Reflexão sobre o Evangelho de João, 1 de junho

“De novo, os judeus pegaram em pedras para apedrejar Jesus. E ele lhes disse: ‘Eu vos mostrei muitas obras boas da parte do Pai. Por qual delas me quereis apedrejar?’ Os judeus responderam: ‘Não queremos te apedrejar por causa de uma obra boa, mas por causa da blasfêmia. Tu, sendo apenas um homem, pretendes ser Deus!’ Jesus respondeu: ‘Acaso não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse: sois deuses?’ ‘Ora, ninguém pode anular a Escritura. Se a Lei chama deuses as pessoas às quais se dirigiu a palavra de Deus, por que, então, acusais de blasfêmia àquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo, só porque disse: ‘Eu sou Filho de Deus?’ Se não faço as obras do meu Pai, não acrediteis em mim. Mas, se eu as faço, mesmo que não queirais crer em mim, crede nas minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em mim e eu no Pai.’
Mais uma vez, procuravam prendê-lo, mas ele escapou das suas mãos. Jesus se retirou de novo para o outro lado do Jordão, para o lugar onde, antes, João esteve batizando. Ele permaneceu lá, e muitos foram a ele. Diziam: ‘João não fez nenhum sinal, mas tudo o que ele falou a respeito deste homem é verdade’.”

João 10, 31-41

Jesus se refere aqui ao Salmo 82:

(…) Não entendem, não querem entender, caminham no escuro; vacilam todos os fundamentos da terra. Eu disse: ‘Vós sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo. No entanto, morrereis como qualquer homem, caireis como todos os poderosos’. (…)

Somos deuses? Podemos nos chamar filhos de Deus? Provavelmente a maior parte do tempo não sentimos isso.
Todos nós temos uma chama do divino em nós. Uma flama que vem do verbo eterno, da palavra de Deus. Esse divino em nós muitas vezes não está visível, coberto pelas nossas preocupações, erros e descuidados. Não temos consciência dele. Não o deixamos brilhar.
Na Época de Pentecostes, na festa do Espírito Santo, podemos nos lembrar da chama divina em cada um de nós. É possível encontrá-la em nosso íntimo e no encontro com outro ser humano. Como a chama de uma vela, ela precisa de cuidado. Precisa de um âmbito tranquilo, de um alimento que pode se transformar em luz e calor, e do pavio onde ela pode se acender. Sem as agitações das nossas preocupações e medos. Para encontrá-la necessitamos de olhos que a veem e coração que a sente.
Com o cuidado necessário, a chama divina brilhará cada vez mais. Fortalecendo o divino em nós, nos tornaremos verdadeiros filhos de Deus e realizaremos sua obra.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 31 de maio

Reflexão para domingo 31 de maio de 2020.
Época de Pentecostes
Referente ao Perícope de João 14, 23 – 31

