Conto: O cavalo e o abismo

Um rei tinha três filhos, quando o mais velho chegou na idade de casar, pediu ao pai sua permissão para procurar a princesa no reino da luz. O pai permitiu e o filho mais velho pegou sua mochila e seu cajado, e seguiu seu caminho procurando a Vera Sofia.
Depois de algum tempo ele chegou à beira de um abismo. Do outro lado do abismo o caminho continuava, mas ele sabia que nunca conseguiria pular para o outro lado.
Próximo do lugar onde ele estava, havia uma casinha e ao lado um cavalo pastando. Ele seguiu até a casinha e bateu à porta. Tornou a bater e, como ninguém respondia, ele foi abrindo a porta bem devagar. A casa estava vazia e no meio da sala estavam os arreios e a sela do cavalo. O príncipe então teve uma ideia. Com aquele cavalo ele poderia pular para o outro lado do abismo.
Ele pegou os arreios e a sela, foi buscar o cavalo, e depois de arreá-lo, o montou. O cavalo começou a pular, a correr, a empinar e, não demorou muito, o príncipe foi jogado no chão, quebrando uma perna. Com muita dificuldade ele voltou para casa e contou seu azar aos irmãos.
Não demorou muito, o segundo príncipe quis tentar também a sua sorte. Também ele chegou até o abismo e encontrou a casinha, o cavalo, os arreios e a sela.
Ele arreou o cavalo, mas antes de montar disse: “- Eu não sou tão burro quanto o meu irmão”. Pegou a sua mochila e retirou o que tinha trazido: um chicote e esporas. Com as esporas nos pés e o chicote na mão montou o cavalo. Quando o cavalo começou a pular bateu no cavalo com o chicote e o machucou com as esporas, até que o cavalo parou de pular e começou a fazer o que ele queria.
Com o sentimento de vitória cavalgou a uma certa distância se afastando do abismo, virou o cavalo, bateu com toda a força no cavalo com o chicote, fincou as esporas e o cavalo começou a correr o mais rápido que podia em direção ao abismo. O príncipe se preparou para pular o abismo e quando chegaram na beira, com o príncipe já dando o impulso para pular, o cavalo travou as patas dianteiras jogando o príncipe num salto para dentro do abismo.
Ele teria morrido se não tivesse a sorte de se agarrar em uma árvore que crescia no penhasco e, com muita dificuldade, conseguiu subir, voltar para casa e contar aos seus irmãos o seu azar.
Não demorou muito, o irmão caçula quis tentar a sua sorte. Também ele chegou até o abismo e encontrou a casinha, o cavalo, os arreios e a sela. Ele entrou na casinha, abriu a janela, acendeu o fogão, tirou da sua mochila um cobertor e a comida, cozinhou seu jantar, fez a cama e dormiu.
No dia seguinte, ele cortou um pouco de grama, foi buscar o cavalo, deu água e comida para ele, pegou da sua mochila uma escova e começou a escovar o cavalo, o que o cavalo achou muito agradável. Ele falava com o cavalo, passava a mão em seu pescoço, deixava o cavalo cheirar a sua mão. Isto ele fez por toda uma semana.
Na segunda semana ele pegou os arreios e a sela, arreou o cavalo e o levou para passear, puxando-o pelas rédeas atrás dele.
Na terceira semana ele começou a sentar-se na sela e a cavalgar. E logo já estava saindo para galopar pelos campos. Toda vez que o príncipe saia da casinha, o cavalo já vinha até ele e o empurrava com o focinho, querendo cavalgar com ele.
Na quarta semana ele começou a exercitar com o cavalo a saltar por sobre troncos de árvores caídas, por pedras grandes e por buracos cada vez maiores.
Já fazia um mês que o caçula havia saído de casa. Os irmãos pensavam que ele tivesse morrido no abismo. Mas quando completou um mês, ele pegou a sua mochila, apagou o fogo do fogão, fechou as janelas e a porta da casinha, montou no cavalo, tomou distância do abismo, acariciou o pescoço do cavalo e sussurrou no seu ouvido: “Vamos meu amigo”.
O cavalo começou a galopar, sempre mais rápido e quando chegou na beira do abismo deu um pulo majestoso chegando até o outro lado.
O príncipe parou o cavalo, acariciou o seu pescoço, olhou por um momento para trás, para o outro lado do abismo, voltou-se para a frente e seguiu cavalgando até o castelo da princesa.
E eles se casaram e viveram muito felizes.

João F. Torunsky