nascemos com órgãos e glândulas formados, mas não estão maduros para sua função. Eles só desabrocharão na puberdade e permanecerão ativos apenas por um período limitado da vida, pois é natural que o ser humano perca suas capacidades reprodutivas nas fases mais avançadas da vida.
Tanto o sistema nervoso, quanto o reprodutor encontram-se nas extremidades: no polo consciente da cabeça, que coroa a coluna vertebral de um lado, e no polo metabólico do outro, na parte mais inferior deste mesmo eixo de sustentação do organismo.
Temos aqui dois sistemas orgânicos que estão nos pontos extremos, na “periferia” do corpo.
O coração, ao contrário, é um órgão central, encontra-se no “meio” de nosso organismo.
Talvez pudéssemos dizer que quanto mais próximo ao “meio” um sistema ou órgão se encontre, tanto mais sua função, seu trabalho, se inicia precocemente e se estende por mais tempo durante a vida (pulmões, rins, fígado etc.).
Ao contrário, órgãos que estão mais “periféricos” começam a desempenhar sua função, seu trabalho, mais tarde e tendem a encerrá-lo mais cedo.
Órgãos do “meio” trabalham por toda a jornada da vida. Órgãos da “periferia” são convocados para trabalhar somente mais tarde e para uma jornada mais curta.
Mas todos servem a um único organismo. Não há como valorizar mais uma função do que outra. Para a unidade do organismo o que importa é o trabalho conjunto, que promove a saúde.
Aqui vale: os que começam a “trabalhar” por último, serão os primeiros a encerrar sua atividade; os que iniciaram seu “trabalho” primeiro, serão os últimos a cessar!
Mas o foco é o organismo como um todo.
Também nesta parábola do Evangelho de Mateus, Cristo nos aponta esta unidade, através da imagem do denário, que correspondia à medida para uma jornada diária de trabalho na vinha, que aqui se torna imagem para a vida.
Nossa vida nos é dada como a oportunidade para trabalhar em nossa vinha (nossa biografia). Haverá situações em que temos que nos esforçar diariamente, o tempo todo, sem interrupção, pois delas depende nossa própria existência.
Haverá outras, entretanto, que realizaremos por um período menor ou até mesmo por um breve lapso de tempo.
Tudo isto, contudo, contribui para nossa vida, para a unidade de nosso ser: um denário!
A questão que se apresenta, portanto, é: como aprendemos a discernir (e também a escolher) o que pertence mais ao “meio”, que carrega nossa existência do início ao fim, e o que pode ser deslocado para a “periferia”. O que não significa que tais coisas não seja importantes, mas que tem um tempo limitado em nossa biografia.
Do ponto de vista orgânico não é difícil fazer este discernimento: precisamos comer, dormir, realizar atividades com nosso corpo e outras coisas mais. Por outro lado, podemos escolher se neste ou naquele momento queremos nos dedicar a uma vivência artística ou de lazer, ou se intensificamos nosso esforço por um tempo para aprender alguma nova habilidade.
Como é então com o cultivo da vida interior? Pertence ao âmbito do “meio” ou à “periferia”?
Orar, meditar, refletir são atividades que pertencem a um breve período da vida ou podem ser, cada vez mais, deslocadas para o “meio”, para o que é essencial e duradouro em nossa existência?
Talvez pudéssemos tomar esta parábola como ajuda para refletir neste ponto!

Renato Gomes

Reflexão para o domingo, 2 de fevereiro

Referente à perícope do Evangelho de João 5, 1-16 

Em um lago calmo, as águas parecem paradas. A superfície reflete o céu como um espelho, sem nenhuma alteração. Mas, no fundo, tudo está estagnado: as folhas caídas se decompõem lentamente, e a água, sem movimento, fica turva. Somente quando o vento sopra ou a chuva cai, a água é agitada e renovada.
É assim que fica a nossa alma quando a deixamos na passividade. Acostumamo-nos à inércia, às nossas feridas, à rotina das nossas limitações.
No Evangelho de João, Jesus encontra um homem doente perto de um lago. Durante 38 anos ele esperou por um milagre, mas nunca deu o passo decisivo. Então Jesus lhe perguntou: “Você quer ser curado?” A questão é intrigante. Quem não gostaria de ser curado? Mas Jesus não fala apenas do seu corpo, mas do seu coração.
Existem duas condições para a cura: primeiro, reconhecer que estamos doentes. Às vezes, preferimos permanecer no que é conhecido, mesmo que isso nos machuque. Segundo, confiar na força de Cristo para nos levantar. Jesus não lhe dá longas explicações, apenas lhe diz: “Levanta-te, pega o teu leito e anda.” E o homem, sem hesitar, obedece. O milagre começa quando ele ousa acreditar. Antes que ele se mova fisicamente, seu interior já mudou.
Hoje, Jesus nos pergunta a mesma coisa: “Você quer ser curado?” E nos convida a sair da nossa passividade, a deixar de ser como água estagnada. Sua palavra é como o vento que nos desperta e nos move. Ele nos diz: “Levante-se e ande.” A decisão é nossa.

 Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 12 de janeiro

Referente à perícope do Evangelho de Mateus 2, 1-12

Os reis são guiados pela estrela até o menino Jesus que se torna o Cristo. Eles têm a sabedoria de reconhecer esse sinal dos céus e de segui-lo. Depois de encontrar Jesus e a sua família, eles o adoraram e lhe ofereceram as suas dádivas.
Em cada um de nós também há uma estrela guia. Precisamos aprender a reconhecê-la e segui-la. Assim, ela nos guia para as metas e encontros da nossa vida.
A nossa estrela também indica o caminho para nosso encontro com o Cristo. Como chegaremos perante ele? Teríamos presentes para oferecer, como os reis? Durante a vida, temos a possibilidade de preparar essas dádivas. As qualidades do ouro, do incenso e da mirra nos indicam o caminho para a preparação dos presentes para o encontro com o Cristo.

Julian Rögge

Reflexão para o dia de Reis, 6 de janeiro

Em muitos presépios, os reis só aparecem a partir do dia 1º de janeiro. Eles se põem a caminho na busca da sagrada criança. Um sinal nas estrelas, uma constelação especial anunciou uma nova era na Terra para toda a humanidade. Uma nova força cósmico- divina se manifestou na Terra vinda das alturas, anunciada por acontecimentos cósmicos: um nascimento virginal, divino.
As luzes do Natal nos trazem à consciência que a alma humana está intimamente ligada a esse acontecimento cósmico e terreno.
O que queriam os magos do Oriente quando na manjedoura ofertaram as dádivas da sabedoria divina no ouro, da virtude no incenso e da imortalidade na mirra? Ao fazê-lo testemunharam concretamente que haviam entendido a mensagem das estrelas: as forças que anteriormente fluíam do Cosmos para a Terra não mais poderiam ser percebidas e acolhidas simplesmente olhando para o Cosmos, para as constelações das estrelas. Mostraram que no futuro seria necessário que cada ser humano comece agora a olhar sobretudo para o que está a acontecer no desenvolvimento histórico, social e moral da humanidade, na própria Terra.
Através do Cristianismo, os segredos do mundo e da história mundial se tornaram qualitativamente relacionados com curso do ano cristão, com as festas cristãs, sobretudo com o Natal e a Páscoa. O que, na virada dos tempos, aconteceu através do nascimento virginal à luz do Natal e se desenvolveu em 33 anos até a Páscoa, agora moldará a história da humanidade no futuro.
A antroposofia, a ciência espiritual nos incentiva a olhar os acontecimentos nos ciclos de 33 anos passados para compreender a atualidade. No futuro, a história poderia vir a ser compreendida analisando os acontecimentos passados nos ciclos de 33 anos. Isso também significa que o Cristo atua, acompanhando a humanidade nos impulsos espirituais que são iniciados na Terra. Por outro lado, pode-se também dizer que, se por indiferença, ignorância ou comodidade o ser humano não assume sua responsabilidade diante dos acontecimentos, ou até mesmo se deixa levar por interesses puramente terrenos e destrutivos, então também poderá esperar as graves consequências de sua atuação em 33 anos.
Nestes tempos desafiantes, cada um é chamado a gerar novos impulsos sob a luz do Natal e a desenvolver uma nova compreensão do que realmente está a acontecer no plano social e moral. Aquilo que for gerado por uma consciência espiritual sob a luz do Natal poderá celebrar a sua Páscoa em 33 anos. Assim, Jesus Cristo caminhará com a humanidade na direção da sua meta espiritual até o final do desenvolvimento da Terra.
A história se tornará cada vez mais o curso do caminho de desenvolvimento do ser humano para, com Cristo, se tornar um Espírito entre Espíritos.

(Ideias relacionadas com a palestra de Rudolf Steiner: Et incarnatus est… Os ciclos dos acontecimentos históricos, do dia 23/12/1917, na Basiléia.)

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 29 de dezembro

Referente à perícope do Evangelho de João 1, 1-18

Cada palavra
tem três capas.
Três capas envolvem
as palavras.

A primeira é azul
Ela envolve a palavra
num calmo tom anil,
quiçá também um pouco frio.
Essa capa nos ajuda
a compreender,
na mente,
a palavra
para que,
com o distanciamento necessário,
possamos refletir com calma
sobre o seu significado.
Isso é o que a capa azul faz com a palavra

Logo abaixo dessa,
a palavra tem uma segunda capa
Ela está tingida de vermelho ardente.
Quando conseguimos nos aprofundar
até seu calor flamejante,
então encontramos
as emoções,
os sentimentos,
que a palavra
também alberga em si.