O Ato dos Apóstolos, em seu segundo capítulo, nos conta que no dia de Pentecostes  os discípulos estavam reunidos na casa onde haviam celebrado a Última Ceia e que, subitamente, um fogo dos céus apareceu sobre eles se fragmentando em línguas de fogo que descenderam e repousaram sobre cada um dos doze discípulos de Cristo. A partir deste momento eles ficaram “plenos do Espírito” e começaram a anunciar a Boa Nova de Jesus Cristos a todos os povos.  Eles tornaram-se apóstolos (palavra grega que traduzida quer dizer “enviado”) e, até o final de suas vidas, se dedicaram a levar esta mensagem a todos os lugares que visitaram. Esta “flama divina” jamais se extinguiu de seus corações e de suas consciências.  Desde então a tradição cristã relembra todos os anos, nos 50 dias após a páscoa, a vinda do Espírito Santo.
Na Comunidade de Cristãos, temos o costume de ler na celebração deste dia o trecho final do capítulo 14 que inicia com as palavras:
“… Quem me ama de verdade, guarda minhas palavras”
Podemos refletir sobre esta frase à luz da narrativa do acontecimento de Pentecostes: O que significa “guardar” sua palavra?
– Guardar na consciência, estudá-la, memorizá-la, aprofundar-se na compreensão de seu significado.
– Guardar no coração e deixar que Sua Palavra seja em nós um depurador de nossa alma, um lapidador de nossos sentimentos. Há inúmeras passagens nos Evangelhos, em especial nas parábolas, que podem nos ajudar em momentos de dificuldades, quando sentimos medo, solidão ou angústia. São palavras que trazem fortalecimento e consolo.
– Guardar Sua Palavra no mais profundo do nosso ser e utilizar os ensinamentos de Cristo como impulso para atuar na vida, impulsos para vencer o próprio egoísmo, para atuar de forma coerente na vida.
Tudo isto pode ser entendido a partir desta exortação: “guardar!”
Pode-se ainda ampliar o processo:
No início do evangelho de João, o evangelista se refere a Cristo como o “Verbo Divino”, o “Logos”, ou seja, a “Palavra”. Se tomamos esta expressão não apenas como uma alegoria, mas como uma realidade, significa que a força do ser de Cristo vive na palavra, Cristo mesmo vive em Sua Palavra. Neste sentido, guardar Sua Palavra, significa incorporá-la e incorporá-lo ao mesmo tempo, significa compenetrar-se com esta palavra que representa seu Ser. O texto do capítulo 14 prossegue:
“… e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.”
Guardar a palavra de Cristo é permitir que Ele adentre em nossa alma e que habite em nós, em nossa consciência, em nosso coração, nos impulsos que nos levam a atuar no mundo.
Vimos como o impulso de Pentecostes permaneceu aceso nos discípulos por toda sua vida terrena. Foi esta “chama divina” que os levou a todos os lugares onde deviam ir e lhes deu coragem quando tiveram que superar dificuldades.
Num sentido moderno, podemos dizer que Pentecostes hoje pode ser vivenciado a partir da exortação expressa pelo próprio Cristo no capítulo 14 aos discípulos, ou seja, a todos aqueles que, também na atualidade, querem se tornar Seus discípulos. Pentecostes acontece hoje, cada vez que nos esforçamos para “guardar” em nós algo de seu impulso espiritual. Cada vez que nos esforçamos para vivificar em nós este impulso transformador e nos sentimos imbuídos da vontade de ir ao encontro do outro para ajudá-lo, para consolá-lo, para nos confraternizarmos com ele. Nosso tempo urge por este impulso, urge por seres humanos que estejam imbuídos genuinamente de impulsos fraternos e solidários com o próximo. Tais impulsos devem também se estender a todos os seres da natureza, no cuidado, no respeito e na proteção aos seres vivos e ao meio ambiente.
Pentecostes, portanto, não é uma festa para recordar algo que já aconteceu. Trata-se do desafio diário de cuidar para que Sua Palavra não se perca ou se enrijeça no coração humano, mas que se torne algo vivo, para que a “vida pura de Cristo” vibre como fogo espiritual em nós.
Imbuídos deste fogo, fica então evidente o que Ele mesmo quis dizer ao final desta exortação: “… ergamo-nos, agora podemos sair deste lugar!”
Pentecoste não é algo para ficar limitado a uma pessoa ou a um pequeno grupo ou a um determinado lugar. É preciso sair pelo mundo e levar a todas as criaturas a força espiritual que flameja em Sua Palavra e que se tornou viva dentro de nós.

Renato Gomes

Reflexão sobre o Evangelho de João, 30 de maio

“E em Jerusalém havia a festa da dedicação, e era inverno. E Jesus andava passeando no templo, no alpendre de Salomão. Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: ‘Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize no-lo abertamente.’ Respondeu-lhes Jesus: ‘Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim. Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um.’”

