Referente à perícope do Evangelho de João 20, 10-29
No dia da ressureição, o Redentor aparece de diferentes formas aos seus discípulos, incluindo às mulheres. Abre pouco a pouco os sentidos humanos para perceberem a realidade da ressureição, do Jesus Cristo Ressuscitado. As narrativas dos quatro evangelistas são todas bem diferentes.
Alguns recebem a mensagem da ressureição, ao levantar do sol, quando estavam a caminho do túmulo e o encontram aberto e vazio. A grande pedra que fechava o túmulo havia sido removida, causando grande espanto.
Outros vão vê- lo no final da tarde, em comunidade, quando Ele aparece apesar das portas fechadas no aposento da Última Ceia, mostra suas feridas e confere o novo sopro de vida.
Podemos nos admirar como Ele se manifesta de diversas maneiras. Ele é anunciado na existência dos que já eram seus discípulos e se tornaram as primeiras testemunhas da ressureição, pelo sol nascente, pela pedra removida, pela mensagem dos anjos e, enfim, pela revelação do próprio corpo da ressureição. Esse testemunho é um ponto de mudança crucial nas suas vidas, mas também na vida da humanidade, que a partir de então acolhe o impulso do cristianismo na sua evolução. Podemos constatar nisso uma força crescente da ressureição, uma ligação cada vez mais íntima com a alma humana, com a humanidade e com a Terra. Se estendermos isso aos dias de hoje, poderíamos dizer que com a expansão do impulso do cristianismo, Jesus Cristo Ressuscitado – que nos acompanha até o final dos tempos – pode vir a aparecer a muitas pessoas, segundo a própria configuração de suas almas e vida, em cada caminho individual.
No capítulo 20 do Evangelho de João, lemos que Maria Madalena é a primeira a encontrar o túmulo vazio e, preocupada, comunica o fato a Pedro e João, que então correm até o local, cada um a seu modo. Constatam, então, que os panos de sua mortalha e o véu do seu rosto estão depostos em lugares diferentes. João, o Lázaro ressuscitado, simplesmente ao ver as faixas da mortalha desenroladas no túmulo já sabe que Ele ressuscitou.
Maria Madalena permanece por um momento no local e ouve, sucessivamente, a mesma pergunta: “Mulher, por que choras?” Primeiro, dos dois anjos posicionados à cabeceira e aos pés do lugar onde Jesus Cristo havia sido deposto; depois, ao se voltar, daquele que inicialmente toma por um jardineiro. Este, além de repetir a pergunta, acrescenta: “A quem procuras?” Ao ouvir sua resposta, Ele a chama pelo nome: “Maria”. Então, ela responde: “Mestre” e o reconhece. Ela, que antes da morte na cruz havia ungido e preparado seu corpo para a ressurreição, e que também permaneceu como testemunha ao pé da cruz, é a primeira a vê-lo sozinha, quando Ele, no jardim do túmulo, pronuncia o seu nome. Ao ser chamada, Maria sente-se reconhecida pelo espírito do Cristo e, com os olhos da alma, é capaz de vê-lo ressuscitado.
Todos esses encontros podem viver nos nossos corações como arquétipos do encontro com Jesus Cristo ressuscitado. Cada alma humana já recebeu anúncios, mensagens desse acontecimento central na história da Terra e da humanidade. Cada alma humana está a caminho de se ligar mais intimamente com a realidade da ressurreição e colaborar na obra divina na Terra. Comunidades que em suas celebrações se reúnem para vivenciar a presença e atuação de Jesus Cristo podem e poderão receber o sopro de vida do Redentor.
As perguntas de Jesus Cristo Ressuscitado ressoam até hoje para cada alma humana: “Por que choras?” e: “A quem procuras?”. O sentido de todo sofrimento se abrirá, quando ouvirmos a voz de Jesus Cristo pronunciar o nosso próprio nome e o reconhecermos como o nosso guia, o nosso mestre em todos os caminhos da vida.
Helena Otterspeer