Cada palavra humana
pronunciada,
não se dirige apenas à razão,
mas quer falar
também à alma.

A palavra com sua capa azul
fala bem para a cabeça.
A palavra envolta em sua capa vermelha
sussurra diretamente ao coração.

Mas há ainda uma terceira capa.
Ela se encontra posta bem justa à palavra.
Nem sempre é possível vislumbrá-la,
pois essa capa mais interior,
frequentemente
permanece oculta pelas duas outras.

Se tivermos sorte,
num piscar de olhos,
num instante fugaz
ela surge
brilhando,
dourada-reluzente,
através das fendas
entreabertas
das outras duas.

Três capas possui a palavra:
para a razão, a azul;
para o coração, a vermelha
e a outra,
a amarelo-ouro,
é a que se revela,
apenas ocasionalmente,
para o espírito livre.

Se faltar à palavra
uma destas capas,
então a palavra
não durará muito.
Mais cedo ou mais tarde
passará.

Mas se a palavra,
O Logos-Palavra,
Ele mesmo,
se manifestar
– tríplice –
em azul, vermelho e amarelo,
então pode o mundo
vir a passar;
mas a Sua Palavra,
que fala à mente,
ao coração
e ao espírito,
esta palavra
se preservará.

Renato Gomes

Reflexão para o domingo, 22 de dezembro

Referente à perícope do Evangelho de Lucas 1, 39-56.

A história de Maria revela um potencial oculto que irrompe no mundo. Seu “Magnificat”, uma canção de louvor, proclama a grande transformação. Começa com Maria visitando Isabel, onde ambas as mulheres carregam gestações milagrosas, sinais do poder transformador de Deus. Quando Maria cumprimenta Isabel, seu filho salta de alegria, e os propósitos do céu são revelados: o passado profético encontra o futuro divino, e a bênção de Isabel reverbera na canção de Maria. O “Magnificat” é uma declaração revolucionária de um mundo transformado pela graça de Deus. Maria se alegra na misericórdia de Deus, reconhecendo sua humildade como condição para a ação divina. Suas palavras revelam um Deus que eleva os humildes, satisfaz os famintos e transforma o mundo por meio do amor e da misericórdia. Como uma semente que brota, o reino de Deus começa no pequeno e oculto, mas cresce para renovar todas as coisas. A canção de Maria proclama a fidelidade de Deus e nos chama a confiar e agir. À medida que Deus eleva os humildes e sacia os famintos, somos chamados a magnificá-Lo não apenas em louvor, mas por meio de vidas de misericórdia e justiça, o que só se tornou possível com a vinda do filho que estava em seu ventre. Neste Natal, que a canção de Maria nos inspire a ser instrumentos do amor de Deus, trazendo vida e paz a um mundo em convulsão para transformá-lo.


Carlos Maranhão

Reflexão para domingo, 15 de dezembro de 2024

Referente à perícope do Evangelho de Lucas 1, 26-38

Para que algo novo possa nascer na Terra, precisamos de pelo menos duas qualidades. Nós as encontramos nas duas anunciações que ouvimos na Época de Advento.

Após receber a anunciação do nascimento de João Batista, Zacarias fica em silêncio até o menino nascer. No nosso dia a dia, observamos as várias camadas do silêncio. A ausência dos ruídos da civilização nos permite ouvir os sons da natureza. Quando a natureza também silencia, ouvimos o barulho dentro de nossa alma. No momento em que conseguimos silenciar o nosso interior, podemos ouvir o que quer se anunciar em nós.

Maria nos revela a outra qualidade. Ela se entrega totalmente à vontade divina anunciada pelo anjo. Com profunda devoção, ela se abre à grande tarefa que lhe é confiada, colocando sua própria vontade a serviço da vontade divina.

O silêncio interior e a entrega à vontade divina são duas qualidades que precisamos desenvolver ativamente. É um caminho longo. A cada ano, na Época do Advento, recebemos novamente essa tarefa. Através dela, preparamo-nos para o novo que quer nascer.