João 10, 22-30

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem”. O ponto crucial é ouvir a voz de Cristo, e ouvindo-a ser conduzido. Se não ouvimos sua voz, somos como ovelhas dispersas, que ouvem muitas vozes e não conseguem distinguir, entre essas vozes, a voz do pastor, e portanto, estão perdidas sem saber em que direção ir, estão desnorteadas, sem rumo. Muitos temem a ideia de ouvir uma voz externa e ser conduzidos por ela numa direção alheia à sua vontade. Sobretudo em nossa época, quando cada vez mais, a vontade própria quer soberania, liberdade de escolha. Ninguém quer ser doutrinado, aliciado, convencido. Mas muitos seguirão vozes estranhas, crendo que de fato correspondem a sua verdadeira consciência. Mas a voz de Cristo é a voz do Espírito Santo e ouvi-la significa ouvir a voz do pensar superior, a voz do Logos. Só essa é a voz da própria consciência. Só ela pode conduzir cada um de nós em seu verdadeiro destino, só ela conduz à liberdade. Liberdade, palavra cara e, no entanto, tantas vezes malograda, pois permanecemos acorrentados a tantos enganos. Não digo apenas aos desejos incontrolados, pois não é difícil perceber que cabe a cada um reconhecer suas amarras para poder se libertar delas num trabalho disciplinado de autoconhecimento. Mas sobre valores, convicções e discernimento do caminho a seguir, há tantos enganos, que se procedemos a ouvir alguma voz sedutora que nos promete o paraíso, sem antes ter feito um trabalho de ouvir, no interior da alma, à verdadeira voz da consciência que não se distingue da voz do Cristo, podemos nos enganar e ser conduzidos não ao paraíso, mas ao abismo. Em Pentecostes, os primeiros discípulos de Cristo receberam o Espírito Santo, na forma de línguas de fogo sobre cada uma de suas cabeças. Isso permitiu que compreendessem qual era sua verdadeira missão de apóstolos e se puseram a cumprir sua missão. Essa vinda do Espírito Santo não foi exclusivamente para os discípulos imediatos, mas para os discípulos de todos os tempos que se colocam no caminho de Cristo. Também a esses está, e sempre estará, disponível a voz do Cristo. Seres humanos queiram ouvi-la!

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 29 de maio

“‘Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. O assalariado, que não é pastor e a quem as ovelhas não pertencem, vê o lobo chegar e foge; e o lobo as ataca e as dispersa. Por ser apenas um assalariado, ele não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas. (Tenho ainda outras ovelhas, que não são deste redil; também a essas devo conduzir, e elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.) É por isso que o Pai me ama: porque dou a minha vida. E assim, eu a recebo de novo. Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade. Eu tenho poder de dá-la, como tenho poder de recebê-la de novo. Tal é o encargo que recebi do meu Pai.’
Estas palavras causaram nova divisão entre os judeus. Muitos deles diziam: ‘Ele tem um demônio, perdeu o juízo. Por que o escutais?’ Outros diziam: ‘Estas palavras não são de alguém que tem um demônio. Acaso um demônio pode abrir os olhos aos cegos?’”

João 10, 11-21

A imagem do pastor aparece no novo testamento no nascimento do menino Jesus. “Um anjo do Senhor lhes apareceu, e a glória do Senhor os envolveu de luz. Os pastores ficaram com muito medo. O anjo então lhes disse: ‘Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! E isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura.’ De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste cantando a Deus: ‘Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos que são do seu agrado!’” (Lc 2, 9-14)
Os pastores trazem ao menininho, a força e o calor do coração. A simplicidade, alegria e humildade.
Agora, passados 33 anos, o próprio Cristo tornou-se um pastor. Um bom pastor.
Aquele que irradia tamanho amor pela humanidade, capaz de resgatá-la e reconduzi-la à esfera do Pai. Ele se relaciona conosco, assim como o Pai se relaciona com ele. Ele nos conhece e acolhe. Surge então, como um presságio, a imagem do cordeiro que dará a vida por nós. E uma revelação extraordinária: “Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade”. Cristo caminha livremente para a morte, por nós. Está preparado para ser imolado.
O Bom Pastor será também o cordeiro do Pai. Esta imagem perdurará até o apocalipse: “Depois disso, eu vi: o Cordeiro estava de pé sobre o monte Sião, e com ele, os cento e quarenta e quatro mil que tinham o nome dele e o nome do seu Pai inscrito em suas frontes.” (Apo 14, 1)
O Eu Sou o bom pastor nos ampara em muitos momentos de nossa vida. Sempre quando mais necessitamos ele atua através da mão que suave pousa em nosso ombro, do olhar amigo, das palavras atenciosas e calorosas. Quando sentimos nosso coração aquecido, lá está o Bom Pastor. Ele nos revela que somos seres amados. E é por meio do amor, que desenvolvermos uns pelos outros e pelo mundo, que transformaremos a Terra em uma Nova Jerusalém.

