Conto: A fazenda no deserto

Ebraim era um garoto muito esperto que vivia na beira do deserto. Ele sempre sonhava que um dia ele seria um fazendeiro. Ele queria ter uma fazenda com árvores de frutas, flores e vacas.
Quando ele contava isso para os seus amigos, todos riam dele, pois no deserto não é possível ter uma fazenda. E quando ele contava seu sonho para seus pais, eles procuravam consolar Ebraim e convencê-lo que o melhor seria ele se tornar um pastor de cabras, como seu pai.
Quando Ebraim se tornou um jovem, ele decidiu atravessar o deserto para ver se em alguma parte do deserto ele encontraria um lugar para formar a sua fazenda. Ele pegou a sua mochila com algo para comer e água para beber, se despediu dos pais e dos amigos, e começou sua caminhada para atravessar o deserto. Tristes, todos olharam como ele desapareceu no horizonte, e sua mãe chorou convicta de que ele não sobreviveria e que ela, assim, nunca mais iria vê-lo.
Por muitos dias Ebraim prosseguiu no seu caminho. Durante o dia o sol parecia querer assá-lo, durante a noite, ele sofria com o frio. A comida que ele levara consigo acabou, e a água também. Ele começou a pensar que realmente morreria.
Mas quando já estava tão fraco que ele quase não conseguia mais andar, ele avistou uma palmeira no horizonte. Com as últimas forças que tinha, ele caminhou até lá e chegou a um oásis. Havia lá três palmeiras de tâmaras e o chão entre as tamareiras estava úmido e se formou uma pequena poça d’água, suficiente para ele beber. As tâmaras que ele achou no chão, ele comeu e dormiu sob as sombras das tamareiras.
Ele dormiu até o outro dia e acordou disposto. Comeu tâmaras, bebeu da poça e ficou pensando no que fazer. Primeiro ele cavou para que a poça ficasse mais funda. Quanto mais ele cavava, mais água surgia. Não demorou muito e ela havia se tornado um laguinho profundo, com mais água do que ele precisava. Das folhas velhas das tamareiras ele fez uma cabaninha e lá ficou morando. A cabaninha não ficava ao lado do laguinho. Assim ele tinha que levar a água do laguinho até a cabaninha e sempre caia um pouco de água pelo caminho.
Um dia, quando ele levantou, ele viu com espanto que o caminho estava cheio de folhinhas verdes. Sementes que estavam escondidas na areia haviam brotado com a água que ele havia derramado no caminho. Quando ele percebeu que no deserto existem sementes escondidas, começou a regar em volta do laguinho e em volta do oásis. E quanto mais ele regava, tanto mais verde surgia. Não demorou muito e apareceram as primeiras flores. Ele continuou cavando o laguinho e fez um poço bem profundo, que lhe dava muita água.
Ebraim já vivia algum tempo lá, tinha água, se alimentava de tâmaras e de algumas plantas que lá haviam crescido. Ele melhorou a cabaninha o melhor que pôde e o seu oásis era pequeno mas lindo, verde e com flores.
Um dia ele avistou no horizonte três camelos que se aproximavam em uma pequena caravana. Quando eles chegaram, Ebraim percebeu que os homens que montavam os camelos estavam amarrados nas celas, dependurados, quase mortos de sede. Ele segurou os camelos, que atraídos pela água tinha encontrado o oásis, baixou os animais e soltou os homens das celas. Deixou os camelos beberem e deu água aos homens, de gota em gota.
Demorou algum tempo até que os homens voltaram a si e contaram para Ebraim que eles tinham se perdido no deserto e, como estavam quase morrendo de sede, tinham se amarrado nos camelos e deixado os animais soltos na esperança de que eles encontrassem um oásis. Ebraim cuidou deles. Deu água e tâmaras para eles. Mas eles tinham também muitas coisas consigo para comer e só lhes faltava água.
Muito gratos, eles deram algumas moedas de ouro para Ebraim, um saco de grãos de trigo, algumas ferramentas, um balde, panelas, e outras coisas. Eles partiram e agora Ebraim começou a fazer valetas onde a água podia correr e formar um campo que podia regar, e plantou o trigo.
Não demorou muito tempo e uma outra caravana veio. Não vieram por acaso. Tinha ouvido falar pelos outros que havia este pequeno oásis no deserto com seu dono tão amável. E assim, o oásis de Ebraim se tornou um ponto de parada de muitas caravanas. Ele comprava alimentos de alguns e vendia para outros. Comprava mudas de plantas e árvores e assim foi aumentando o seu oásis. Construiu uma casa e depois de um ano colheu sua primeira safra de trigo.
Tornou-se um lugar tão gostoso que outros quiseram morar lá e ajudar ele com o trabalho. Depois de algum tempo Ebraim comprou até uma vaca. Com o estrume da vaca ele fazia composto e adubava a terra do deserto. E assim ele realizou o seu sonho de ter uma fazenda, no meio do deserto. Hoje esta fazenda é muito grande, com centenas de tamareiras, campos de trigo, muitas vacas, árvores e flores.
De Ebraim podemos aprender que de um deserto é possível fazer uma fazenda.
João F. Torunsky