Julian Rögge

Reflexão para domingo, 8 de dezembro de 2024

William Blake- 1799/1800
William Blake – 1799/1800


Referente à perícope do Evangelho de Lucas 1, 5-25
A anunciação do anjo Gabriel a Zacarias


No começo do seu Evangelho, Lucas se dirige a Teófilo, ou seja, ao “amigo de Deus“. Certamente, nenhuma pessoa concreta, mas todo aquele que consegue ouvir e acolher em seu coração a palavra de Deus. Então, a mensagem do Evangelho começa com dois episódios prometedores: as anunciações do anjo Gabriel a Zacarias e depois a Maria. Os nascimentos dessas duas crianças anunciadas e já nomeadas por Gabriel: João, mais tarde o Batista, e Jesus, mais tarde o Cristo – que terão um significado para toda a humanidade. “Muitos se regozijarão pelo seu nascimento“ (João) e “seu reino não terá fim“(Jesus).

Essas duas crianças se encontrarão no seu caminho da vida e atuarão de tal modo que a graça divina poderá se derramar sobre toda a humanidade, para sempre.

Isso aconteceu na época em que Herodes era rei de Israel, época de muitas provas, pois Herodes não era um rei legítimo, não era fiel ao Deus Javé e estava comprometido com as autoridades romanas, constante ameaça para o povo judeu.

Mas a fidelidade sacerdotal de Zacarias, a pureza de alma de Maria, permitiram que a mensagem do anjo Gabriel lhes fosse revelada e eles se tornassem instrumento da vontade divina. A vontade divina era que o reino de Deus viesse para a Terra. Nós também vivemos em tempos bem críticos. As ameaças à humanidade na nossa civilização materialista, dominada pela técnica, ganham dimensões cada vez mais inéditas e poderosas. Mas o Redentor vive entre nós, conosco até o final dos tempos. O Reino de Deus veio para o interior da alma humana. A fidelidade à obra de amor do Cristo, a pureza de nossos corações poderão abrir os nossos olhos e ouvidos para perceber a revelação da vontade divina. As dúvidas se apagarão e poderemos nos tornar instrumentos da vontade divina, agirmos em conjunto, em comunidade, para o bem, para a luz e vida eterna

Helena Otterspeer

Reflexão para domingo, 1º de dezembro de 2024

Na época de Advento
ouvimos:
Crepúsculo reina ao redor…
Mas é quase verão.
O sol brilha intenso.
As cores resplandecem.
A luz inunda a Natureza.
Entretanto, no mundo dos seres humanos,
em muitos lugares, tudo se torna cinzento,
cinéreo,
pela poeira das bombas,
pelo peso dos escombros.
É quase verão,
mas entre os filhos dos homens
o frio e a escuridão se alastram.
Toda guerra é cinzenta,
Toda injustiça também…
O desprezo pela vida é mais cinzento ainda.
Crueldade cinérea, brutal,
que acinzenta a alma…
Sobrevém o crepúsculo da dignidade humana,
dentro da alma.
E logo deverá ficar bem escuro!
Lá fora o verão colorido, luminoso!
Cá dentro o frio cinzento, insensível.
Não é apenas um crepúsculo da alma.
A razão e a fraternidade também anoitecem,
perdem-se na escuridão.
No escuro
as mentiras e
as verdades fraturadas
se sentem melhor.
Almas cinzentas,
cobertas de sombras,
escondem melhor
sua real intenção.
Sim,
o crepúsculo reina ao nosso redor.
A luz é encoberta.
O bem é soterrado.
–   –   –   –   –

Mas já é Advento.
Advento é novo começo.
Advento abre caminhos.
Caminhos novos, ainda não trilhados.
Mas esses caminhos conduzem,
no início,
inevitavelmente,
através de sendeiros cinzentos,
cobertos de cinzas.
É triste, mas é assim que tem que ser…
No Advento, entretanto,
se anuncia
nova aurora.
A luz retornará.
Retornarão também as cores.
Neste novo começo
tudo ainda é muito suave,
delicado,
quase imperceptível.
Pois
ainda não nasceu.
A aurora
está grávida e
carrega dentro de si
luz brilhante,
cores resplandecentes,
que que se anunciam
e que querem nascer.
Hoje podemos
apenas pressentir.
Nós podemos
apenas esperançar.
Esperança e pressentimento,
contudo,
nos dão força,
nos dão coragem,
nos incentivam
a seguir caminhando.
O caminho do Advento
é longo.
Apenas começamos
a trilhá-lo.
Mas este caminho é diferente;

é criado
somente quando se caminha.
É o passo
que faz o caminho.
A cada passo
o caminho se torna reconhecível.
O caminho se torna reluzente.
As cores resplandecentes,
a luz brilhante
geram-se de novo.
Elas se geram,
quando aprendemos
a desviar-nos
dos caminhos cinzentos.
Quando decidimos
deixar para trás a escuridão.
Então,
a nova aurora no céu,
o novo amanhecer
anuncia
o que se gera
dentro da alma humana:
O nascimento
da luz na consciência,
das cores na convivência fraterna.
Isto é Advento.

Renato Gomes, Berlim