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 28 de maio

“Jesus disse então: ‘Em verdade, em verdade, vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Todos aqueles que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo; poderá entrar e sair, e encontrará pastagem. O ladrão vem só para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.’”

João 10, 7-10

A porta é um limiar. Um limiar entre dentro e fora, entre áreas distintas. No dia a dia a encontramos em vários lugares. A porta possibilita a passagem de um âmbito para outro.
Também a encontramos em nosso interior. No limiar entre nosso mundo interno e o mundo externo. Há limiar entre o dia e noite; entre a vida na Terra e a vida no mundo espiritual.
Podemos passar por essas portas cada vez mais conscientes?
Torna-se uma grande ajuda estarmos mais atentos ao atravessarmos a porta que nos leva ao mundo e ao encontro com outras pessoas. Possibilitamos verdadeiros encontros ao deixarmos nossos problemas e egoísmos antes de passar pela porta. Pode ser um grande auxílio passar mais consciente pelo limiar entre o dia e a noite. Preparamos essa passagem ao olharmos para o dia que se finda, ver o que foi bom e o que pode ser melhorado. Fazer uma oração nos momentos antes de dormir, nos abre para o mundo espiritual. Pela manhã podemos agradecer pelo novo dia e retomar nosso trabalho na Terra. Pouco a pouco faremos as passagens diárias mais conscientes e com isso nos prepararemos para a grande passagem no final da vida: A passagem pela porta da morte no limiar entre as vidas.
“Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo; poderá entrar e sair (…)”
Em todas as passagens, precisamos coragem para dar o primeiro passo e aceitar a incerteza do que nos espera do outro lado da porta. Ao darmos o primeiro passo podemos descobrir a ajuda do “Eu sou”. Ao passarmos pela porta, perceberemos que todo encontro tem um sentido em nossa vida.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 26 de maio

“‘Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.’
Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que lhes dizia.”

João 10, 1-6

Há uma porta que nos conduz ao reino dos Céus. E aquele que nos conduz é o Bom Pastor. Na verdade, ele é a própria porta. Qual seria aquele que entra por outra parte, no Evangelho designado como ladrão e salteador? O que em nós nos rouba a paz, nos induz ao medo, à irracionalidade, à insensatez, à insegurança, ao conflito entre irmãos? Se nos percebemos com qualquer desses sentimentos, já sabemos qual foi o caminho escolhido, mesmo que inconscientemente. Não entendemos a parábola como a da obediência cega, uma consciência de massa, como poderia ser interpretada a mentalidade das ovelhas que seguem cegamente o pastor. Nós a entendemos como a parábola que nos remete àquele que reafirma nossa individualidade, nossa identidade. Sendo assim, cabe a cada individualidade fazer a escolha. Para isso, cada individualidade foi dotada de uma centelha divina na criação, Cristo veio para despertá-la e, na medida em que escolhemos ouvir sua voz, temos indicado o caminho para a porta. A passagem por ela nos traz paz, amor, confiança, sensatez, espírito de irmandade, pertencimento. Se compartilhamos desses sentimentos, sabemos qual foi a escolha feita. Ainda vivemos uma época, em que isso ainda é inconstante. Entramos e saímos por esse portal, o que indica alternância de sentimentos. O exercício recorrente nos permitirá no futuro alcançar permanência e constância. Os discípulos que primeiro reconheceram o Cristo vivenciavam a entrada por essa porta, embora ainda não conscientemente, o que explica o fato de não haverem compreendido a parábola. A vinda do Espírito Santo em Pentecostes, foi o primeiro sinal para a verdadeira compreensão, o que permitiu aos discípulos levarem adiante a boa nova. Que possamos nessa época de Pentecostes, reforçar o Espírito que atuou já faz mais de dois milênios sobre a consciência humana, permitindo-lhe potencialmente de fazer a escolha pelo verdadeiro caminho.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 25 de maio

