Conto: O prato de comida

Era uma vez um reino prospero e bonito que por muitos anos foi governado por reis generosos e preocupados com o seu povo fazendo sempre o melhor para que todos vivessem em harmonia e tivessem tudo aquilo que precisavam. Um dia o governante daquele lugar ficou doente e morreu, ele não tinha filhos e quem assumiu o trono no seu lugar foi o seu único sobrinho distante chamado Zovino.
O rei Zovino, diferente de todos os outros governantes que haviam reinado naquele lugar, era um homem mesquinho, daqueles governantes que só se preocupam consigo mesmo, com sua família, com seus amigos e não estão preocupados com o bem das pessoas. Assim, Zovino fazia tudo para arrecadar em seu palácio todas as riquezas que seu povo era capaz de lhe dar, mas jamais pensava em ajudar os mais necessitados. Havia algumas pessoas na corte, entre elas um conselheiro chamado Eustáquio, que sempre tentava mostrar ao rei que aquela não era a maneira correta de governar. Todos os reis do passado haviam sido sempre muito justos e corretos e Zovino estava se tornando um rei muito diferente e isso, alguma hora, traria problema para as pessoas. Mas Zovino, mesquinho como era, não se importava com isso, mas Eustáquio e os outros conselheiros sempre lhe chamavam a atenção.
Chegou um tempo em que veio uma grande fome no país. Os celeiros do rei e as cozinhas do palácio estavam repletos de alimentos, mas a população mais pobre começou a passar fome. Não havia alimentos para todos e começaram realmente a passar grande necessidade. Vivia próximo dali uma família que tinha 13 filhos, uma menina mais velha chamada Maria e seus 12 irmãos menores. Os pais de Maria chegaram a vender tudo que tinham para conseguir comprar alimento para toda a família. Mas depois de um tempo já não tinham mais nada para vender e os dois ficaram doentes. Maria que era a mais velha, cuidava dos irmãos, mas a vida estava ficando muito difícil pois não havia mais alimento na casa e nenhum objeto de valor que pudesse ser vendido.
Por insistências dos conselheiros, principalmente do conselheiro principal Eustáquio, insistiram tanto ao rei que ele resolveu fornecer alimento para as pessoas, abrir os celeiros do palácio, abrir as dispensas da cozinha e fornecer o alimento que havia em abundância para todas as famílias. No princípio Eustáquio e os demais conselheiros ficaram muito contentes quando o rei aceitou esse pedido, mas Zovino, mesquinho como era, disse: “Está bem, mas vai ser assim, cada família virá aqui carregando o seu prato, vamos colocar no prato deles aquilo que couber, mais que isso não vou dar.” Eustáquio então, levou a ordem do rei e mandou que anunciassem na praça dizendo que cada pessoa de cada família deveria trazer o seu prato e o rei colocaria sobre o prato os alimentos que ele  doaria e eles teriam que economizar esse alimento pelos próximos dias.
Todas as pessoas então, que estavam passando muita fome, até que ficaram contentes com aquela ideia. Maria e seus irmãos na verdade ficaram mais tristes ainda, pois haviam vendido tudo e não tinham mais pratos. E sem eles, como conseguiriam alimento lá no palácio do rei Zovino? Maria ficou triste ao ouvir aquela notícia. Eustáquio que estava ali na praça viu uma menina chorando e perguntou: “Mas você, por que chora menina? Vai buscar na sua casa o prato e nós te daremos os alimentos.” Ela contou o seu drama, contou que tinha muitos irmãos para alimentar e não tinham prato. Eustáquio ficou muito penalizado, sabia que não podia fazer diferente do que o que o rei Zovino havia determinado, mas disse-lhe: “Não tenha medo, não se preocupe, vá até a floresta e procure a árvore mais alta, no tronco dessa árvore mais alta você encontrará uma portinhola, bata e a porta vai abrir, peça para a pessoa que lhe atender o que você necessita.”
Maria fez então como o conselheiro Eustáquio havia dito. Foi até a floresta, procurou bastante, até que encontrou uma árvore gigantesca – com certeza a maior que havia naquele lugar. E de fato havia no tronco uma portinhola. Maria bateu, e uma mulher muito velha lhe abriu a porta: “O que você quer minha filha?” perguntou a velhinha. “Ah, eu necessito pratos para os meus irmãos. O rei vai distribuir comida, mas se não tivermos pratos não poderemos receber nada.” “Entre, entre em minha casa, vou ver o que posso fazer para lhe ajudar.”
