Reflexão para o domingo, 11 de junho de 2023

Referente à perícope do Evangelho de João 17, 6-11

“Revelei teu nome aos seres humanos que do mundo me deste.

Eles eram teus e tu os deste a mim. Eles guardaram tua palavra.”

Existem diferentes acepções do verbo guardar:

Podemos guardar as palavras na memória. Sempre que necessitarmos, poderemos relembrá-las e repeti-las. Aí elas estarão à disposição sempre que as trouxermos à consciência.

Podemos também guardar no sentido de observar a palavra, cumprir ou realizar a intenção que ela contém. Aqui a palavra é guardada, portanto, no âmbito da vontade e motiva a ação. Esta acepção se aplica em geral aos mandamentos ou aos princípios religiosos, que norteiam nossa conduta ética na vida.

Podemos ainda guardar a palavra no coração. Aqui surge um matiz de acolhimento e de cuidado, de modo que aquilo que for ali guardado, permanecerá vivo, não apenas como conteúdo cognitivo na memória ou impulso volitivo em nosso atuar no mundo, mas principalmente preservará sua força original.

Quando guardamos certas palavras e ainda ecoa em nós a sua sonoridade original, ainda reverbera em nós o calor das emoções que tais palavras continham ou ainda somos capazes de ouvir o timbre e a qualidade da voz com que foram pronunciaram – pois tais palavras, via de regra, saíram da boca de uma pessoa importante em nossas vidas -, quando isto acontece, significa que guardamos estas palavras no coração.

Os pastores na noite de Natal visitaram o menino Jesus e contaram com grande alegria a mensagem que ouviram dos anjos. O Evangelista Lucas descreve que Maria guardava estas palavras e as “acariciava” em seu coração.

A Boa-Nova de Jesus Cristo – seu Testamento à humanidade – são suas palavras.

Palavra que recebeu do Pai e a deu ao ser humano.

Não está mal que as aprendamos de memória, só não deveríamos citá-las de maneira mecanicista ou esvaziadas de sentido.

Também é louvável apreender de Suas Palavras, impulsos para pôr em prática na vida, contudo não deveríamos enrijecê-las e transformá-las em dogmas que seguimos como autômatos.

A Palavra da Boa-Nova precisa de uma mente consciente e de mãos generosas plenas de boa vontade, mas precisa fundamentalmente de um coração aberto, capaz de abrigá-la, acolhê-la e de cuidar para que ela se mantenha viva.

Somente assim a Palavra Divina – o Verbo Divino ou o Logos, como os gregos o chamaram – encontra seu devido lugar no ser humano, e pode ecoar, como no princípio, pelos sucessivos ciclos dos tempos.

Renato Gomes