“Então levaram aos fariseus aquele que tinha sido cego. Ora, foi num dia de sábado que Jesus tinha feito barro e aberto os olhos do cego. Por sua vez, os fariseus perguntaram ao homem como tinha recuperado a vista. Respondeu-lhes: ‘Ele aplicou barro nos meus olhos, e eu fui lavar-me e agora vejo!’ Alguns dos fariseus disseram então: ‘Esse homem não vem de Deus, pois não observa o sábado’; outros, no entanto, diziam: ‘Como pode um pecador fazer tais sinais?’ E havia divisão entre eles. Voltaram a interrogar o homem que antes era cego: ‘E tu, que dizes daquele que te abriu os olhos?’ Ele respondeu: ‘É um profeta’. Os judeus não acreditaram que ele tivesse sido cego e que tivesse começado a ver, até que chamassem os pais dele. Perguntaram-lhes: ‘Este é o vosso filho que dizeis ter nascido cego? Como é que ele está enxergando agora?’ Os seus pais responderam: ‘Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego. Como está enxergando, não sabemos. E quem lhe abriu os olhos, também não sabemos. Perguntai a ele; é maior de idade e pode falar sobre si mesmo.’ Seus pais disseram isso porque tinham medo dos judeus, pois estes já tinham combinado expulsar da sinagoga quem confessasse que Jesus era o Cristo. Foi por isso que os pais disseram: ‘Ele é maior de idade, perguntai a ele.’ Os judeus, outra vez, chamaram o que tinha sido cego e disseram-lhe: ‘Dá glória a Deus. Nós sabemos que esse homem é um pecador.’ Ele respondeu: ‘Se é pecador, não sei. Só sei que eu era cego e agora vejo.’ Eles perguntaram: ‘Que é que ele te fez? Como foi que ele te abriu os olhos?’ Ele respondeu: ‘Já vos disse e não me escutastes. Por que quereis ouvir de novo? Acaso quereis tornar-vos discípulos dele?’ Os fariseus, então, começaram a insultá-lo, dizendo: ‘Tu, sim, és discípulo dele. Nós somos discípulos de Moisés. Nós sabemos que Deus falou a Moisés; mas esse, não sabemos de onde é.’ O homem respondeu-lhes: ‘Isto é de admirar! Vós não sabeis de onde ele é? No entanto, ele abriu-me os olhos! Sabemos que Deus não ouve os pecadores, mas se alguém é piedoso e faz a sua vontade, a este ele ouve. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se esse homem não fosse de Deus, não conseguiria fazer nada.’ Eles responderam-lhe: ‘Tu nasceste todo em pecado e nos queres dar lição?’ E o expulsaram. Jesus ficou sabendo que o tinham expulsado. Quando o encontrou, perguntou-lhe: ‘Tu crês no Filho do Homem?’ Ele respondeu: ‘Quem é, Senhor, para que eu creia nele?’ Jesus disse: ‘Tu o estás vendo; é aquele que está falando contigo.’ Ele exclamou: ‘Eu creio, Senhor!’ E ajoelhou-se diante de Jesus. Então, Jesus disse: ‘Eu vim a este mundo para um julgamento, a fim de que os que não veem vejam, e os que veem se tornem cegos.’ Alguns fariseus que estavam com ele ouviram isso e lhe disseram: ‘Porventura também nós somos cegos?’ Jesus respondeu-lhes: ‘Se fôsseis cegos não teríeis culpa; mas como dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado permanece.’”