A menina entrou, e dentro do tronco havia uma casinha bem-arrumada, e lá a velhinha começou a procurar nas gavetas dos armários. Depois de muito procurar entregou para menina um prato de latão e disse: “Pronto, leve este prato, com ele você vai poder pegar os alimentos que necessita.” Maria ficou agradecida, mas, ainda assim, disse: “Senhora, eu agradeço seu presente, mas eu tenho doze irmãos e os meus pais, e num pratinho desses mal caberia comida para uma pessoa…” A velha olhou para a menina e disse: “O desejo de ajudar os seus irmãos e os seus pais é grande no seu coração?” “Sim, sim é muito grande!” “Então não se preocupe, leve esse pratinho. Agora, faça o seguinte: seus doze irmãos terão que ir junto com você. Cada um deles vai segurar num pedacinho do prato e ficar na fila esperando chegar o momento de lhe entregarem a comida. Faça isso, minha jovem, e tudo vai dar certo.”
Maria viu que a senhora estava realmente com boas intenções de lhe ajudar, pegou o pratinho e foi até a sua casa. No dia determinado pelo rei Zovino havia uma grande fila de pessoas enfrente ao palácio. As pessoas do lugar, carregavam famintas, cada uma o seu pratinho. Na esperança de conseguir a comida que havia sido anunciada. E Maria estava lá, com seus doze irmãos. Cada um deles, do maior ao menorzinho, tentava ficar em volta daquele pequeno prato e segurava uma bordinha que fosse. E assim foram caminhando na fila.
Quando chegou a vez deles, os empregados do rei Zovino que estavam distribuindo a comida pegaram dentro da cesta de pão o menor pedacinho (porque o prato era muito pequeno) e colocaram sobre o prato. Mas para a surpresa de  todos os irmãos em volta segurando, o prato começou a crescer, e eles foram se afastando, porque o prato foi ficando grande, grande. E agora o prato era enorme, e havia apenas aquele pedacinho de pão. Então Eustáquio olhou aquilo, olhou para Maria que sorria de alegria, olhou para o rei Zovino que não estava entendendo nada do que estava acontecendo e disse: “majestade, a ordem que havia sido dada era encher o prato de cada um. Esta menina, com seus irmãos, trouxe seu prato, então temos que enchê-lo.”
E mandou que os serventes colocassem. Eles colocaram muitos pães, muitas frutas, muitos doces e outros alimentos. E o prato era tão grande que parecia que não terminava a quantidade de comida que era necessária pra completá-lo. Os doze irmãos e Maria quase não conseguiam carregá-lo, tão pesado ele ficou, tão cheio de comida estava.
E assim, foram para casa alegres – teriam comida por muito tempo, e Maria e seus familiares, como eram generosos, sabiam que nem eles iam comer toda aquela comida: iam dar aos vizinhos, aos amigos, aos que estivessem necessitados. Porque é assim que se faz em épocas difíceis, compartilhamos com os outros aquilo que nos sobra. E isso o rei Zovino não entendia. E ficou tão aborrecido que disse: “Mas Eustáquio, eu não previ que as coisas sairiam desse jeito, eu não mandei cada um trazer um prato? Eles trouxeram um prato mágico, um prato gigante!” E Eustáquio, olhando para o rei Zovino disse: “Majestade, nós apenas cumprimos a sua ordem, mas talvez o senhor possa aprender algo: quando se quer ajudar, se ajuda não apenas com a medida daquilo que está na nossa intenção, mas se ajuda verdadeiramente com a medida da necessidade daquele que precisa.”
Depois que haviam comido tudo, o prato voltou ao seu tamanho normal e Maria o devolveu à velhinha que morava na floresta. E assim, durante um bom tempo tiveram alimentos, até que a fome naquele país passou e a vida começou a retornar ao normal. O rei Zovino não continuou sendo rei por muito tempo. Por sorte apareceu depois dele um rei generoso e bom, como haviam sido os reis do passado, e a prosperidade voltou àquele reino.
Renato Gomes