João 9, 13-41

Quem o cego de nascença teve à sua frente quando passa pelo processo da cura?
O “Eu Sou a luz do mundo” (Jo 8, 12). Logo após a cura, encontramos o que agora vê sendo questionado pelos fariseus. Às perguntas, responde com clareza e objetividade. Mesmo havendo em sua volta incredulidade (fariseus) e medo (pais), ele permanece seguro em seu relato. Poderíamos dizer: inabalável. Sua cura acontece em várias estações. Em uma delas, pronuncia:
“Isto é de admirar! Vós não sabeis de onde ele é? No entanto, ele abriu-me os olhos! Sabemos que Deus não ouve os pecadores, mas se alguém é piedoso e faz a sua vontade, a este ele ouve. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se esse homem não fosse de Deus, não conseguiria fazer nada”.
Com estas palavras tão precisas, assume a consequência de seu ato e é expulso da sinagoga. Isso poderia tê-lo deixado triste ou fora de si, no entanto permanece equilibrado e centrado em seu âmago, em seu cerne. É nesta situação que Jesus vem a ele e dá-se o precioso diálogo entre eles.
O cego e mendigo reconheceu o Eu Sou a luz do mundo. Preenchido por esta luz, pôde encontrar em si seu equilíbrio interior, até afirmar por si mesmo: “Eu Sou” (palavras pronunciadas somente pelo Cristo). O ser que agora vê, percebe aos poucos que esteve perante o “Eu Sou a Verdade” e esta verdade liberta (Jo 8, 31-32)
Liberto, preenchido de luz e seguro em si pôde passar pelas provas da incredulidade, do medo e da aflição à sua volta, sem deixar-se abalar. Seguiu seguro até a completude de sua cura quando Cristo o encontra e auxilia a trazer à consciência, o que ele já vivenciava no coração: “Crês no filho do Homem? O estas vendo, é quem fala contigo.” 
E fechando o círculo a magnífica resposta daquele que fora cego, pedia esmolas e  tornou-se um Eu Sou: “Creio, Senhor. E ajoelhou-se diante dele.”

Reconhecer a real verdade que liberta e não querer impor a nossa verdade. Perceber o quanto somos egoístas e desprovidos de eixo, nos coloca em processo de cura. Ao buscarmos em humildade a abertura de nossa visão interna, recebemos a luz do Cristo que esperança nosso gesto de boa vontade em sua direção. Talvez não será uma luz arrebatadora, mas aquela humilde e cálida flama no coração. Esta luz nos auxilia a equilibrarmos nosso cerne para nos aproximarmos do Eu Sou em nós. Assim preenchidos, caminharemos com maior segurança por todas as dificuldades, incredulidades, medos, negações à nossa volta.

Viviane Trunkle

Reflexão para o domingo, 24 de maio

Referente ao perícope João 16, 24-33

Antes da ascensão, antes mesmo de reaparecer após a ressurreição, Jesus se despediu de seus discípulos e em seu longo discurso de despedida no Evangelho de João, temos sua promessa que, apesar da dispersão e do sofrimento ao qual estariam sujeitos seus discípulos no mundo, eles deveriam ter na consciência que ele venceu o mundo. Jesus não negou que os discípulos no mundo tenham aflições e medo. No entanto, ele não queria tirá-los do mundo, mas queria enviá-los ao mundo como testemunha. Jesus ainda não havia sido crucificado e tampouco ressuscitado. Ainda assim, ele diz: “Eu venci o mundo.” Jesus viu a crucificação e a ressurreição como um fato, embora ainda não tivesse acontecido. A vitória da cruz e a ressurreição aconteceriam nos próximos dias, mas Jesus já via isso como um fato. Esse foi o ponto em que os discípulos tiveram mais problemas. Eles só podiam acreditar se algo já tivesse acontecido. Eles podiam acreditar quando viram por si mesmos. Agora era a hora de começar a acreditar. De fato, eles continuaram tendo dificuldade em acreditar. Eles mostraram isso quando Jesus os visitou após sua ressurreição. Eles duvidavam da ressurreição de Jesus, mesmo quando ele já havia ressuscitado. Jesus queria ajudar seus discípulos a acreditar no que haveria de acontecer. Enquanto vivemos neste mundo, sofremos do poder do mundo: morte, doenças, ódio, rejeição das pessoas, violência, catástrofes, conflitos, crises. Assim como seus discípulos, há momentos em que é difícil manter a confiança de que o poder da morte tenha realmente sido vencido, sobretudo quando ouvimos a cada dia uma contagem mórbida de mortes ao redor. Somente, quando mantemos na consciência a força da ressurreição de Cristo e a convicção de que ele ascendeu aos céus para, a partir das nuvens, das forças etéricas que encobrem a Terra, ele passar a estar disponível para cada um de nós como uma força espiritual, é que nos vem a força que garante ser a morte apenas física. A morte que ele venceu nos garante a vida eterna, e nos garante mesmo antes uma força espiritual de confiança de que o que há de prevalecer no futuro da humanidade é o elevar-se acima do vínculo sombrio com as forças da morte.
Assim, podemos manter a promessa de Jesus em nossos corações. “Mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” Ainda não podemos vencer o mundo, mas podemos acreditar que Jesus venceu o mundo. Temos medo no mundo, mas podemos vencer o medo, porque Jesus é o Senhor do mundo. Em Jesus, podemos ter paz, não importa o que aconteça. O que devemos superar? O que nos assusta? Superamos o medo pela força do Cristo em nós, não meramente pela fé, mas também pela vivência interior do Cristo, ela passa a ser um conhecimento, um reconhecimento, pois desperta em nós a força imbatível do amor que é justamente o contrário do medo e que o impede de penetrar em corações plenos do Cristo. Ele conquistou o mundo para nos dar essa vitória. Ele ressuscitou para que possamos ter vida eterna. Jesus amou seus discípulos até o fim e os ajudou a confiar nele, para que pudessem ter paz nele. A partir dessa convicção, podemos ser testemunhas de que Jesus é o vencedor do mundo. Também podemos compartilhar sua vitória, percebendo-a em nossa vivência de sua presença. Somos vitoriosos porque compartilhamos sua vitória.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 23 de maio

“Jesus ia passando, quando viu um cego de nascença. Os seus discípulos lhe perguntaram: ‘Rabi, quem pecou para que ele nascesse cego, ele ou seus pais?’ Jesus respondeu: ‘Nem ele, nem seus pais pecaram, mas é uma ocasião para que se manifestem nele as obras de Deus. É preciso que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia. Vem a noite, quando ninguém poderá trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.’
Dito isso, cuspiu no chão, fez barro com a saliva e aplicou-a nos olhos do cego. Disse-lhe então: ‘Vai lavar-te na piscina de Siloé’(que quer dizer: Enviado). O cego foi, lavou-se e voltou enxergando.
Os vizinhos e os que sempre viam o cego pedindo esmola diziam: ‘Não é ele que ficava sentado pedindo esmola?’ Uns diziam: ‘Sim, é ele.’ Outros afirmavam: ‘Não é ele, mas alguém parecido com ele.’ Ele, porém, dizia: ‘Eu sou.’
Então lhe perguntaram: ‘Como é que se abriram os teus olhos?’ Ele respondeu: ‘O homem chamado Jesus fez barro, aplicou nos meus olhos e disse-me: ‘Vai a Siloé e lava-te’. Eu fui, lavei-me e comecei a ver.’ Perguntaram-lhe ainda: ‘Onde ele está?’ Ele respondeu: ‘Não sei.’”

João 9, 1-12

Os olhos são muito importantes para a nossa relação com o mundo. Através deles nos ligamos com todo nosso redor e recebemos uma ampla escala de informações e impressões. Necessitamos deles para atuar e trabalhar. No encontro com outro ser humano, os olhos revelam algo do ser interior do outro. Os olhos são como o limiar entre o mundo exterior e interior. Para ver algo, precisamos da luz do dia. Na escuridão os olhos perdem sua capacidade e a noite nós os fechamos.
Para nossa relação com o mundo espiritual também precisamos de olhos. O escritor francês Jacques Lusseyran, que perdeu a visão na infância, contou em sua biografia ‘Memorias de Vida e Luz’ como conseguiu superar a cegueira. Pouco a pouco ele aprendeu a enxergar com os olhos internos, os olhos da alma. Ele descobriu uma luz interna. Ele percebeu que essa luz só estava presente enquanto ele tinha coragem, confiança e paz. Ira, insegurança e agitação da alma o deixavam imediatamente na escuridão.
Nós também temos a possibilidade de abrirmos os olhos da alma e descobrir a luz interna. Cristo quer ser a luz do dia para os olhos da alma. Para isso ele nos mostra um caminho de coragem, confiança e paz. Ele nos ensina a aceitar e enfrentar os desafios de cada dia com coragem, e a termos confiança de que eles tem um sentido em nossa vida. E ele nos alerta a não esquecermos, nos obstáculos da vida, que o mundo físico não é nosso único lar.

“No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo.”
(João 16, 33)

Pouco a pouco podemos descobrir a luz interna e abrir os olhos da alma. Os olhos e a luz que não dependem do mundo físico. Eles nos mostram o nosso ser espiritual que sempre tem um lar no mundo espiritual.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 22 de maio

“Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: ‘Não dizemos nós bem que és samaritano, e que tens demônio?’
Jesus respondeu: ‘Eu não tenho demônio, antes honro a meu Pai, e vós me desonrais. Eu não busco a minha glória; há quem a busque, e julgue.
Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.’
Disseram-lhe, pois, os judeus: ‘Agora conhecemos que tens demônio. Morreu Abraão e os profetas; e tu dizes: Se alguém guardar a minha palavra, nunca provará a morte. És tu maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? E também os profetas morreram. Quem te fazes tu ser?’
Jesus respondeu: ‘Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória não é nada; quem me glorifica é meu Pai, o qual dizeis que é vosso Deus. E vós não o conheceis, mas eu conheço-o. E, se disser que o não conheço, serei mentiroso como vós; mas conheço-o e guardo a sua palavra. Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se.’
Disseram-lhe, pois, os judeus: ‘Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão?’
Disse-lhes Jesus: ‘Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou.’
Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou.”

João 8, 48-59

Essa conversa ainda impõe a decisão a todas as pessoas depois de dois mil anos: cremos ou não em Jesus Cristo? Confiamos ou não em suas palavras – sim ou não? Não há meio termo. Se Jesus não fosse realmente o Filho de Deus, se ele não fosse um Deus verdadeiro desde a eternidade, suas palavras nesta conversa obviamente seriam absurdas. Jesus só é credível para aqueles que confiam nele completamente, que se rendem completamente a ele, que subordinam sua mente e sua sabedoria às suas palavras. Que não tenhamos dúvidas quando ele também nos diz: “Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte”. O capítulo que começou com a intenção dos guardiões da lei de apedrejar a mulher adúltera, termina com sua intenção de apedrejar o próprio Cristo. Ele vai da afirmação do “Eu Sou a Luz do Mundo” para a afirmação “Antes que Abraão existisse, Eu Sou”. Eis a reafirmação do “Eu Sou” daquele que “É” desde o tempo primordial, o Princípio – Arché. Quem é eterno não está sujeito às condições do espaço e do tempo e pode desaparecer da vista daqueles que não tem consciência do “Eu Sou”. Hoje nós também não o podemos apreender numa consciência cotidiana comum. O crer não pode ser uma fé cega, mas iluminada pela luz do entendimento, e essa só e acessível a partir de um trabalho interior. O Logos só é apreensível pelo Logos – o pensar puro. Aprendendo o “Eu Sou” pelo pensar puro, nos tornamos quem realmente somos.

Carlos Maranhão